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10/09/2010

Tratamento contra a tuberculose ganha um novo aliado


Um estudo desenvolvido no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificou alterações genéticas associadas ao risco da ocorrência de hepatite medicamentosa em pacientes submetidos a esquemas terapêuticos à base de isoniazida (fármaco empregado no tratamento e quimioprofilaxia da tuberculose). Baseada em mais de 400 amostras de pacientes com tuberculose e indivíduos saudáveis, dos estados do Rio de Janeiro e Goiás, a pesquisa estudou o gene responsável pela produção da enzima N-acetiltransferase 2 (ou NAT2), capaz de metabolizar a isoniazida, descobrindo a ocorrência de novos polimorfismos. Com base nesta descoberta, foi desenvolvida uma técnica de base genética capaz de predizer o fenótipo de acetilação individual. A metodologia, que está em fase de validação, poderá ajudar na definição das doses ideais do medicamento para cada paciente, reduzindo os efeitos colaterais e aumentando a eficiência do tratamento.


 O estudo de Raquel Teixeira identificou alterações genéticas associadas ao risco da ocorrência de hepatite medicamentosa em pacientes submetidos a esquemas terapêuticos à base de isoniazida<BR><br />
(Foto: Gutemberg Brito)

O estudo de Raquel Teixeira identificou alterações genéticas associadas ao risco da ocorrência de hepatite medicamentosa em pacientes submetidos a esquemas terapêuticos à base de isoniazida

(Foto: Gutemberg Brito)


O trabalho, desenvolvido nos laboratórios de Genética Humana e de Biologia Molecular Aplicada a Micobactérias do IOC, é resultado da tese defendida por Raquel Teixeira no Programa de Pós-Graduação de Biologia Celular e Molecular do IOC, com orientação dos pesquisadores Adalberto Santos e Antonio de Miranda. “Os dados obtidos no projeto mostraram que as alterações no gene NAT2 estão significativamente associadas aos desfechos de hepatotoxicidade e hepatite medicamentosa induzida pela isoniazida”, descreve Raquel. Ela explica que, como a substância é geralmente administrada de forma oral e metabolizada por enzimas hepáticas, há casos de pacientes que não processam o medicamento normalmente e acumulam compostos tóxicos no organismo. Por outro lado, há indivíduos que metabolizam muito rápido a droga, não atingindo a concentração adequada para o tratamento e demandam uma dosagem maior.


O novo método laboratorial vem sendo desenvolvido no Instituto Oswaldo Cruz e tem como base o perfil e estrutura genética da população brasileira. Atualmente, os pesquisadores atuam na padronização das metodologias para futuramente conduzir testes clínicos em pacientes com tuberculose (fase do projeto já foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fiocruz). A descoberta das alterações e o método laboratorial ocasionaram a redação de um pedido de patente, depositado pela Fiocruz em 2007.


“A contribuição dessa pesquisa para o SUS vai desde a aplicação de uma medicina personalizada - medicamento correto para a pessoa correta na dosagem correta - até a diminuição do custo financeiro do Ministério da Saúde no tratamento da tuberculose, evitando tanto os desperdícios de dosagem de medicamento como despesas com tratamento de enfermidades decorrentes da toxicidade da medicação, seleção de cepas resistentes e diminuição das taxas de abandono”, enumera Raquel, que ganhou com o projeto o Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS de 2009.


Para Raquel, a validação das alterações identificadas como marcadores genéticos passíveis de utilização na prática terapêutica nacional depende de uma avaliação em larga escala da população brasileira, tendo em vista sua ampla diversidade étnica. Atualmente, o grupo de pesquisa do IOC vem conduzindo um estudo neste sentido. Os dados preliminares já permitem observar variações no perfil genético de NAT2 nas cinco macrorregiões do país, implicando, consequentemente, a necessidade adoção de tratamentos diferenciados.


Publicado em 9/9/2010.

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