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27/02/2007

Solo contaminado por petróleo é fonte de microrganismos com aplicações industriais

Fernanda Marques


O que têm em comum o tucumã, fruta da região amazônica; o barbeiro, inseto transmissor da doença de Chagas; e o solo contaminado por derramamento de petróleo? Os três podem ser fonte de microrganismos produtores de biossurfactantes, substâncias capazes de diminuir a tensão na superfície de líquidos e formar emulsões. Equipe do Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (CPqLMD), unidade da Fiocruz em Manaus, isolou dessas amostras 116 fungos filamentos, leveduras e bactérias. Entre esses microrganismos, 15 apresentaram a capacidade de produzir biossurfactantes.


 No tubo à esquerda, emulsão total de hidrocarboneto formada a partir de biossurfactante produzido por microrganismo (Foto: Arquivo Ani Matsuura / CPqLMD)

No tubo à esquerda, emulsão total de hidrocarboneto formada a partir de biossurfactante produzido por microrganismo (Foto: Arquivo Ani Matsuura / CPqLMD)


Os melhores produtores de biossurfactantes identificados no estudo foram leveduras dos gêneros Candida e Trichosporon, o que chamou a atenção dos cientistas. “Nenhuma espécie do gênero Trichosporon era descrita na literatura científica como produtora de biossurfactante”, diz a coordenadora da pesquisa, Ani Beatriz Jackisch Matsuura. “Temos, então, um novo biossurfactante, que precisa, ainda, de vários estudos para determinarmos toda a sua potencialidade”, anuncia Ani. Os desdobramentos futuros dessa pesquisa podem gerar uma patente.


Os biossurfactantes eram produzidos, sobretudo, por microrganismos isolados do solo contaminado por petróleo. Esse dado não causa surpresa, visto que uma das aplicações conhecidas dos biossurfactantes é justamente na biorremediação de áreas atingidas por derramamento acidental de petróleo. “Como os microrganismos que produzem biossurfactantes têm a capacidade de utilizar o óleo para sua nutrição, a tendência era que eles estivessem mesmo em maior número no solo exposto ao petróleo”, explica Ani.


Outra aplicação dos biossurfactantes é na formulação de cosméticos, o que inclui a dissolução de pigmentos e compostos biologicamente ativos. “Empresas do Japão e da França já têm patentes de plantas de produção em larga escala de certos tipos de biossurfactantes usados como ingredientes de cosméticos”, conta Ani. Já na indústria de alimentos, os biossurfactantes podem ser aplicados na remoção de pesticidas de frutas e na solubilização de óleos aromatizantes para a fabricação de sorvetes.


Além disso, alguns biossurfactantes apresentam atividade antimicrobiana, o que foi confirmado pela pesquisa do CPqLMD. Por isso, determinadas substâncias estudadas por Ani podem ser uma boa opção para o desenvolvimento de um novo degermante, solução anti-séptica com detergente utilizada para higienizar as mãos dos profissionais de saúde e limpar a pele dos pacientes antes de cirurgias.


Contudo, o desenvolvimento de um possível novo produto é um processo demorado. “Cada biossurfactante tem suas particularidades, assim como o microrganismo que o produz. É necessário ter um grande conhecimento sobre a substância”, lembra Ani. Determinar a composição química dos biossurfactantes obtidos está entre as próximas etapas da pesquisa do CPqLMD.

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