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30/11/2005

Testes para leishmaniose canina têm melhor eficácia se usados em conjunto

Paula Lourenço


A leishmaniose visceral canina, doença que não tem cura e acomete cães na Região Metropolitana do Recife (RMR), pode ser detectada com maior eficiência se os serviços de vigilância epidemiológica utilizarem, de forma combinada, dois kits de diagnóstico: EIE-Leishmaniose-Visceral-Canina-Biomanguinhos (EIE-LVC) e IFI-Leishmaniose-Canina-Biomanguinhos (IFI-LVC), em vez de apenas este último, considerado o padrão-ouro pelo Ministério da Saúde (MS). Um trabalho feito pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz no Recife, com 114 cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), verificou que tanto o EIE-LVC quanto o IFI-LVC têm resultados semelhantes e que, usados de forma combinada, podem diminuir o número de leituras de "falsos negativos". Isso reduziria o número de cães portadores do parasita no meio urbano, uma vez que o cão parasitado constitui um risco de infecção para o homem, já que o animal é um reservatório da doença. Também haveria a diminuição do número de "falsos positivos", evitando a eutanásia de cães sadios.


O estudo procurou, inclusive, comprovar que a combinação não traria custos adicionais para o MS, porque o kit IFI, embora seja mais barato, requer um técnico melhor capacitado e uma quantidade mais limitada de resultados por dia. Já o EIE pode ser feito de forma automática, trazendo um maior número de resultados diariamente, conforme esclareceu o biomédico Rodrigo Alves de Lira, que fez a pesquisa para sua dissertação do mestrado em saúde pública do CPqAM, com orientação da pesquisadora Yara Gomes, do Departamento de Imunologia do Centro. Ela ressaltou que, até o momento, não havia publicação científica sobre a avaliação desses kits, que há anos vêm sendo empregados pelo MS no país.


A leishmaniose visceral canina, transmitida pelo mosquito do gênero Lutzomyia, provoca perda excessiva de peso nos animais, além de queda de pêlo, dificuldade de locomoção, lesões nas bordas das orelhas e do focinho, conjuntivite e crescimento excessivo das unhas, do baço e do fígado, o que pode levá-los ao óbito. Dos 14 municípios que compõem a RMR, sobretudo de área litorânea e de campo, apenas a capital pernambucana é considerada não-endêmica para a doença.


Exames


Os cães submetidos aos exames clínicos eram domiciliados. Na casa do proprietário do animal, uma equipe fez a coleta do sangue, a punção de medula óssea e a raspagem da pele, dependendo da suspeita, para realizar testes parasitológicos e detectar ou não a presença da leishmania. Do total, 25 foram positivos. Essas análises foram realizadas seguindo todos os procedimentos do Comitê de Ética da Fiocruz.


Os testes sorológicos nos animais foram comparados. "Os resultados obtidos com a imunofluorescência (IFI) e com o Elisa (EIE) não apresentaram diferença estatística entre eles", afirmou Lira. Dos 25 cães comprovadamente infectados por meio dos exames parasitológicos, a imunofluorescência foi capaz de detectar que 68% deles estavam positivos (sensibilidade) e, quando foi para avaliar os negativos (16 ao todo), a precisão chegou a 87,5% (especificidade). No caso do Elisa, a sensibilidade foi de 72% e a especificidade, de 87,5%, igualmente ao IFI.


"Isso nos levou a fazer uma associação das duas técnicas para melhorar a sensibilidade dos kits. Quer dizer, se usar imunofluorescência sozinha, ela não tem diferença com relação à Elisa, também sozinha, mas, se houver a associação das duas técnicas, a sensibilidade obtida é muito boa, principalmente para empregar em inquéritos epidemiológicos", complementou o biomédico.


Segundo Lira, por uma questão de operacionalização, a sugestão é empregar inicialmente o EIE e, apenas para os animais negativos, utilizar o IFI. "Os cães positivos para o Elisa seriam submetidos à eutanásia, conforme ainda determina o protocolo do Ministério da Saúde. Os negativos, encaminhados para a imunofluorescência e, se dessem positivo, também haveria a eutanásia, do contrário, os cães seriam liberados", destacou.


Os resultados da pesquisa já foram encaminhados para o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos), unidade da Fiocruz no Rio de Janeiro produtora de mais de um milhão de testes (EIE e IFI) por ano, vendidos ao MS. Em outubro, os dados do trabalho devem ser publicados em artigo indexado na Revista de Patologia Tropical. O texto de Lira também foi submetido para publicação na Veterinary Parasitology e o pesquisador aguarda uma resposta dos editores.


 

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