10/06/2013
A ampliação dos recursos terapêuticos, aumento da qualidade de vida e redução de 33% da mortalidade. Esse cenário possibilitou às pessoas que vivem com HIV/Aids uma nova expectativa de vida: trabalho, vida social e relacionamentos afetivos, contextos que foram abordados, direta ou indiretamente, na tese Vulnerabilidade ao HIV/Aids entre casais sorodiscordantes acompanhados no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas/Fiocruz. Defendida pelo psicólogo Nilo Martinez Fernandes em 7 de junho, a pesquisa examinou as faces da vulnerabilidade entre casais sorodiscordantes para além do foco dos indicadores epidemiológicos. A tese marcou a 200ª defesa do Programa de Pós-Graduação em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) e foi a primeira do programa a utilizar a metodologia qualitativa.
Com a orientação de Élida Hennington e Beatriz Grinsztejn, o estudo foi motivado pela pesquisa multicêntrica HPTN 052, que liderou o ranking da revista Science das dez maiores inovações de 2011. O estudo é um ensaio clínico pioneiro da Rede de Testes para Prevenção de HIV (HPTN, na sigla em inglês) que demonstrou que, se indivíduos HIV positivos aderem a um esquema eficaz de terapia antirretroviral, o risco da transmissão do vírus ao parceiro sexual sem infecção pode ser reduzido em até 96%.
O acesso ao conhecimento a esse tipo de tecnologia de prevenção foi uma das dimensões estudadas pela tese de Fernandes, que estudou 17 casais sorodiscordantes de perfis distintos (homossexuais e heterossexuais, entre 20 e 40 anos). Outras dimensões contempladas foram a relação com a família e educação sexual, a revelação do diagnóstico pelo profissional de saúde e, posteriormente, para o parceiro (a), e uso de preservativo. “Os relatos de vulnerabilidade dessas pessoas me levou ter a ideia para essa tese”, diz Fernandes. “Há muita falta de diálogo e informação sobre sexualidade, o que é um fator importante de vulnerabilidade”.
Outras vulnerabilidades encontradas foram no âmbito da revelação do diagnóstico positivo para o usuário ("o resultado é comunicado por telefone ou e-mail, o que não é recomendado pelo Ministério da Saúde. Há necessidade de capacitação técnica para aconselhamento profissional"); o medo da rejeição pelo parceiro e da solidão, quando a descoberta é feita durante um relacionamento; e o desconhecimento de novas tecnologias de prevenção entre casais sorodiscordantes, como a microbicida.
“As vulnerabilidades devem ser avaliadas e trabalhadas. É preciso um diálogo mais horizontal com os usuários, além de ampliar a discussão nesse momento em que passamos por uma onda conservadora, que acaba impactando na saúde”, diz Fernandes, referindo-se aos recentes vetos do Ministério da Saúde às campanhas de prevenção dirigidas a populações mais expostas à infecção pelo HIV e a exoneração do Diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Dirceu Greco, em função de ações voltadas às profissionais do sexo.
O Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas e o Mestrado Profissional em Pesquisa Clínica têm como objetivo formar pessoal qualificado para o exercício de atividades de pesquisa, de magistério do ensino superior e de profissionais no campo das doenças infecciosas, em todos os setores de aplicação pertinentes, nos termos das normas da Capes e do Regimento Geral de Pós-graduação Stricto Sensu da Fiocruz. O programa, que teve seus cursos de mestrado e doutorado credenciados em 2003, tem conceito 5 na Capes. Entre 2000 e 2012, foram publicados 325 artigos completos em periódicos. O setor público acadêmico foi a maior área de atuação dos egressos.
