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30/03/2009

Tese avalia processo de ensino e aprendizagem em residência médica

Renata Moehlecke


Compreender a percepção do preceptor, responsável pelo acompanhamento de médicos residentes, sobre a residência médica e sobre seu papel no processo de ensino-aprendizagem desses profissionais: esse é o objetivo do médico Sérgio Botti em tese de doutorado defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). O pesquisador analisou a opinião de 16 preceptores participantes de um programa de residência em especialidades clínicas de um hospital de ensino.


 O autor observou que os preceptores acreditam que o estudo teórico, as discussões de casos e as reuniões científicas estimulam a capacidade de raciocínio (Foto: Unifesp)

O autor observou que os preceptores acreditam que o estudo teórico, as discussões de casos e as reuniões científicas estimulam a capacidade de raciocínio (Foto: Unifesp)


“O processo de ensino-aprendizagem durante a residência é ainda pouco estudado”, comenta Sérgio. “A maioria dos trabalhos existentes discute, quase exclusivamente, a titulação do corpo docente, as condições de trabalho dos residentes e a organização dos programas. O conteúdo da formação, como deve ser esse processo, como os residentes aprendem e o que eles aprendem ainda é muito pouco discutido”.


Segundo o estudioso, considera-se que o principal objetivo da residência é o aperfeiçoamento da competência profissional adquirida na graduação, a partir de um treinamento em alguma especialidade médica. Além disso, busca-se uma aquisição progressiva de responsabilidade pelos atos médicos, o desenvolvimento da capacidade de iniciativa, de julgamento e de avaliação e a internalização de preceitos e normas éticas, assim como o desenvolvimento de espírito crítico.


Para a pesquisa, foram selecionados profissionais médicos, com cargo de professor ou não, que trabalhavam diretamente com o residente e conviviam com ele durante todo o período de sua formação. Todos os preceptores escolhidos tinham idade superior a 30 anos e exerciam a atividade a mais de dez anos, sendo mais de 50% do sexo masculino. A análise de opinião apontou diversos resultados.


“Em nosso estudo, perseguindo entender a percepção, pelos preceptores, dessa maneira exata como os residentes aprendem, deparamo-nos com as incertezas dos entrevistados”, explica o pesquisador. “Essa dificuldade em explicitar como é essa aprendizagem na realidade é explicada por considerações da literatura, mas devemos dizer que ela também pode ser causada pela pouca reflexão sobre a própria prática e por uma formação pedagógica deficiente dos preceptores”.


No entanto, Sérgio destaca algumas conclusões. “O residente aprende de diversas formas e a residência, além do ensino de um corpo de conhecimentos e de habilidades, deve compreender também a aquisição de atributos relacionais, posturas e atitudes que definem o profissionalismo médico”, afirma o estudioso. “O preceptor assume vários papéis nesse processo: planeja, controla, mostra o caminho e guia; estimula o raciocínio e a postura ativa do residente; analisa seu desempenho; aconselha e cuida do crescimento profissional e pessoal; observa e avalia o residente executando suas atividades; atua na formação moral”.


Além disso, o pesquisador observou que os preceptores acreditam que o estudo teórico, as discussões de casos e as reuniões científicas estimulam a capacidade de raciocínio. “Apesar da força tradicional da transmissão de conhecimentos, valorizam-se a atitude ativa e a verdadeira participação do residente”, afirma Sérgio.


Outra informação encontrada tem relação com o papel assumido pelo preceptor. “Encontramos referências a orientador, tutor, supervisor e mentor. Notamos, contudo, a importância do preceptor como educador, oferecendo, ao aprendiz, ambientes que lhe permitam construir e reconstruir conhecimentos. O preceptor ensina, realizando procedimentos técnicos e moderando a discussão de casos e assume, assim, um papel do docente-clínico, um profissional que domina a prática clínica e os aspectos educacionais relacionados a ela”.


Publicado em 30/3/2009.

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