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23/01/2008

Trabalhadores solidários

Catarina Chagas e Fernanda Marques


Lição também é a mobilização social pelo banimento do amianto, que tem como um de seus principais ícones a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), fundada em 1995 em Osasco (SP). Seus objetivos incluem aglutinar pessoas expostas, cadastrá-las e encaminhá-las para exames médicos, conscientizar a população geral sobre os riscos, propor ações judiciais a favor das vítimas e unir-se a outros movimentos pelo banimento do amianto, inclusive internacionais.


 A atual presidente da Abrea-RJ, Ruth Nascimento (à dir), com a irmã e a prima: ex-trabalhadoras da indústria têxtil e diagnosticadas com asbestose

A atual presidente da Abrea-RJ, Ruth Nascimento (à dir), com a irmã e a prima: ex-trabalhadoras da indústria têxtil e diagnosticadas com asbestose


Desde 2001, a Abrea está presente no Rio de Janeiro, graças a um processo iniciado em 1996, com o apoio da Fiocruz, e protagonizado por dona Rosa, ex-trabalhadora da indústria têxtil falecida em 2006 em decorrência da asbestose. Rosa Amélia trabalhou durante 14 anos com amianto e foi por acaso que descobriu ter asbestose, muitos anos depois de ter sido demitida. Em consulta com uma médica do SUS, queixou-se de sintomas respiratórios e foi encaminhada ao Cesteh, onde fez exames que confirmaram a doença de origem ocupacional.


Os pesquisadores da Fiocruz, certos de que antigos colegas de trabalho de Rosa também podiam estar doentes, pediram que ela os chamasse ao Cesteh. A partir daí, o grupo de trabalhadores assistidos começou a crescer e se mobilizar para a fundação da Abrea-RJ. A atual presidente da Associação, Ruth Nascimento, foi uma das operárias que chegaram à Fiocruz por intermédio de Rosa. “Quando a Rosa apareceu lá em casa, eu estava com falta de ar, tosse e cansaço. Achava que era alergia, mas ela me alertou que podia ser asbestose”, lembra.


Ruth entrou na indústria têxtil em 1978 e, sete anos depois, começou a apresentar dificuldade para respirar. “Eu era a fiandeira número um e podia operar todas as máquinas do setor fiação. Mas minha produção foi diminuindo até que a empresa me mandou embora, depois de 12 anos de trabalho sem saber que o amianto era um risco para a minha saúde”. Desde então, por causa das limitações físicas, teve dificuldade para encontrar emprego. “Entrei na empresa com 19 anos e saí com 31, praticamente inválida”, lamenta.


Passado o choque de ser diagnosticada com uma doença grave e sem cura e ter notícia de vários colegas na mesma situação, Ruth se convenceu de que não podia ficar de braços cruzados. Juntou-se à Rosa e à equipe da Fiocruz e ajudou a criar a Abrea-RJ. “Com a ajuda de profissionais do Cesteh, como as assistentes sociais Katia Reis, Maria Blandina Santos e Vanda D’Acri, fazemos um trabalho de formiguinhas, que inclui conscientizar as pessoas sobre os riscos, buscar trabalhadores, seus familiares e comunidades que foram expostos, e mobilizá-los para lutar pelo banimento do amianto e para que as empresas se responsabilizem pelos operários que adoecem por causa desse material”, resume Ruth, que, todos os meses, preside os encontros de associados.

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