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14/05/2013

Serviço de Psicologia Médica auxilia quem precisa de ajuda para superar as dificuldades da maternidade

Irene Kalil


A maternidade é um processo que costuma trazer com ele muitas inquietações, angústias e até mesmo emoções contraditórias. Segundo a pediatra e terapeuta familiar Maria Martha Moura e a psicóloga Sandra Carneiro, que atuam no Serviço de Psicologia Médica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), não apenas a mulher, mas o casal chega à gravidez com a bagagem de sua própria experiência de vida e dos cuidados que recebeu na infância. Esse é um momento que suscita emoções boas e ruins que virão à tona na trajetória de preparação para cuidar de uma criança, período chamado de parentalização. Por isso, compartilhar dúvidas e sentimentos ambivalentes com a família e amigos pode ser uma forma de ajudar a vivenciar mais tranquilamente essa experiência.


 Clarice Santos, internada no Alojamento Conjunto, paparica Isabella, de apenas 5 dias de vida

Clarice Santos, internada no Alojamento Conjunto, paparica Isabella, de apenas 5 dias de vida





Algumas pessoas, no entanto, podem necessitar do auxílio de um profissional especializado para superar as dificuldades envolvidas no processo. No IFF, o perfil das usuárias atendidas é bastante específico: mulheres que enfrentam uma gravidez de risco, na maioria das vezes, fetal ou que vivenciam a experiência de terem filhos portadores de doenças crônicas, que têm de permanecer internados ou vão para a casa somente com a ajuda de aparelhos. “Essas situações são extremamente difíceis de serem vividas. Salientamos que são esperados momentos de profunda tristeza, desesperança e frustração, mesclados com sentimentos positivos e transformadores. O psicoterapeuta pode ajudar muito nesses casos e todos os profissionais envolvidos na assistência àquele usuário podem apontar a necessidade de seu encaminhamento para um atendimento psicológico”, afirma Sandra.



O apoio psicológico, que pode ser individual, para o casal ou coletivo, é oferecido em diversos momentos: atendimento psicoterápico ambulatorial durante a gravidez, por encaminhamento de profissionais do pré-natal ou demanda espontânea da paciente; grupos de sala de espera para pacientes que chegam ao hospital para confirmação de problemas fetais por ultrassonografia; atividades em grupo ou individuais com mulheres que estão na Enfermaria de Gestantes e no Alojamento Conjunto e mães que têm seus filhos internados nas enfermarias pediátricas; bem como grupo pós-natal com casais que perderam os filhos ou atendimentos ambulatoriais posteriores.


 Simone Vitorino, mãe de Yoham, de 1 ano, ajuda no cuidado com o filho, internado na Unidade Intermediária (UI)

Simone Vitorino, mãe de Yoham, de 1 ano, ajuda no cuidado com o filho, internado na Unidade Intermediária (UI)





Para as profissionais do Serviço de Psicologia Médica, propiciar espaços para que as mulheres expressem sentimentos, compartilhem experiências e mesmo vivenciem momentos em grupo é fundamental. A oficina de artes, que trabalha bordado, origami, argila e outras técnicas na maternidade, é um exemplo disso. Segundo Martha, o apoio psicológico pretende contribuir na construção dos vínculos. “É um golpe muito grande gerar uma criança imperfeita. Uma gravidez com problemas afeta a qualidade dos vínculos pais-bebê e o trabalho emocional nesse período ajuda a resgatar e estabelecer vínculos possíveis. Também a qualidade dos vínculos entre profissionais e usuários pode interferir positivamente no processo de parto e nascimento e na qualidade do cuidado com os pequenos pacientes”, conclui.



Diferentes experiências de maternidade, a mesma dedicação



“Eu nem sabia que estava grávida, descobri já ia fazer 3 meses [de gestação]. Aí a moça para quem eu trabalho me indicou o IFF e disse que era muito bom. Como eu estava com diabetes gestacional, consegui a vaga e passei a fazer meu pré-natal aqui. O atendimento é muito bom, eu não tenho o que dizer. Correu tudo bem, o diabetes ficou controlado e o parto aconteceu quando eu já estava com 39 semanas. Eu queria uma cesariana, mas ainda bem que foi normal. Eu vejo outras meninas [no Alojamento Conjunto] que mal conseguem andar, e eu, na mesma hora, nem parecia. (...) A experiência [da primeira filha] é maravilhosa. Agora eu entendo mais a minha mãe. Porque, quando se é mãe, é outra coisa, é um sentimento que não tem explicação, eu, pelo menos, não consigo explicar. É maravilhoso ser mãe”.



Clarice teve contato com o Serviço de Psicologia Médica no pós-parto e achou importante saber que existe esse apoio no hospital. “Isso faz toda a diferença, fico muito mais tranquila”. A amamentação foi difícil no início. Clarice conta que pensou que não tivesse leite e sentiu-se bastante angustiada. Agora, o processo já se normalizou e a Isabella está sendo alimentada com leite materno diretamente no seio. Ela ainda não pôde ir para casa porque a pequena está em fototerapia para melhorar de uma icterícia – síndrome muito comum em recém-nascidos após um ou dois dias do parto, caracterizada pela coloração amarelada da pele e mucosas que se deve ao aumento de uma substância chamada bilirrubina no organismo. Mas espera que Isabella possa comemorar 1 semana de vida no quartinho preparado com amor para a sua chegada.


“O Yoham nasceu prematuro, de 32 semanas, em outro hospital, e a médica falou pra mim que ele teria de fazer uma cirurgia. Mas eu não sabia a gravidade do problema. Então, uns cinco dias depois do parto, eu consegui a vaga aqui. Ele teve de ser encaminhado para cá e, a partir do momento que chegou, foi a melhor coisa pra ele. O atendimento é ótimo e o neném hoje está bem, mas já passou por seis cirurgias. Fez gastrostomia [abertura feita no estômago para o meio externo por intervenção cirúrgica para facilitar a alimentação enteral e administração de líquidos quando isso não é possível por via oral] e traqueostomia [abertura na garganta para permitir a passagem de ar]. Quando o médico disse que ele ia ter de fazer um buraquinho no pescoço para sair a saliva e um na barriga para ele se alimentar, aquilo pra mim foi o fim. Porque a gente que tem nosso filho espera que ele nasça bem, com saúde, e eu não sabia dos vários riscos que ele corria nas próprias cirurgias. Eu saí daqui desesperada, chorando muito, mas procurei forças em Deus”.



Yoham, que completou 1 ano no último dia 3/5, já passou pelas enfermarias da Neocirúrgica, Pediatria e está há cerca de seis meses na Unidade Intermediária (UI) do Instituto, onde Simone participou de grupos com profissionais do Serviço de Psicologia Médica e as mães. Todos os dias, apesar da rotina corrida, ela vem ao hospital, ajuda nos cuidados com o filho e tenta tornar o dia a dia dele mais alegre, driblando os limites impostos por sua condição de saúde e pela internação. E comemora os efeitos mais evidentes do seu esforço: o filho assiste atentamente aos DVDs infantis que ela traz e põe para reproduzir num aparelho portátil, sorri quando ela chega para visitá-lo e está ficando bem espertinho, nas palavras dela, como é de se esperar de uma criança da idade dele. Apesar de ainda não ter previsão de alta, Simone acredita que o filho é, hoje, uma criança feliz. “Eu vejo felicidade nos olhos dele”, conclui a mamãe.


Publicado em 10/5/2013.

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