Início do conteúdo

15/04/2019

Simpósio aborda tecnologias e modelos de negócio em pesquisa

Lucas Rocha e Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)


Sob o mote Ações inovadoras para a produção científica, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizou, por meio de sua vice-diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (VDPDTI/IOC), a quarta edição do Simpósio de Pesquisa e Inovação do IOC. Especialistas brasileiros e estrangeiros participaram das atividades do primeiro dia do simpósio, realizadas na última quarta-feira (10/4), na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro. A iniciativa contou com o apoio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Swissnex Brazil, agência da Secretaria do Estado da Suíça para Educação, Pesquisa e Inovação, gerenciada pelo Consulado Geral da Suíça no Rio de Janeiro e em São Paulo. Por conta das fortes chuvas na cidade do Rio de Janeiro, as atividades previstas para terça-feira (9/4) foram canceladas e serão remarcadas em data a ser anunciada.

Na cerimônia de abertura, o diretor do IOC/Fiocruz, José Paulo Gagliardi Leite, chamou atenção para os desafios impostos pelo cenário de restrição orçamentária no país para o desenvolvimento técnico-científico e destacou a importância de movimentos contra o corte de verbas para a pesquisa. Ele ressaltou a recente nota em relação aos cortes orçamentários elaborada pelo Conselho Deliberativo da Fiocruz e o manifesto de apoio produzido pela Diretoria do IOC que reitera a Carta de Sobral, documento elaborado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) sobre a necessidade de investimentos em Educação, Saúde Pública e em Ciência, Tecnologia & Inovação. Segundo José Paulo, identificar e contornar os gargalos institucionais são passos importantes para alavancar o processo de inovação. “A Lei de Inovação é uma oportunidade para fazermos mudanças e bons acordos – uma das maneiras importantes para o financiamento da ciência, tecnologia e inovação. Mas, para avançarmos, precisamos superar os gargalos institucionais que temos hoje”, destacou. 

O coordenador da Plataforma de Apoio à Pesquisa e Inovação (Papi) do IOC/Fiocruz, Carlos Eduardo Rocha, lembrou a importância da nova legislação no amparo ao desenvolvimento da inovação. “Esse é um momento importante para a discussão do tema. Em 2018, foi publicado o decreto que regulamentou o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação. Em ato contínuo, a Fiocruz editou a sua política institucional de inovação. Em larga medida, esse evento busca conectar essas ações, do ponto de vista da legislação e da discussão técnico-científica”, complementou.

Já a diretora-executiva da Swissnex Brazil, Maria Conti, também presente na mesa de abertura, apresentou um panorama da atuação da agência suíça, cuja missão é estabelecer intercâmbio de conhecimentos e ideias relacionadas às áreas da educação, pesquisa e inovação. “A co-criação faz parte da nossa missão. Convidamos cientistas e especialistas da área de inovação no Brasil para o fortalecimento de laços e a descoberta de potenciais parcerias entre os dois países”, explicou Conti. Em novembro de 2018, o IOC/Fiocruz e a Swissnex Brazil assinaram um memorando de entendimento para futuras parcerias nas áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), marcando o estreitamento de laços entre as duas instituições. “Hoje é um dia especial porque estamos consolidando a criação de uma parceria que está sendo desenhada pelos dois lados e que vai continuar crescendo de forma muito competente. As coisas funcionam melhor quando ambas as partes estão comprometidas com o desenvolvimento dos países dos quais fazem parte”, ressaltou Jonas Perales, vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC/Fiocruz.

Caminhos até o produto final

Novas tecnologias e modelos de negócios embasaram as discussões da mesa-redonda Tecnologia e Pesquisa em Saúde, coordenada pelo pesquisador Marcelo Pelajo Machado, chefe do Laboratório de Patologia do IOC/Fiocruz. A apresentação de projetos desenvolvidos a partir de colaborações entre diferentes parceiros foi o foco do diretor de tecnologia médica no Parque Suíço de Inovação Biel/Bienne, Raniero Pittini. Segundo ele, acordos entre centros de pesquisa, universidades, investidores e a indústria são fundamentais para impulsionar o desenvolvimento da inovação no país europeu. Ele destaca que, a criação de um novo produto deve levar em consideração possíveis clientes, pesquisas de mercado e o envolvimento de investidores. Para a conquista de financiadores, o pesquisador destaca que são necessários bons modelos de negócio e planos de exploração, fortes parceiros de pesquisa para o desenvolvimento de um produto ou serviço, avaliação cuidadosa dos riscos e medidas de mitigação adequadas e planos detalhados de investimentos e custos operacionais.

