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07/04/2009

Teoria da Evolução e Charles Darwin na abertura do ano acadêmico da Fiocruz

Paula Lourenço


O que o pai da biologia Charles Darwin teria em comum com o pesquisador brasileiro Carlos Chagas, com o personagem Neo do filme Matrix, com o psicanalista austríaco Sigmund Freud ou com o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre? Ou o que o cientista inglês tem a ver com o livre arbítrio? Difícil de responder? O médico e professor Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou a conexão entre estes personagens e questões na conferência Charles Darwin e a seleção natural, na abertura do ano acadêmico de 2009 da Fiocruz, promovida nesta segunda-feira (6/4), no auditório do Museu da Vida.


 O médico Sergio Pena aborda a teoria da evolução e o legado de Charles Darwin (Fotos: Peter Ilicciev)

O médico Sergio Pena aborda a teoria da evolução e o legado de Charles Darwin (Fotos: Peter Ilicciev)


Para uma plateia de aproximadamente 200 participantes, entre eles, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação, Maria do Carmo Leal, o professor mineiro disse que não traria para o público uma apresentação didática de Darwin, mas sim uma espécie de poutporri do cientista inglês, cujos 200 anos de nascimento foram comemorados em fevereiro último. “Darwin tem aspectos ligados a esta instituição (Fiocruz)”, disse o acadêmico. Ele comentou que o Carlos inglês teria sido vítima de uma enfermidade descoberta pelo Carlos brasileiro: a doença de Chagas. Em 1831, Darwin deu a volta ao mundo e, na Argentina, relatou ter sido atacado por um inseto, possivelmente um barbeiro. Anos depois, Darwin morreria de insuficiência cardíaca. Em outubro de 1959, um artigo científico publicado na revista Nature relatava que o cientista inglês tinha sido vítima da doença de Chagas.


Depois de fazer a conexão de Darwin com o ilustre pesquisador da Fiocruz, Sergio Pena disse que o cientista inglês era um super-herói. Assim como o personagem Neal do filme Matrix, Darwin estava no “mundo comum” se recusara, num primeiro momento, a atender o “chamado” para a missão. Depois, ele teria aceitado seguir adiante, tornando-se o super-herói da ciência. “Qual foi o elixir de Darwin? A seleção natural”, pontuou Pena.


Apesar do heroísmo, o professor mineiro explicou que Darwin era passível a falhas, como todos os grandes pensadores. “Ele não tinha uma teoria completa da evolução. Ele não tinha ideia dos mecanismos da transmissão hereditária”, comentou. Pena argumentou que reconhecer as limitações de um personagem, por mais importante que ele seja, é uma forma de evitar o culto à personalidade. “Freud tinha suas limitações, assim como Gilberto Freyre tinha suas limitações”, ponderou.


 O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha (ao centro), dá boas-vindas aos estudantes. Ao seu lado, Sergio Pena e a vice- a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação, Maria do Carmo Leal

O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha (ao centro), dá boas-vindas aos estudantes. Ao seu lado, Sergio Pena e a vice- a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação, Maria do Carmo Leal


Nessa arquitetura inusitada de falar sobre Darwin, o professor Pena levou os alunos da Fiocruz a entender as aplicações da seleção natural em várias áreas: na humana, com o darwinismo social, em que o que sobrevive não é o mais inteligente ou o mais forte e sim o que se adapta mais facilmente ao ambiente; na saúde, a exemplo do vírus HIV e sua capacidade de mutação e do desenho de fármacos; e na área epistemológica, já que o pensamento científico, por exemplo, baseia-se no pensamento criativo, mas é moldado pelo pensamento crítico.


Afora mostrar os aspectos heroicos, as falhas e as aplicabilidades do autor de A evolução das espécies - obra cuja primeira publicação ocorreu há 150 anos - o médico mineiro afirmou que a Humanidade continua a evoluir, seja no aspecto biológico, ocorrido de forma lenta, ou no aspecto cultural, de maneira mais rápida. “A espécie humana encontrou uma maneira mais eficiente de evoluir: culturalmente, o que garante as rédeas da própria evolução e dá ao homem a capacidade de ser o que quiser”.


Presidente da Fiocruz dá as boas-vindas aos estudantes


Cerca de 200 estudantes lotaram o auditório do Museu da Vida para receber as boas-vindas do presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. Na aula inaugural do ano acadêmico de 2009, o dirigente da instituição fez questão de ressaltar que os alunos estão chegando em um momento de grandes desafios para a Fundação, pois o Brasil vem se firmando no cenário internacional e a Fiocruz, por ser uma instituição âncora do país na área de ciência, tecnologia e formação de recursos humanos em saúde, vem recebendo uma maior demanda por parte do Estado.


 Os alunos, que lotaram o auditório, receberam o <STRONG>Guia do Estudante</STRONG> e o <STRONG>Catálogo de Cursos</STRONG> da Fiocruz

Os alunos, que lotaram o auditório, receberam o Guia do Estudante e o Catálogo de Cursos da Fiocruz


Gadelha também mencionou o processo de expansão da Fiocruz no Brasil, com a criação de novas unidades no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste e, consequentemente, a incorporação de novas temáticas de pesquisa. “É a oportunidade de viver em uma instituição em ebulição”, comentou o presidente da Fiocruz, lembrando que a instituição desenvolve inteligência com o compromisso social.


A vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Maria do Carmo Leal, também deu as boas-vindas aos alunos, apresentando o Guia do Estudante, publicação que traz informações importantes para a vida acadêmica na Fundação, e o Catálogo de Cursos, com detalhes dos 200 cursos e 500 disciplinas oferecidas pela Fiocruz. “Esperamos que os estudantes apresentem seus resultados em produtos, publicações ou descobertas para melhorar a assistência à saúde no país”, disse.


O empenho da Fiocruz para recepcionar os estudantes bem como manter a qualidade dos cursos é reconhecido pelos alunos. O biólogo Victor Ugarte Bornstein, 23 anos, que há seis meses ingressou no mestrado em biologia celular e molecular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), disse que está satisfeito com o corpo docente e com a infraestrutura em sala de aula. Para a bióloga Luciana Rodrigues Carvalho, 20, que começou em março no mesmo mestrado do IOC, o curso atende às suas expectativas e, embora esteja há pouco tempo na Fundação, já faz planos: “pretendo fazer o doutorado aqui”.


Publicado em 6/4/2009.

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