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29/05/2008

Tese descreve a situação da hantavirose na Amazônia

Catarina Chagas


Desde 1993, quase mil casos de síndrome pulmonar por hantavírus (SPH) – uma das manifestações da hantavirose – foram notificados no Brasil e a doença tem crescido cada vez mais na Amazônia. Para compreender melhor essa dinâmica, a bioquímica Elizabeth Salbé Travassos da Rosa investigou, em seu trabalho de doutorado feito na Fiocruz, a caracterização genética dos hantavírus circulantes em dois diferentes ecossistemas amazônicos com registros de SPH: Maranhão e Pará-Mato Grosso. Os resultados possibilitaram mapear as cepas de hantavírus que afetam as comunidades da região.


 Técnico de investigação epidemiológica colhe amostras no Mato Grosso (Foto: blog Gente Sem Saúde)

Técnico de investigação epidemiológica colhe amostras no Mato Grosso (Foto: blog Gente Sem Saúde)


Foram analisadas quase 300 amostras de sangue dos moradores de 10 municípios que já haviam registrado casos de hantavirose e 32 amostras provenientes de pacientes já diagnosticados com SPH. Além disso, como a transmissão da infecção ao homem se dá por meio do contato e aspiração de excretas de roedores silvestres contaminados, foram incluídas na análise amostras de 378 animais capturados na região.


A partir do estudo, foi possível identificar os diferentes hantavírus responsáveis pelos casos da doença e os roedores a que estão relacionados. “Geralmente, cada hantavírus está associado a um roedor hospedeiro específico em uma dada região geográfica”, explica Elizabeth. As espécies apontadas como importantes na transmissão da hantavirose foram dos gêneros Oligoryzomys, no Maranhão, e Calomys, no Mato Grosso. Os roedores associados à infecção no Pará ainda não foram identificados.


Outro resultado importante foi obtido da análise de anticorpos das amostras humanas. Além de confirmar os hantavírus associados aos casos de SPH na população local – Anajatuba, no Maranhão, e Laguna Negra, no Mato Grosso –, o trabalho sugere a ocorrência de casos assintomáticos da infecção, ou seja, algumas pessoas desenvolveram a doença sem apresentar os sintomas. “Esses casos, podem ser confundidos com uma gripe, o que leva a uma subnotificação da doença”, argumenta a autora. “Isso pode gerar imprecisão na hora de determinar a letalidade da hantavirose”.


A pesquisadora, que trabalha no Instituto Evandro Chagas, no Pará, ressaltou ainda a importância do treinamento dos profissionais de saúde para prevenção e diagnóstico da SPH, já que a doença não tem vacina nem cura. Segundo ela, é preciso trabalhar sobretudo os grupos de risco, como pessoas que trabalham na lavoura e na pesca, e as épocas do ano mais críticas, como os períodos chuvosos no Maranhão e de colheita no Mato Grosso.


Apesar de a hantavirose ser associada quase sempre à atividade rural, a doença tem sido observada em áreas periurbanas, onde as casas são construídas muito próximas a áreas rurais, pastos ou depósitos para armazenamento de cereais e podem ser invadidas por roedores em busca de alimentos. “Devemos considerar, inclusive, que as mudanças climáticas e a ação do homem interferem na densidade populacional dos roedores e, por conseqüência, na transmissão dos hantavírus”, acrescenta Elizabeth. “Supomos que as recentes alterações ambientais favoreceram o contato desses roedores com seres humanos. Se esta hipótese for verdadeira, podemos esperar para os próximos anos a ocorrência de muitos casos de SPH nas regiões alagadas da Amazônia”.


A prevenção, então, foi apontada como importante atitude estratégica, já que medidas simples como a construção de casas e locais de armazenamento de grãos que dificultem o acesso do roedor podem reduzir os riscos de contaminação humana.

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