Início do conteúdo

06/12/2007

Seminário propõe diálogo entre diversas áreas do conhecimento com base na teoria da evolução

Renata Moehlecke


Debater e levantar reflexões sobre as interações entre fenômenos biológicos e socioculturais, entre natureza e cultura (nurture), que contribuam para produzir o comportamento humano. Esse é o principal objetivo do seminário Darwinismo ativo – Implicações da teoria da evolução para a vida humana, uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa Oswaldo Cruz (COC). O evento, aberto nesta quinta-feira (6/12), terá continuidade na sexta-feira (7/12), no auditório do Museu da Vida da Fiocruz. O objetivo é reunir especialistas de diversas áreas do conhecimento, como biologia, medicina, filosofia, sociologia, psicologia, antropologia e história da teoria da evolução, para um confronto de posições sobre o tema.



“A intenção é chamar a atenção para questões híbridas, que vão ficar em evidência nos próximos dois anos com as comemorações de 150 anos da primeira edição da Origem das espécies de Charles Darwin”, afirma o organizador do encontro e pesquisador da COC, Ricardo Waizbort. “Não se pretende chegar a um consenso, mas dar um primeiro passo para a mobilização de estudantes e pesquisadores em relação à existência e a importância da teoria da evolução e promover o debate”.


Para discutir foram convidados diversos especialistas de renomadas instituições de ensino brasileiras, como a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O evento é indicado para alunos de final de graduação, de pós-graduação e pesquisadores. Mas as inscrições, que eram gratuitas e podiam ser feitas por e-mail, estão esgotadas.


Palestrantes da primeira manhã do evento defendem o hibridismo natureza e cultura


O biólogo Ricardo Waizbort, vinculado à COC, foi o responsável pela apresentação de abertura do evento. O pesquisador procurou descrever, de maneira sucinta e didática, os diversos estudos sobre a teoria da evolução desde o seu surgimento, com naturalista Charles Darwin, em 1859 (mas sem desconsiderar o pensamento de Lamarck e suas teorias, que influenciaram os estudos de Darwin). Após o resumo explicativo, Waizbort dividiu algumas de suas reflexões sobre a “evolução” das espécies. “A idéia de que a sobrevivência é dos mais aptos em todos os níveis possíveis é perigosa, pois a aptidão é relativa e pode depender do âmbito cultural, histórico e ambiental”, comentou. 


O pesquisador também citou a polêmica controvérsia entre natureza e cultura (nurture) que envolve a discussão e que acarreta em uma oposição entre elementos naturais e ambientais (culturais) como possíveis causas para o comportamento humano. “Não concordo com essa oposição”, disse. “Acredito na união dos dois aspectos.” Ele concluiu sua exposição apontando que, atualmente, a vida pautada na idéia de “bem-estar social” pode ter amenizado a seleção natural.  E levantou uma questão para reflexão: “em que estágio nós, seres humanos, abandonamos o mundo natural?”


A segunda palestra da manhã foi do filósofo Paulo Abrantes, da UnB. O pesquisador trabalhou o que ele chama de caráter anômalo da evolução humana, sendo a anomalia um problema que resiste a ser resolvido com base nos modelos de soluções existentes. Para ele, o darwinismo seria um desses moldes instrumentais. Mas Abrantes propõe que a solução pode estar em um modelo de coevolução gene-cultura. “A cultura não está no cabresto genes”, afirmou. “Há um mutualismo entre ambos.” O filósofo explicou que, para ele, a aptidão biológica humana é afetada pelas diversas variantes culturais que podem ser assimiladas. Para exemplificar sua idéia, ele citou o caso da tolerância a laticínios por parte de alguns indivíduos. “Aqui, cultura é a causa, pois foi o hábito de tomar esses produtos que permitiu o desenvolvimento de genes capazes de assimilar a lactose em alguns indivíduos”.

Voltar ao topo Voltar