Já o professor da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Flávio Codeço, abordou possibilidades para o desenvolvimento de pesquisas e de instrumentos de saúde pública a partir do uso da ‘blockchain’, a tecnologia por trás do ‘bitcoin’. Codeço explicou que a ‘blockchain’ armazena diferentes tipos de transações em blocos, protegidos por uma criptografia, com registros espalhados em vários computadores. O mecanismo torna rastreável qualquer tipo de alteração e dificulta tentativas de fraude. Por ser público, o sistema permite a qualquer pessoa verificar as movimentações realizadas. Especialista em modelagem matemática, estatística e computacional de doenças infecciosas, o professor apresentou dois estudos voltados à ciência e saúde baseados no uso da tecnologia: um projeto que sugere a descentralização do processo de revisão por pares na publicação de artigos científicos e uma proposta para otimizar o registro e acompanhamento do sistema de notificação de agravos.

E falando em inovação, o encontrou recebeu a doutoranda do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná), Stephanie Morais, que apresentou uma nova molécula com potencial para aprimorar o tratamento da leucemia linfóide aguda, forma de câncer mais comum na infância. O estudo partiu da constatação dos altos índices de reações alérgicas e toxicidade provocados pela terapia convencional, baseada na enzima asparaginase obtida de bactérias. Em busca de uma alternativa, a biomédica iniciou testes de modificação da enzima asparaginase humana e conseguiu produzir uma molécula 50 vezes mais ativa do que a proteína presente no organismo. A inovação foi patenteada, e os cientistas criaram uma start up, chamada de Life Prot. “As próximas etapas devem ser o escalonamento para produção industrial e os testes clínicos, que apresentam alto custo. Decidimos pelo modelo de start up para facilitar o estabelecimento de parcerias em busca do nosso objetivo final que é realmente levar aos pacientes um tratamento com menos efeitos colaterais”, disse Stephanie, que relatou ainda sua experiência no programa de treinamento Academia-Indústria, promovido pela agência Swisssnex, com foco em estratégias para transformar estudos inovadores em produtos disponíveis no mercado.

A aplicação de ferramentas de sequenciamento genético e de bioinformática para análise de microrganismos Mycobacterium tuberculosis, causadores da tuberculose, foi o tema da palestra da bióloga Daniela Brites, do Instituto de Saúde Pública e Tropical da Suíça. Desenvolvido em parceria com o IOC/Fiocruz, o estudo foi realizado a partir de amostras de casos do Rio de Janeiro relativos a infecções consideradas multirresistentes, ou seja, sem resposta à principal combinação de medicamentos usada na terapia. Após a decodificação do genoma completo das bactérias, os pesquisadores analisaram as variações genéticas, incluindo comparações com microrganismos do Brasil e de diferentes partes do mundo. Segundo a bióloga, dois fenômenos foram verificados: de um lado, o aparecimento e a seleção de bactérias resistentes a partir de microrganismos que não apresentavam resistência; de outro, a transmissão dessas bactérias para novos pacientes. “O tratamento da tuberculose é longo, exigindo seis meses de medicação diária. O aparecimento da resistência é geralmente associado ao abandono da terapia antes da sua conclusão. No Rio de Janeiro, percebemos indícios desse fenômeno, mas também observamos muitas cadeias de transmissão de bactérias resistentes”, comentou Daniela. 

O painel contou ainda com a apresentação do farmacêutico Diogo Almeida Alves, gerente regional para América Latina na empresa neozelandesa ADInstruments. O palestrante comentou o histórico da empresa, criada a partir de inovações tecnológicas desenvolvidas na Universidade de Otago, na Nova Zelândia, e apresentou softwares e hardwares desenvolvidos para pesquisas na área da fisiologia.

Voltar ao topo Voltar