Início do conteúdo

29/01/2006

Vacina de DNA imuniza camundongos contra o dengue

Catarina Chagas


Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o vírus do dengue chegou ao Brasil na metade do século 19 e, desde então, tem sido responsável por diversas epidemias no país. Como ainda não há um método eficiente para combatê-lo, a alternativa mais almejada é a produção de uma vacina capaz de gerar proteção contra seus quatro sorotipos: Den-1, Den-2, Den-3 e Den-4. Em seu doutorado no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma unidade da Fiocruz, a bióloga Simone Morais da Costa trabalha no desenvolvimento de uma vacina de DNA contra o vírus e já obteve resultados positivos em testes com camundongos.


"Alguns grupos estão pesquisando vacinas com vírus atenuados ou inativados, mas eles têm enfrentado problemas nos ensaios clínicos com humanos", diz Costa. "Já com a vacina de DNA não existe o risco de o paciente desenvolver a doença". A nova técnica de imunização consiste na construção de um plasmídeo (DNA circular originado de bactérias) recombinante contendo o gene desejado - no caso, o gene que codifica a proteína não-estrutural 1, ou NS1, retirada do vírus do dengue. Ao receberem o plasmídeo, as células do hospedeiro iniciam a produção da NS1 e, como a proteína é estranha ao organismo, começam a induzir uma resposta imunológica.

 


Segundo a doutoranda, uma das grandes vantagens desse método é a ativação do sistema imunológico como um todo, ou seja, da resposta humoral, que envolve a produção de anticorpos, e da resposta celular, que gera a produção de linfócitos T, responsáveis pela regulação de diferentes células do sistema e pela destruição de células infectadas.


Os testes de desafio estão sendo realizados em Biomanguinhos, outra unidade da Fiocruz, em colaboração com a equipe do pesquisador Marcos Freire. Cada experimento é composto de três grupos de dez camundongos cada. O primeiro deles recebe duas doses da vacina em intervalos de 15 dias. O segundo, duas doses do plasmídeo controle, que não tem o gene codificador da proteína NS1. Um terceiro grupo permanece apenas em observação. Ao final do período, todos os animais são desafiados com o vírus DEN-2 adaptado a camundongos e observados por 21 dias, a fim de avaliar a mortalidade e a morbidade dos camundongos.


A equipe do IOC, coordenada por Ada Alves, repetiu três vezes o experimento e observou que quase 100% dos animais vacinados se mostraram protegidos, sem os sinais clínicos da doença, enquanto os camundongos que não receberam a vacina morreram ou desenvolveram diferentes graus de paralisia nas patas. "70% dos camundongos que só receberam o vírus foram a óbito e a maioria dos sobreviventes ficaram paralíticos, enquanto apenas dois dos 30 animais vacinados desenvolveram a doença, e de uma forma bem mais branda", ressalta Costa. "É uma proteção grande".


A equipe realizou, ainda, em colaboração com o Departamento de Virologia do IOC, um experimento em que os camundongos foram infectados com o vírus Den-2 isolado de um paciente (sem adaptações) por via intraperitonial. "Com isso, tentamos nos aproximar das condições naturais de infecção", justifica a pesquisadora. "Nós avaliamos os danos causados ao fígado dos animais e constatamos que a vacina conferiu proteção aos que a receberam".


Ainda em 2006, os pesquisadores pretendem avaliar a proteção da vacina com o gene da proteína NS1 contra os outros sorotipos do vírus do dengue. Caso os resultados sejam positivos, a próxima etapa seria repetir os experimentos feitos com camundongos em primatas para, no futuro, chegar a uma vacina que possa ser aplicada a humanos.

Voltar ao topo Voltar