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10/07/2009

Transmissão da doença de Chagas por meios alternativos é alvo de estudos

Renata Fontoura


A transmissão via oral da doença de Chagas pela ingestão de alimentos contaminados é um importante mecanismo de contaminação. Este tipo de transmissão, que ocorre principalmente na Amazônia é alvo de estudos por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O grupo de especialistas avaliou a infecção pelo Trypanosoma cruzi em mamíferos silvestres e domésticos de três áreas com diferentes graus de devastação e influência humana no mesmo município de Abaetetuba (PA). Os resultados serão apresentados durante o Simpósio Internacional Comemorativo do Centenário da Descoberta da Doença de Chagas, que acontece até esta sexta-feira (10/7) no Hotel Sofitel, em Copacabana, no Rio de Janeiro.

 

A forma clássica de transmissão ocorre quando a pessoa coça a região picada pelo barbeiro e as fezes eliminadas pelo inseto infectado pelo parasita penetram pelo ferimento. No entanto, muitos casos de infecção por via alimentar têm sido registrados, principalmente na Amazônia, onde não há presença do vetor em ambiente domiciliar. Esse mesmo grupo de pesquisadores já haviam desenvolvido uma proposta para a utilização de animais que ficam no entorno dos domicílios como sentinelas, que podem direcionar as ações de vigilância na região. Segundo a chefe do Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC, Ana Maria Jansen, que coordena o estudo, a detecção da origem da transmissão da doença de Chagas na região é um grande desafio. “A Amazônia é um mosaico paisagístico e cada peça deste mosaico apresenta suas peculiaridades que precisam ser consideradas na medida em que os fatores de risco também serão peculiares. Fatores como diversidade de habitats e espécies de reservatórios silvestres, a composição faunística local, os diferentes modos de o homem interagir no meio ambiente e as alterações ambientais e perda da biodiversidade são decisivos para tornarem os ciclos de transmissão da doença complexos e temporais”, pontua. “Em condições naturais, o T. cruzi, parasito causador da doença, infecta mais de cem espécies de mamíferos de diferentes ordens.

 

Este cenário complexo dificulta o diagnóstico de áreas de riso. André Roque está apresentando uma análise da complexidade desse mosaico de transmissão e a conseqüente dificuldade de se estabelecer uma medida de controle única para toda a região Amazônica. A presença do T. cruzi em animais que estão no peridomícilio pode funcionar como um alerta para intensificação de ações de vigilância em locais onde há maior risco de transmissão ao homem”, dispara a pesquisadora.

 

Convidados pelo Programa Estadual de Controle de doença de Chagas do Pará, coordenado pela Dra. Elenild Góes, os pesquisadores participaram de um projeto que avaliou aspectos relacionados à doença no município de Abaetetuba - que compreende mais de 40 ilhas e produz cerca de 900 toneladas de açaí por mês -, identificado como área de risco pelo Programa. “Realizamos quatro excursões juntamente com equipes médica, de georeferenciamento, de vetores, de vigilância sanitária e de educação e divulgação, cada grupo com sua função. Nosso foco foi a análise de animais, pequenos mamíferos silvestres e animais domésticos, em três áreas que se diferenciavam pela maior ou menor influência humana no ambiente”, explica André Roque, pesquisador do laboratório do IOC. “Nestas áreas, existem os mesmos animais que estão igualmente expostos ao parasito. Porém, encontramos três perfis epidemiológicos diferentes, reforçando a idéia de mosaico enzoótico de transmissão naquela região e a importância de se adotar medidas diferenciadas de controle da doença em cada uma das localidades”, avalia.

 

Para Ana Jansen, iniciativas como estas são fundamentais para o combate à doença. “Um trabalho como este, multidisciplinar e realizado de forma integrada, é uma experiência produtiva na medida em que associa de modo mais íntimo academia e serviço de saúde, e fundamental para a eficácia das ações de controle da doença na região Amazônica”, finaliza a pesquisadora.


Publicado em 10/7/2009.

 

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