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20/08/2007

Serviço de Enfermagem do Ipec ganha prêmio em congresso

Isis Breves


O Serviço de Enfermagem do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), uma unidade da Fiocruz, ficou com o 3° lugar no 1º Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas, organizado pela Sociedade Brasileira de Enfermagem em Feridas e Estéticas, com o trabalho HTLV1: Um desafio a mais no processo de cicatrização das úlceras por pressão. O artigo será publicado em revista indexada e será tema de um capítulo da publicação de um livro na Espanha. O trabalho faz parte das pesquisas da Comissão de Curativos, que foi instituída por uma portaria da direção do Ipec. Para falar sobre a Comissão de Curativos, a Agência Fiocruz de Notícias entrevistou o seu coordenador, o enfermeiro e fisioterapeuta Antenor Lucio dos Santos.


 Antenor: a prevenção e o tratamento de feridas são temas de compreensão multidisciplinar (Foto: Ana Limp)

Antenor: a prevenção e o tratamento de feridas são temas de compreensão multidisciplinar (Foto: Ana Limp)


AFN: Segundo a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, os pacientes portadores de feridas ulcerativas, cirúrgicas ou traumáticas apresentam um aumento de tempo de internação e conseqüentemente o desenvolvimento de infecções hospitalares, onerando assim os custos hospitalares. O Ipec criou uma Comissão de Curativos coordenada pelo Serviço de Enfermagem. Quais as finalidades da Comissão? De que forma a Comissão de Curativos pode auxiliar no combate a estas questões apresentadas pela Secretaria de Saúde?

Antenor Lucio:
O projeto para a implantação da Comissão tem como objetivos específicos selecionar profissionais de saúde para formar a comissão de curativos, reduzir o período de internação de pacientes portadores de feridas, diminuir os riscos de infecção hospitalar, amenizar o estresse do paciente e da equipe durante o período de internação e permitir a implantação de ações sistematizadas, para gerar economia de recursos e benefícios significativos. Ou seja, padronizar o procedimento do curativo, as maneiras de prevenir o aparecimento de feridas na internação e as ações de manejo e armazenamento dos produtos utilizados para evitar a contaminação cruzada, que são fatores de grande impacto na infecção hospitalar, além de ser um indicador para que possamos zerar o aparecimento de feridas dentro do hospital. Além disso, serão feitos ensaios clínicos de produtos usados para a eficácia da cicatrização e a prevenção das feridas.


AFN: Qual é a importância da Comissão de Curativos no tratamento de doenças infecciosas? De acordo com a Comissão, a conduta terapêutica no tratamento de uma lesão cutânea, ou seja, a ferida, não deve ficar restrita a fazer ou trocar um curativo.

Antenor: Especialmente em algumas doenças infecciosas os sintomas são o aparecimento de feridas. A leishmaniose tegumentar, por exemplo, é a forma da doença que afeta a pele, causa úlceras no rosto, nos braços e pernas, o que resulta em sérias deficiências físicas e problemas sociais. Por isso a importância da comissão para fazer pesquisas de procedimentos adequados para doenças infecciosas. A avaliação e assistência serão direcionadas com base nos procedimentos do manual da Comissão de Curativos.


AFN: Pacientes que adquirem doenças que atuam na parte motora ou neurológica do organismo, como é o caso do HTLV, podem desenvolver feridas conhecidas como escaras por ficarem a maior parte do tempo deitados ou sentados em cadeiras de rodas, sem qualquer movimentação. De que maneira a Comissão de Curativos atua nesses casos, para obter a fisiologia da cicatrização?

Antenor:
O HTLV1 é a forma da doença que provoca a mielopatia, ou seja, uma inflamação na medula espinhal causada pelas células infectadas pelo vírus do HTLV. Os pacientes que sofrem da doença vão perdendo os movimentos, ficando acamados ao longo do tempo, com incontinência urinária, entre outros sintomas. Esse quadro é propício ao aparecimento de ferida, úlceras e escaras. Foi sobre este problema que fizemos o estudo apresentado no Congresso de Feridas e que conquistou a premiação. Além dos procedimentos tópicos com curativos e produtos para cicatrização, introduzimos a fisioterapia como forma de prevenção. A massoterapia local, o uso de colchões adequados, a observação diária do paciente e as orientações educativas, para serem feitas em casa, evitam o aparecimento de feridas.


AFN: A prevenção e o tratamento de feridas são temas multidisciplinares. O enfermeiro é quem lida diretamente com o problema, mas, há a necessidade de integração com outros profissionais, como médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sócias e também os familiares. Qual a importância de interligar todas as áreas de atendimento do paciente, inclusive os seus parentes, na prevenção e tratamento de feridas? Como a Comissão de Curativos lidera essa questão?

Antenor:
O projeto da Comissão de Curativos do Ipec foi baseado no projeto pioneiro da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, porém adaptando os estudos e procedimentos para as doenças infecciosas tratadas na unidade. E, realmente, a prevenção e o tratamento de feridas são temas de compreensão multidisciplinar. Por isso, na comissão do Ipec temos representantes de todas as áreas envolvidas: enfermeiras do ambulatório, da internação e do Hospital-Dia, local onde os pacientes recebem a medicação e tratamento diário. Além disso, contamos com representantes da fisioterapia, nutricionista, do controle de infecção hospitalar, dermatologista, infectologista da internação e farmacêutico.


A observação, os procedimentos adequados, a avaliação medicamentosa, o manejo e o armazenamento dos produtos, a estimulação motora e a alimentação influenciam na prevenção e tratamento das feridas de pacientes de doenças infecciosas. Por isso, a importância de integração das áreas, cada uma com seu protocolo de condutas com a mesma finalidade. O conjunto multidisciplinar do atendimento do paciente é que resulta na eficácia do tratamento, que não se restringe ao tratamento no hospital. A proposta é educar o paciente para que em casa os cuidados tenham continuidade.

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