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06/02/2013

Uma “ciência sensível” e ações coletivas para fazer frente aos riscos ambientais

Fernanda Marques


Desenvolvimento humano, meio ambiente e justiça são temas indissociáveis. Contudo, o atual modelo de desenvolvimento brasileiro e internacional, no âmbito de um capitalismo globalizado, intensifica padrões de produção e consumo injustos e insustentáveis. Esta não é uma constatação nova, mas, a partir dela, o livro Uma ecologia política dos riscos desenvolve uma crítica diferenciada: o objetivo é criar estratégias de entendimento que favoreçam o diálogo e a implantação de medidas de curto, médio e longo prazos para a construção de sociedades justas, democráticas e sustentáveis. Assinada pelo engenheiro de produção e psicólogo Marcelo Firpo, a obra acaba de ganhar sua segunda edição, revista e atualizada, com o selo da Editora Fiocruz.






“O esgotamento relativamente rápido da primeira edição, lançada em 2007, revelou o interesse de muitos leitores – pesquisadores, profissionais e estudantes – pelo tema dos riscos dentro de nosso enfoque integrado, fortemente influenciado pela ecologia política e pelos movimentos por justiça", conta Firpo. “Por esse motivo, em vez de simplesmente fazer uma nova reimpressão, preferi me dedicar a uma revisão que incorporasse alguns processos e ideias nesta nova edição”.


Primeiramente, o autor analisa, de forma contextualizada, os riscos ambientais decorrentes do desenvolvimento econômico e tecnológico. Ecossistemas e populações são negativamente afetados pelo atual modelo hegemônico de desenvolvimento, agravando ainda mais as iniquidades, pois os que mais sofrem são os grupos socialmente discriminados – como negros, camponeses, mulheres e trabalhadores excluídos – e os países e territórios da América Latina, África e Ásia.


“Em países como o Brasil e muitos outros da América Latina, ainda que com governos eleitos com ideais populares e libertários, a dependência a esse modelo constitui-se numa armadilha que vem produzindo amarras difíceis de se livrar em termos de alianças políticas, estratégias econômicas e instrumentos de políticas públicas”, escreve Firpo. “Os inúmeros retrocessos na legislação ambiental na América Latina, como o caso do Código Florestal no Brasil, cuja flexibilização atende aos interesses do agronegócio, e também as violências e os assassinatos contra ambientalistas são tristes marcas de todo esse processo”, exemplifica.


Em seguida, o autor defende que, para enfrentar os riscos, é necessário não só conhecê-los e estabelecer técnicas e medidas de controle e prevenção, mas também compartilhar saberes e construir estratégias de ação coletiva, integrando movimentos sociais, pessoas, instituições governamentais e não governamentais. Trata-se, pois, de um manifesto a favor de uma “ciência sensível”.


“A chamada por uma ciência sensível significa, acima de tudo, que fatos e valores, sujeitos e objetos, busca de verdade e reconhecimento de incertezas e ignorâncias devem andar de mãos dadas”, afirma Firpo, pós-doutor em medicina social pela Universidade de Frankfurt e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). O paradigma trabalhado pelo autor busca superar os conflitos entre o técnico, o humano e o social, mas sem abrir mão do rigor teórico e metodológico.


O livro coloca os riscos ambientais dentro de uma dimensão ética e social. Com sua abordagem integradora, busca também romper com o dualismo entre saúde humana e saúde da natureza. Para tanto, aprofunda conceitos como os de complexidade e de contextos vulneráveis. Apresenta, ainda, 11 princípios básicos para a compreensão dos riscos. A lista inclui, por exemplo, a importância de construir e trabalhar em redes sociais e intersetoriais, tanto para produzir e compartilhar conhecimento quanto para discutir e implantar ações conjuntas para a transformação da realidade.


Além de sistematizar alguns aspectos operacionais para análises integradas dos riscos em contextos vulneráveis, o livro indica possíveis caminhos e perspectivas de aplicação desses estudos na realidade brasileira. “As discussões sobre os riscos à saúde e ao ambiente estão frequentemente associadas, em seu lado negativo, às tragédias humanas, à ignorância e ao desrespeito ao próximo e à natureza. Mas também, em seu lado positivo, ao potencial de aprendizado e à possibilidade de escolhermos um outro caminho de desenvolvimento que nos torne mais saudáveis, felizes e dignos, seja como pessoas, coletivos e comunidades”, convida o autor.


Publicado em 6/2/2013.

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