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27/03/2009

Unitaid busca inovação para financiar medicamentos contra doenças negligenciadas

Informe Ensp


Com o objetivo de aumentar o acesso e a compra de medicamentos contra tuberculose, HIV/Aids e malária, foi criado em 2006 o Fundo Internacional para a Compra de Remédios (Unitaid), um dos maiores fornecedores mundiais de medicamentos e diagnósticos para essas doenças. Em entrevista ao Informe Ensp, o ex-diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e atual secretário-executivo do Unitaid, Jorge Bermudez, apontou as principais ações da agência e falou especialmente sobre mecanismos inovadores de financiamento para a tuberculose.


 Bermudez: O financiamento arrecadado é canalizado para a compra de testes e medicamentos de qualidade a pacientes necessitados de países de baixa e média renda (Foto: Virginia Damas/Ensp/Fiocruz)

Bermudez: O financiamento arrecadado é canalizado para a compra de testes e medicamentos de qualidade a pacientes necessitados de países de baixa e média renda (Foto: Virginia Damas/Ensp/Fiocruz)


De que maneira é possível inovar no financiamento para a compra de medicamentos contra a tuberculose?


Jorge Bermudez: Antes de qualquer coisa, é fundamental que os financiamentos sejam feitos de maneira comprometida, com continuidade, que nos permita implementar programas a longo prazo. O financiamento deve ser sustentável e duradouro. Hoje, os fundos doados de maneira solidária pelos governos da França, Chile, Coreia do Sul, Congo, entre outros, vêm prioritariamente de um desconto em passagens aéreas e representam 80% de tudo que recebemos. Esse valor fica em torno de US$ 350 milhões por ano e é isso que nos permite implementar atividades e impactar o mercado, baixando o preço dos medicamentos e tornando o mercado mais estável para a compra de produtos de diagnósticos e tratamento de HIV/Aids, tuberculose e malária. Esse imposto começou a ser recolhido em setembro de 2006.


Quais as ações mais importantes desenvolvidas pelo Unitaid?


Bermudez: Trabalhamos voltados para o financiamento de medicamentos e diagnósticos de HIV/Aids, tuberculose e malária. E trabalhamos nichos específicos, que não estão sendo cobertos por outras organizações, como o Fundo Global de luta contra a Aids, tuberculose e malária, a Unicef e a Organização Mundial de Saúde (OMS). Especificamente sobre a tuberculose, trabalhamos com medicamentos pediátricos, medicamentos multidrogas resistentes, entre outros. São produtos caros e pouco disponíveis. Também trabalhamos com novos métodos de diagnóstico em busca de diagnóstico mais rápido e preciso. Todos os produtos, testes, diagnósticos e medicamentos com que trabalhamos têm qualidade comprovada.


De que maneira as inovações impactam o financiamento dos produtos?


Bermudez: Como um exemplo, posso citar os medicamentos pediátricos para HIV/Aids e agentes retrovirais. Entre 2006 e 2007, 500 mil crianças precisavam de tratamento, mas apenas 30 mil estavam sendo atendidas. Em parceria com a Fundação Clinton para Desnutrição em Crianças Soropositivas, a Unitaid passou a fazer 100 mil novos tratamentos por ano. Em dois anos, já temos mais de 230 mil crianças em tratamento. Como consequência desse significativo aumento, um laboratório indiano passou a fabricar o produto a preços mais baixos. O preço do tratamento passou de US$ 200 por criança/ano para US$ 60. Em apenas três meses surgiu um terceiro produto no mercado, mais adequado e qualificado pela OMS, que está disponível para quem quiser comprar.


Como funciona o Unitaid?


Bermudez: O Unitaid foi lançada em 2006 pelos governos do Brasil, Chile, França, Noruega e Reino Unido com o objetivo de fornecer fundos adicionais para a luta contra o HIV/Aids, a malária e a tuberculose. Atualmente, é apoiado por 29 países e pela Fundação Bill e Melinda Gates. É importante ressaltar que quebramos a barreira entre Norte e Sul. Isso quer dizer que não temos apenas a ajuda de países do primeiro mundo. Cerca de 20 países da África também contribuem para o Unitaid. O financiamento arrecadado é canalizado principalmente para a compra de testes e medicamentos de qualidade garantida a pacientes necessitados de países de baixa e média renda.


Na área de tuberculose, os principais parceiros do Unitaid são a OMS, a Iniciativa Mundial para Medicamentos da parceria para Controle a Tuberculose - Stop TB, o Comitê da Luz Verde, a Iniciativa de Laboratório Mundial, a Fundação para Diagnósticos Inovadores (Find) e o Fundo Global de Luta contra a Aids, Tuberculose e Malária. Uma das principais características do Unitaid é trabalhar em parceria com outros organismos e, assim, impactar preços de produtos e medicamentos trazendo estabilidade ao mercado. Trabalhamos para assegurar também a adicionalidade e não a duplicidade de ações com outros organismos.


Temos hoje produtos já introduzidos no mercado, disponíveis para a compra por qualquer país ou organismo interessado. É evidente que as ações do Unitaid trazem ganhos e benefícios para a saúde pública e ajudam de fato para a melhoria das condições de enfrentamento dessas doenças nos países necessitados.


De que maneira a Fiocruz contribui para a luta contra as doenças negligenciadas?


Bermudez: Principalmente, com a capacitação de recursos humanos, que hoje atuam no Brasil e no exterior, e na pesquisa. A Ensp/Fiocruz é uma instituição que está na vanguarda do SUS. Muito do que é feito em outros países é inspirado em ações do Brasil.


Publicado em 27/3/2009.

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