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31/03/2006

Sobrevivência de fêmeas do A. aegypti pode ser influenciada por condições urbanísticas

Bel Levy








Estudo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma unidade da Fiocruz, aponta que a sobrevivência e a dispersão de fêmeas do mosquito Aedes aegypti , vetor do dengue, podem ser influenciadas pelas diferentes condições urbanísticas e pela densidade humana de uma região. O tempo de vida do mosquito está diretamente ligado à sua capacidade de atuar como vetor do dengue: são necessários de 12 a 14 dias entre o momento em que o mosquito suga o sangue de uma pessoa infectada até que as partículas virais cheguem às glândulas salivares do inseto, tornando possível a inoculação do vírus em outra pessoa - o chamado período de incubação extrínseco do vírus no mosquito. Por isso, quanto menor a sobrevida do mosquito, menor a chance de uma fêmea do Aedes aegypti transmitir o vírus do dengue.









Sinclair Stammers/TDR/OMS


A pesquisa estudou duas áreas no Rio de Janeiro: a comunidade Amorim, localizada no Complexo de Manguinhos, e Tubiacanga, um bairro da Ilha do Governador. Para calcular a taxa de sobrevivência e dispersão do mosquito em cada localidade, a equipe do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC utilizou experimentos de coleta, marcação, soltura e captura, autorizados pelo Comitê de Ética da Fiocruz. A marcação dos mosquitos foi feita com um pó fluorescente e a captura com o uso de aspiradores e armadilhas que têm um atraente químico que simula o odor de substâncias presentes na pele humana, capazes de exercer eficiente atração sobre os mosquitos.


"Aplicamos dois modelos matemáticos já descritos na literatura, um exponencial e um não-linear, para chegarmos à taxa de sobrevivência diária de fêmeas de Aedes aegypti em cada área", esclarece o entomólogo Rafael Maciel de Freitas, que apresentou os resultados como sua dissertação de mestrado orientado pelos pesquisadores Cláudia Codeço e Ricardo Lourenço. "Na comunidade Amorim o fornecimento de água e a coleta de lixo são inadequados. As casas têm geralmente um cômodo e não contam com ambiente peridomiciliar. A densidade humana é de 904 hb/ha", o pesquisador observa. "Por outro lado, em Tubiacanga há saneamento básico e coleta de lixo adequados, as casas têm de dois a três quartos e amplo espaço peridomiciliar, com uma densidade de cerca de 339 hab/ha". Este foi o primeiro estudo a avaliar tanto a sobrevivência quanto a dispersão da espécie Aedes aegypti nas condições específicas do Rio de Janeiro, considerado um dos mais importantes pontos de disseminação de dengue no país.


Os resultados mostraram que a sobrevivência de Aedes aegypti é maior na comunidade Amorim, enquanto maiores deslocamentos foram observados em Tubiacanga. Enquanto neste bairro a maioria das fêmeas se deslocou mais de 130m, com distância máxima percorrida de 363m, no Amorim a média das distâncias percorridas pelos insetos foi entre 70m e 90m. "Possivelmente, por se tratar de uma área onde a população está melhor distribuída, com menor aglomeração de casas, os mosquitos dispersaram mais em Tubiacanga, em busca de sítios de oviposição e fontes sangüíneas, ao contrário do Amorim", o entomólogo avalia.


As taxas de sobrevivência diária dos mosquitos da comunidade Amorim foram maiores que no bairro de Tubiacanga, sugerindo haver fêmeas mais longevas nas áreas de maior aglomeração humana e pior saneamento - fêmeas que, por serem mais longevas, estão teoricamente mais aptas a transmitir o vírus do dengue. "Por outro lado, ainda é preciso realizar o experimento em outras localidades para confirmar a hipótese de que as condições do ambiente urbano influenciam diretamente a sobrevivência das fêmeas do mosquito. Afinal, foram selecionadas apenas duas áreas para este estudo e cada localidade pode possuir características específicas, que em última análise, poderão influenciar a sobrevivência e a dispersão de fêmeas de Aedes aegypti localmente", conclui.

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