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25/09/2008

Teste identifica problemas no desenvolvimento de pré-escolares

Fernanda Marques


Artigo recém-publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Fiocruz, apresenta um teste que pode ser usado para a triagem de crianças na educação infantil, de modo a identificar aquelas que necessitam de maior estímulo em um ou mais setores e reorientar as atividades escolares para promover o desenvolvimento neuropsicomotor. O artigo é assinado por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Universidade de São Paulo (USP), que se basearam na segunda versão do Teste de Triagem de Denver (Denver 2). Este foi aplicado a cerca de mil crianças menores de 6 anos matriculadas na educação infantil de Cuiabá. Os pré-escolares brasileiros tiveram resultados dentro do padrão esperado, embora, segundo os autores do artigo, alguns aspectos mereçam atenção.


 Os pré-escolares de Cuiabá apresentaram resultados satisfatórios nos itens do teste relacionados ao desenvolvimento motor 

Os pré-escolares de Cuiabá apresentaram resultados satisfatórios nos itens do teste relacionados ao desenvolvimento motor 


O Denver 2 é um teste que avalia quatro setores do desenvolvimento da criança: pessoal-social, adaptativo, linguagem e motor. Para analisar cada um desses setores, é solicitado à criança que realize determinadas tarefas, tais como nomear amigos, escovar os dentes, construir uma torre de dez cubos, identificar a linha mais comprida, contar blocos, nomear quatro cores, balançar o pé por alguns segundos e pular com uma perna só.


“Comparadas às crianças de Denver (Estados Unidos), as de Cuiabá apresentaram atraso na aquisição da coordenação motora e da linguagem da ordem de 1,7 anos e de 1,3 anos, considerando-se as provas ‘pega a linha mais comprida’ e ‘nomeia quatro cores’, respectivamente”, dizem a médica Sandra Coenga de Souza e co-autores no artigo. “Esse atraso pode ser um sinal da falta de estímulo para que essas competências se estabeleçam”, sugerem.


Nas provas relacionadas a preparar alimentos e brincar com jogos interativos, o desempenho dos pré-escolares de Cuiabá também foi menos satisfatório. Os pesquisadores apontam que as crianças, em geral, recebem as refeições já preparadas e servidas em seus respectivos utensílios. Assim, elas são menos estimuladas a manusear objetos como o copo, o prato e a colher, com prejuízos, inclusive, para a coordenação motora. Soma-se a isso a ausência, nas creches e casas, de jogos interativos. Estes, segundo os autores, funcionam como mediadores que, além de ensinarem a criança a brincar, auxiliam no controle da ansiedade, no estabelecimento de limites, no aprendizado de regras e na compreensão da complexidade das relações humanas.


Já nos itens do teste relacionados ao desenvolvimento motor, os pré-escolares de Cuiabá apresentaram resultados satisfatórios. “Este dado está de acordo com o obtido por outros autores que avaliaram crianças de países subdesenvolvidos e verificaram que, mesmo nas classes menos favorecidas, o desenvolvimento motor não era afetado, sendo até, muitas vezes, mais precoce do que o de crianças de países desenvolvidos, talvez pela necessidade de “sobrevivência”, comentam Sandra e seu grupo no artigo. Os pesquisadores da UFMT e da USP esperam que seus resultados sirvam como subsídios para políticas públicas na área da educação infantil, não só em Cuiabá, mas também em outras cidades.


Publicado em 26/9/2008.

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