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18/08/2008

Taxa de hospitalizações evitáveis indica a qualidade do cuidado básico de saúde

Fernanda Marques


Pesquisadores analisaram internações que poderiam ter sido evitadas num período de dez anos, no município de Pelotas (RS). O objetivo era avaliar a qualidade da rede municipal de atenção básica à saúde. Publicados na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico da Fiocruz, os resultados mostram que houve uma redução dos percentuais de internações evitáveis entre 1995 e 2004. “Aparentemente, a diminuição verificada pode estar relacionada à qualificação dos serviços de atenção básica”, dizem Juvenal Soares Dias da Costa e co-autores no artigo. “Contudo, o resultado pode ser conseqüência do financiamento do sistema de saúde. Os valores de pagamento das internações estudadas são baixos e podem estar direcionando os hospitais a uma diminuição da oferta de leitos para essas condições”, explicam. Em tempo: o pagamento em questão se refere à quantia repassada ao hospital, pela Secretaria Municipal de Saúde, para as despesas com as internações.


 Os pesquisadores destacam que, se algumas internações fossem evitadas, esse dinheiro poderia ser aplicado no sistema local de saúde, aumentando a efetividade dos cuidados (Foto: Hospital Moinhos de Vento)

Os pesquisadores destacam que, se algumas internações fossem evitadas, esse dinheiro poderia ser aplicado no sistema local de saúde, aumentando a efetividade dos cuidados (Foto: Hospital Moinhos de Vento)


Em condições satisfatórias, doenças que podem ser controladas com vacinação ou com cuidados ambulatoriais adequados não devem ser causa de hospitalizações. Partindo desse referencial, os pesquisadores investigaram diabetes mellitus, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial sistêmica, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças preveníveis com vacina (poliomielite, difteria, tétano, coqueluche e sarampo) como causas de internações evitáveis. O estudo teve como foco indivíduos de 20 a 59 anos e os dados sobre hospitalizações foram obtidos no site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus).


De acordo com as análises, o percentual de causas evitáveis em relação ao total de hospitalizações foi maior entre as mulheres do que entre os homens. Entre elas, esse percentual atingiu seu máximo em 1996 (13,5%), oscilou até 2000 e, depois, foi diminuindo, sendo seu valor mais baixo registrado em 2004 (4,6%). Entre os homens, a situação foi parecida: o maior percentual ocorreu em 1997 (9,7%), houve oscilação até 2000 e queda posterior, com valor mínimo em 2004 (4,6%). Para os homens, a principal causa evitável foi insuficiência cardíaca, enquanto, para as mulheres, os resultados apontam para insuficiência cardíaca, diabetes mellitus e doença pulmonar obstrutiva crônica.


Conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, o estudo também investigou os custos das internações por causas evitáveis. “Os valores pagos pelas hospitalizações evitáveis acompanharam a queda observada nos percentuais e nas taxas dessas internações”, afirmam os autores. “Assim, em 1997, as internações evitáveis atingiram praticamente 15% dos recursos pagos pelas internações totais de Pelotas e, em 2003, não alcançaram 5%”.


Em valores brutos, isso significa que, em média, o custo total das hospitalizações no município, por ano, é de R$ 10 milhões, sendo que as internações evitáveis consumiram R$ 1,6 milhão, em 1997, e R$ 490 mil, em 2003. Os pesquisadores destacam que, se estas internações fossem evitadas, esse dinheiro poderia ser aplicado no sistema local de saúde, aumentando a efetividade dos cuidados. Ressaltam, ainda, que pacientes submetidos a cuidados não efetivos tendem a retornar ao sistema de saúde em condição de doença avançada, necessitando de procedimentos mais caros e com menor chance de desfecho favorável. “Acredita-se que o monitoramento contínuo de taxas de admissão nos hospitais possa tornar-se uma condição facilitadora para a gestão de sistemas municipais de saúde”, sugerem os autores no artigo.

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