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10/07/2009

Trabalhos trazem novos conhecimentos sobre comportamento dos triatomíneos

Ricardo Valverde


Sob supervisão do pesquisador da Fiocruz Minas Marcelo Lorenzo, a doutoranda Gina Pontes vai apresentar um trabalho, no Simpósio Internacional sobre Doença de Chagas, em que explora um aspecto ainda pouco conhecido dos triatomíneos. Até o momento os cientistas praticamente desconhecem como acontecem os encontros sexuais entre triatomíneos adultos. Por exemplo, não sabem se existem feromônios que possam mediar o encontro entre machos e fêmeas. Os pesquisadores têm informações que definem que, quando copulam, os casais de algumas espécies de triatomíneos emitem um odor que atrai outros machos. Então, o que Gina fez foi se perguntar se machos ou fêmeas adultos de Rhodnius prolixus alojados em abrigos são capazes de detectar sinais da presença de indivíduos do sexo oposto e reagir a estes mostrando algum nível de ativação.

 

A resposta a esta pergunta é importante porque representaria um dos poucos estímulos capazes de promover a saída de insetos adultos dos esconderijos. E porque a saída do abrigo seria o início de um possível processo posterior de orientação sexual. Sem sar do abrigo, a orientação a distância seria inviável. Os resultados demonstraram que somente os machos mostram ativação na presença de sinais emitidos por fêmeas, aumentando consistentemente a quantidade de indivíduos que abandonam os abrigos durante o início da noite nessas condições. Vale ressaltar que os insetos de cada sexo foram estudados separadamente. A atividade locomotora dos machos foi mais intensa e, inclusive, tornou-se possível observar que, quando as fêmeas estavam no ambiente próximo, havia um número claramente maior de machos tentando se acasalar entre eles. Isso sugere que as fêmeas desta espécie emitem um sinal químico que promove a ativação dos machos, inclusive promovendo que eles abandonem os seus esconderijos e iniciem a procura.

 

Outro trabalho que tem a supervisão de Lorenzo é o desenvolvido pela pesquisadora Raquel Ferreira, com ninfas de Rhodnius prolixus. Ela se dedicou a estudar se a intensidade com que são expressos certos parâmetros comportamentais relacionados com o uso de esconderijos, tais como a tendência a sair dos abrigos durante a fase escura do ciclo diário e a atividade locomotora de ninfas da espécie, podem ser moduladas por pistas olfativas da presença do hospedeiro. Os dados mostram que, surpreendentemente, as ninfas quase não abandonam os seus abrigos se estiverem com um jejum breve, mesmo na presença de odor de camundongos. Porém, a medida em que o seu status nutricional vai sendo comprometido, a frequencia de saídas no início da fase escura aumenta, assim como a intensidade da locomoção geral dos insetos. Desta maneira, o trabalho reforça o conceito de que estes insetos passam a maior parte das suas vidas dentro de um esconderijo, no qual os agentes inseticidas que são usados para o seu controle não os atingem tão eficientemente quanto no exterior. Além disso, ficou demonstrado que o odor do hospedeiro promove a ativação dos insetos dentro dos esconderijos, estimulando a sua procura e a exposição dos triatomíneos, somente quando os insetos se encontram com um jejum prolongado.


Publicado em 10/7/2009.

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