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27/08/2010

Três experiências de sucesso no combate à varíola

Ruth Martins


As análises dos diferentes formatos de campanhas que integraram o Programa Internacional de Erradicação da Varíola são valiosas para enfrentar epidemias e os problemas que possam surgir no campo da saúde pública. Essa foi a tônica das apresentações no Painel histórico na quarta-feira (25/8), quando Gilberto Hochman, pesquisador da COC, ao lado dos historiadores das ciências Sanjoy Bhatracharya, da britânica University of York e de Claudia Agostoni, da Universidade Autônoma do México, falaram sobre as experiências no combate à varíola em seus países: Brasil, Índia e México.


O indiano Sanjoy ressaltou o papel das equipes de estrangeiros em seu país, durante a aplicação, pela Organização Mundial de Saúde, do Programa Internacional de Erradicação da Varíola. Lá, as equipes de profissionais incluíam russos, escandinavos e norte-americanos. “Vivemos várias experiências nos últimos anos das campanhas, quando eram aplicados modelos e práticas diferentes nas diversas etapas, desde o isolamento às múltiplas formas de vacinação. “Houve  algo como 35 tipos de campanha. Os desafios eram grandes”, lembrou Sanjoy. Outro aspecto destacado por ele foram as implicações da “porosidade” das fronteiras entre os países do Sul da Ásia, quando o objetivo era erradicar uma doença altamente contagiosa. “Havia refugiados, além de trabalhadores que cruzavam entre os vários países em busca de trabalho”.


Em uma apresentação em que utilizou fotografias para descrever a trajetória das campanhas em seu país, Claudia Agostoni destacou a importância da participação de toda a sociedade mexicana para  erradicar a varíola: “O programa da OMS contou com o apoio não apenas do Estado, que deslocou pessoal das áreas da saúde e da educação para as campanhas, mas das autoridades eclesiásticas, nos séculos 19 e 20”.


Gilberto Hochman frisou que a varíola ficou fora da agenda das políticas e programas públicos da saúde no Brasil, entre as décadas de 1930 a 1960. “Nosso país era o único da América Latina que não tinha um programa nacional de vacinação unificado e sistemático e o índice de casos da doença era o mais alto no continente”.


O Programa de erradicação foi implantado e a doença erradicada do país apenas em 1973. Um dado curioso de sua apresentação foi a comparação entre as campanhas de combate à varíola e outras doenças contagiosas ao longo da história recente do Brasil: originalmente as autoridades de saúde enfrentaram uma forte reação popular durante a Revolta da Vacina, em 1904, quando a população do Rio de Janeiro reagiu à obrigatoriedade da vacinação em massa.


Com a implantação dos programas de imunização e as repetidas campanhas, a aversão popular à vacina foi substituída pelo reconhecimento da sua importância: estudioso dos programas de saneamento e imunização no país, Hochman mostrou fotografias tiradas ainda na primeira metade do século 20, de longas filas de pessoas aguardando para se vacinar.


Múltiplas versões e histórias de programas de vacinas


No Painel  Histórico da quinta-feira (26/8), coordenado por Jaime Benchimol e Akira Homma, historiadores da saúde do Brasil, Europa e EUA falaram sobre os estudos que desenvolvem sobre diversos programas de imunização. e os impasses que enfrentam durante as campanhas regionais e internacionais.


Niels Brimnes, da University Aarhrus, na Dinamarca, mostrou dados comparando os programas de combate à varíola e à tuberculose na Índia. Paul Greenough, da University of  Iowa, nos EUA, destacou a polêmica entre equipes de profissionais de saúde dos EUA e da Rússia, durante a campanha de erradicação da varíola no Paquistão e Bangladesh. Tania Fernandes, da Casa de Oswaldo Cruz, mostrou quatro momentos marcantes na trajetória dos programas de vacinação antivariólica no mundo. Na sessão de encerramento, os historiadores da medicina Marcos Cueto, do Peru, Cristiana Bastos, de Portugal e o francês Daniel Tarantola falaram sobre Ciência, diplomacia e saúde: a erradicação da varíola, a Guerra Fria, cooperação internacional e direitos humanos.


Publicado em 27/8/2010.

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