Início do conteúdo

21/09/2012

Tese sobre uso de medicamentos e idosos ganha prêmio

Tatiane Vargas


A tese de doutorado Estudo epidemiológico de base populacional da subutilização de medicamentos por motivos financeiros entre idosos brasileiros, defendida no Programa de Saúde Pública da Ensp/Fiocruz foi contemplada com o primeiro lugar do Prêmio Nacional de Incentivo à Promoção do Uso Racional de Medicamentos 2011. Elaborada pela farmacêutica Tatiana Luz, sob orientação da pesquisadora Cristina Guilam, a pesquisa pretendeu conhecer a prevalência e buscar o entendimento dos fatores individuais e contextuais associados à subutilização por motivos financeiros entre idosos residentes em duas comunidades localizadas no Estado de Minas Gerais.


 Tatiana Luz e o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha

Tatiana Luz e o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha



 

De acordo com a tese, o envelhecimento populacional se constitui em uma mudança demográfica vivenciada nas últimas décadas e uma das maiores conquistas da Humanidade. No entanto, este processo traz também importantes repercussões nas diferentes esferas da estrutura social, econômica, política e cultural das sociedades, uma vez que os idosos possuem demandas específicas para obtenção de adequadas condições de vida. No que se refere aos cuidados com saúde, por exemplo, as demandas geradas pelo aumento da longevidade podem ser traduzidas pelo incremento da necessidade de medicamentos, insumos, serviços e de tecnologias mais complexas.

 

“Os medicamentos são uma componente essencial do tratamento terapêutico dos idosos, desempenhando um reconhecido papel tanto na manutenção da saúde quanto no bem-estar geral desses indivíduos. Pelo menos 80% desses indivíduos apresentam uma ou mais condições crônicas, fato que legitima, portanto, a maior demanda de medicamentos por este segmento populacional”, afirmou Tatiana. Ainda segundo dados apontados pela pesquisa, o uso excessivo de medicamentos pelos idosos tem sido o ponto central do debate. A literatura sobre o tema evidencia que os indivíduos que recebem uma prescrição médica, entre 40% e 50%, não aderem aos tratamentos prescritos, o que pode comprometer os resultados terapêuticos desejados.

 

Um dos principais motivos para essa não adesão ao tratamento prescrito são seus custos. Estudos realizados em países desenvolvidos estimam que cerca de um quarto dos idosos subutiliza os tratamentos prescritos devido a motivos financeiros. Por outro lado, os custos do tratamento, por si, não são suficientes para explicar essa subutilização e fatores como sexo feminino, idade mais jovem do idoso, renda mais baixa, ser não branco, estar em pior condição de saúde e a presença de comorbidades têm sido apontados como determinantes dessa prática. “Essa subutilização também é menor entre os filiados a planos de saúde, entre aqueles com menores gastos mensais com medicamentos ou que têm cobertura para obtenção dos seus tratamentos. A melhor qualidade da assistência médica recebida, por outro lado, tem sido apontada como fator de proteção para a subutilização por motivos financeiros”.

 

O estudo pretendeu contribuir para a compreensão dos mecanismos subjacentes à subutilização de medicamentos por motivos financeiros, considerando tanto aspectos individuais quanto contextuais. A tese foi contemplada com o primeiro lugar do Prêmio Nacional de Incentivo à Promoção do Uso Racional de Medicamentos 2011. A entrega do prêmio foi realizada no mês de agosto, durante o 4º Congresso Brasileiro sobre Uso Racional de Medicamentos, que ocorreu em Salvador.


“A tese pretende contribuir para ampliar o conhecimento da farmacoepidemiologia do idoso, mais especificamente buscando o entendimento dos fatores associados à subutilização por motivos financeiros dos medicamentos prescritos. Então, possibilita a elaboração de estratégias específicas para a redução do problema, com consequente ganho de eficiência para o sistema de saúde. Foram objetos de estudo aqueles indivíduos não institucionalizados em hospitais ou em residências geriátricas, que recebem apenas cuidado ambulatorial, livres, portanto, para seguir ou não as recomendações dos profissionais de saúde”, explicou a farmacêutica.

 

Idosos são vulneráveis à subutilização, especialmente as mulheres mais velhas

 

Os resultados do estudo indicaram que a prevalência da subutilização de medicamentos para idosos com mais de 60 anos, residentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), foi de 12,9%, estando independentemente associada à filiação a plano privado de saúde, à frequência com que o profissional de saúde esclareceu sobre a saúde/tratamento, à autoavaliação de saúde, ao número de condições crônicas, à percepção de coesão ao bairro de moradia e ao número de contatos sociais. Já para o subgrupo de mulheres acima de 70 anos, a prevalência da subutilização foi de 11,4% para aquelas que residem na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e de 5,4% para as residentes da cidade de Bambuí.


Segundo Tatiana, os fatores independentemente associados à subutilização na RMBH foram a autoavaliação de saúde, a capacidade funcional e a percepção de ajuda. Em Bambuí, os fatores independentemente associados à subutilização foram a percepção de coesão ao bairro de moradia e a boa percepção do ambiente físico. “Os resultados da pesquisa evidenciam uma situação de risco para indivíduos em piores condições de saúde e confirmam a importância dos aspectos socioeconômicos para a subutilização por motivos financeiros. Além disso, indicam também que a determinação dessa subutilização está ligada à qualidade da comunicação médico-paciente e ao contexto social no qual o indivíduo está inserido, sendo este último aspecto especialmente relevante para as mulheres idosas”, concluiu Tatiana Luz.


Publicado em 18/9/2012.

Voltar ao topo Voltar