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23/02/2011

Transmissor da malária cria rapidamente uma resposta contra o causador da doença

Fabíola Tavares


O transmissor de uma doença pode ajudar a controlá-la? Pesquisa desenvolvida por americanos, indianos e brasileiros sugere que sim. No estudo em questão, a doença é a malária, causada pelo parasita Plasmodium e transmitida ao homem pelo mosquito Anopheles. Os pesquisadores descobriram que o mosquito desenvolve rapidamente uma resposta imunológica ao parasita, destruindo-o. O trabalho – que contou com a participação de dois cientistas do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz Pernambuco) – foi publicado em setembro na revista Science. A pesquisa foi realizada no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês).


 De acordo com os pesquisadores, as bactérias estão diretamente envolvidas na resposta imune do <EM>Anopheles </EM>contra o parasita, mas ainda não é possível explicar como se dá essa relação

De acordo com os pesquisadores, as bactérias estão diretamente envolvidas na resposta imune do Anopheles contra o parasita, mas ainda não é possível explicar como se dá essa relação


Nos experimentos, os pesquisadores coletaram a hemolinfa (o equivalente a sangue nos insetos) de mosquitos contaminados pelo Plasmodium. Essa hemolinfa foi, então, transferida para mosquitos sadios, que, posteriormente, foram infectados pelo parasita. Os resultados mostraram que a hemolinfa transferida potencializou a resposta imunológica dos insetos: todos os mosquitos sadios, após a infecção pelo Plasmodium, eliminaram por completo o parasita. “Embora o Anopheles responda naturalmente ao Plasmodium, em alguns casos o parasita consegue completar seu ciclo de vida no organismo do mosquito”, explica o pesquisador Fábio Brayner, da Fiocruz Pernambuco.


A técnica de transferência de hemolinfa foi originalmente criada pelo pesquisador Luiz Alves, também da Fiocruz Pernambuco, e aprimorada pelo grupo. Com o uso de um microcapilar de vidro, eles retiraram a hemolinfa já diluída com anticoagulante, por meio de uma incisão no abdômen do mosquito. A transfusão foi feita com o auxílio de um microinjetor. Para avaliar o efeito da transferência de hemolinfa dos mosquitos contaminados para os sadios, os pesquisadores verificaram o número de parasitas (no estágio de oocistos) no intestino médio dos insetos. Entre o sétimo e o 14º dia após a infecção dos mosquitos sadios estimulados  com a hemolinfa, os oocistos haviam sido eliminados.


Em outros experimentos, os pesquisadores compararam dois grupos de mosquitos. O primeiro (grupo desafiado) já tinha desenvolvido previamente uma infecção pelo Plasmodium, com formação de oocistos, enquanto o segundo (grupo controle) nunca havia apresentado tal infecção. O grupo desafiado foi, então, infectado pela segunda vez e o grupo controle, pela primeira. A comparação das células de defesa dos dois grupos de mosquitos revelou algumas diferenças.


A quantidade de células do tipo granulócito foi significativamente maior no grupo desafiado, que, por sua vez, apresentou menor número de prohemócitos (células de defesa imaturas). Alterações morfológicas e funcionais nas células também foram identificadas. Os granulócitos do grupo desafiado apresentaram um tamanho maior e tinham mais grânulos em seu interior, indicando ativação celular para efetivar a defesa contra o parasita. Esses resultados sugerem que os mosquitos do grupo desafiado já contavam com uma espécie de “memória imunológica” para combater o Plasmodium.


Os achados da equipe, coordenada pela cientista Carolina Barillas-Mury, do NIH, põem abaixo a crença de que os invertebrados – animais que não têm esqueleto interno, como os insetos – são incapazes de apresentar resposta imune quando infectados logo na segunda vez. “Encontramos uma evidência clara de que eles têm uma memória imune inata que responde mais rápido do que a dos homens. Nos humanos essa memória é adaptativa, isto é, só à medida que é estimulada com algumas infecções, ela responde mais rapidamente”, explica Luiz Alves.


O papel das bactérias


Os grupos controle e desafiado foram testados, ainda, em duas situações diferentes: na presença e na ausência das bactérias existentes na flora interna do inseto. Para ambos os grupos, nas situações estudadas, os testes não detectaram mudança na quantidade de granulócitos e prohemócitos. De acordo com os pesquisadores, as bactérias estão diretamente envolvidas na resposta imune do Anopheles contra o parasita, mas ainda não é possível explicar como se dá essa relação.


A meta dos cientistas é descobrir uma maneira de interromper o ciclo de transmissão da malária, e os resultados da pesquisa apontam nessa direção. Entretanto, ainda há muito para se conhecer sobre o mosquito transmissor da doença. Além disso, ainda são necessários muitos estudos moleculares para identificar os principais elementos envolvidos na destruição do Plasmodium pelo Anopheles. O artigo também é assinado pelos pesquisadores Janneth Rodrigues e Rajnikant Dixit.


Publicado em 21/2/2011.

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