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28/12/2009

Tuberculose e parasitoses na mira da educação em saúde

Marina Schneider


Um projeto que combina pesquisa científica e promoção da saúde está prestes a ter início na comunidade do Amorim, na periferia do Rio de Janeiro. Localizada no entorno do campus sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a comunidade será foco de uma iniciativa dedicada a investigar das interações entre a tuberculose e as doenças parasitárias. O projeto Capacitação comunitária para a prevenção da tuberculose e parasitoses através da educação popular participativa em saúde em comunidade de baixa renda do entorno do campus da Fiocruz, em Manguinhos, foi selecionado, em novembro, pelo edital de Cooperação Social para Desenvolvimento Territorializado, lançado pela Fundação. O projeto prevê a realização de um estudo imuno-epidemiológico sobre a prevalência e a inter-relação entre a tuberculose e as parasitoses intestinais, além de avaliar a influência de aspectos nutricionais e educacionais neste processo. O projeto foi um dos quatro selecionados entre 20 concorrentes e receberá fomento no valor de R$ 50 mil, que poderão ser utilizados até o final de 2010.


 A comunidade do Amorim fica no entorno do campus de Manguinhos da Fiocruz 

A comunidade do Amorim fica no entorno do campus de Manguinhos da Fiocruz 


Serão realizadas, também, ações de promoção da saúde por meio de atividades educativas como teatro e palhaçaria. “Quando temos uma metodologia que envolve o lúdico, o aprendizado é muito facilitado porque as pessoas se envolvem emocionalmente, o que encurta a distância entre os pesquisadores e os moradores”, explicou o coordenador do projeto e pesquisador do Laboratório de Ecoepidemiologia e Controle da Esquistossomose e Geohelmintoses do IOC, Antonio Henrique Moraes Neto. “O objetivo destas atividades é promover a saúde por meio da alegria, passando medidas de prevenção, diagnóstico e até capacitando os moradores para que eles possam atuar como futuros agentes promotores da saúde”, afirmou Antonio Henrique.


Uma das justificativas dos pesquisadores para a escolha do local onde acontecerá o projeto é que a região do entorno da Fiocruz é formada por um complexo de comunidades onde há uma dinâmica insuficiente de coleta de lixo, circulação de animais vadios, pouca cobertura de saneamento básico, residências mal ventiladas, sombreadas e superpovoadas, gerando condições propícias à proliferação e à circulação de variados patógenos. Antonio Henrique lembra que um piloto deste projeto foi realizado em 2008 na comunidade do Amorim e verificou que os moradores são capazes de expressar conceitos corretos sobre as parasitoses, mas isso não tem reflexo nas atitudes cotidianas. Agora, segundo o pesquisador, será possível ampliar o alcance e o número de ações da iniciativa. “Com os recursos financeiros obtidos por meio do edital poderemos realizar exames diagnósticos e a busca ativa por moradores infectados”, disse Antonio Henrique, destacando que o projeto prestará serviços para a comunidade e será de grande importância também para pesquisas do IOC. Cerca de 4.500 moradores serão beneficiados e estimulados a promover a autosustentabilidade das ações. Segundo o pesquisador, se houver receptividade o projeto ainda poderá ser ampliado para atingir outras comunidades do entorno da Fiocruz.


Estudos mostram que as parasitoses intestinais, assim como o estado nutricional dos indivíduos, podem interferir nas respostas imunes de diversas doenças, inclusive a tuberculose, e na capacidade dos indivíduos para responder às subsequentes infecções. De acordo com Maria Helena Saad, que também coordena o projeto e é pesquisadora do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC, será realizada uma pesquisa aplicada ao diagnóstico da tuberculose e das parasitoses e à compreensão da modulação da resposta imune entre o do hospedeiro (infectado ou não por M. tuberculosis) e co-infectado ou não por infecções intestinais. A ideia é que a investigação sobre esta interferência possa contribuir para a atualização de estratégias de saúde pública para estas infecções, mediante melhor conhecimento sobre o potencial diagnóstico de testes baseados na resposta imune. “Além do lado lúdico da educação para promoção da saúde, haverá também um retorno para a comunidade por meio dos laudos dos exames que informarão sobre o estado de saúde dos indivíduos”, completou Maria Helena.


Os dados obtidos por meio dos questionários que serão respondidos pelos moradores da comunidade do Amorim abrangerão características socioeconômicas, de moradia e sobre tuberculose, parasitoses intestinais e ectoparasitoses, como sarna e piolho. O projeto será desenvolvido durante todo o ano de 2010 e, quando estas informações forem associadas aos resultados das pesquisas e dos exames laboratoriais, será elaborado um perfil epidemiológico, imunológico e parasitário dos moradores. No final do projeto, estes indicadores serão reunidos em um banco de dados que ficará disponível para órgãos governamentais, podendo municiar a elaboração de políticas públicas para a região. Todas estas ações contam com a colaboração da coordenadora de pesquisa do Centro de Saúde Germano Sinval Farias da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), Elyne Montenegro Engstron.


O projeto é resultado de uma parceria entre cinco laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), ENSP/Fiocruz, Programa de Saúde da Família, Farmanguinhos/Fiocruz e Fórum do Movimento Social de Manguinhos. O projeto conta, ainda, com a participação de estudantes da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (ESPJV/Fiocruz) e com a colaboração de moradores que atuam na conscientização dos demais habitantes da comunidade do Amorim sobre a importância da realização do projeto.


Publicado em 23/12/2009.

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