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20/05/2010

Visita de príncipes celebra parceria de 25 anos da Fiocruz com a Bélgica


A Fiocruz recebeu nesta quarta-feira (19/5) a visita de uma missão da Bélgica que está no país para ampliar e diversificar os laços empresariais, comerciais e técnico-científicos com o Brasil. À frente da missão está o príncipe Philippe Léopold, herdeiro do trono belga. A missão reforça e celebra os 25 anos de parceria do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos/Fiocruz) com a multinacional GSK, que começaram nos anos 80 com as primeiras negociações de transferência de tecnologia para produção de vacinas. Ao receber a missão belga, o presidente da Fundação, Paulo Gadelha, recordou os laços da instituição com empresas e universidades daquele país, lembrou da visita que o rei Albert, avô do príncipe Philippe, fez a Manguinhos em 1920, detalhou a importância da Fundação para o Sistema Único de Saúde (SUS), listou as atividades nas áreas de pesquisa biomédica, ensino, produção de medicamentos e de vacinas, controle de qualidade em saúde e inovação tecnológica, relatou os acordos de cooperação mantidos com entidades estrangeiras e historiou a parceria de um quarto de século com a GSK.


 A partir da direita, os príncipes Philippe e Mathilde, o presidente e diretor-geral da GSK Biologicals, Jean Stéphenne, e o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, em frente ao Castelo da Fundação<BR><br />
(Fotos: Peter Ilicciev)

A partir da direita, os príncipes Philippe e Mathilde, o presidente e diretor-geral da GSK Biologicals, Jean Stéphenne, e o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, em frente ao Castelo da Fundação

(Fotos: Peter Ilicciev)


Em solenidade na biblioteca do Castelo da Fiocruz, o príncipe Philippe - que veio ao Brasil acompanhado de sua esposa, a princesa Mathilde - e o presidente da Fiocruz descerraram uma placa comemorativa pelos 25 anos de parceria. Gadelha deu de presente ao príncipe uma foto em que seu bisavô, o rei Albert, aparece ao lado de Carlos Chagas na visita de 1920. Antes, o presidente da Fiocruz detalhou para a comitiva belga as vacinas produzidas pela Fundação e citou a importância dos acordos com a GSK para o fortalecimento e incremento da fabricação de imunizantes pela instituição. E comentou sobre a recente visita feita por uma delegação da Fiocruz às instalações da GSK na localidade de Tres Cantos, na Espanha. O objetivo da visita foi o de discutir possíveis colaborações na área das doenças negligenciadas, como malária, tuberculose e doença de Chagas. Uma cooperação que poderá levar ao desenvolvimento de novas drogas contra essas enfermidades, à organização de eventos científicos e ao intercâmbio entre pesquisadores.


 O príncipe e o presidente após descerrarem a placa pelos 25 anos de parceria entre a GSK e a Fundação

O príncipe e o presidente após descerrarem a placa pelos 25 anos de parceria entre a GSK e a Fundação


Um dos destaques da parceria com a GSK foi a assinatura, em 2009, de um acordo de cooperação tecnológica que inclui a transferência de vacina para pneumococo e uma parceria no desenvolvimento de vacinas para dengue, febre amarela inativada e malária. Com o acordo, a vacina pediátrica para pneumococo desenvolvida pela GSK passou a ser produzida por Biomanguinhos. O imunizante protege para meningite bacteriana, pneumonia, otite do ouvido médio e as formas de bronquite e de sinusite causadas pela bactéria pneumococo. No Brasil, o pneumococo causa cerca de 1,5 mil casos de meningite, 20 mil hospitalizações por pneumonia e mais de 3 milhões de casos de otite média aguda a cada ano. Com a novidade no calendário vacinal, pelo menos 20 mil mortes de crianças com menos de 5 anos poderão ser evitadas anualmente.


 O príncipe recebe a foto que mostra seu bisavô, o rei Albert, na Fiocruz

O príncipe recebe a foto que mostra seu bisavô, o rei Albert, na Fiocruz


Além da transferência de tecnologia da vacina pediátrica pneumocócica, o acordo entre Fiocruz e GSK inclui a parceria para o desenvolvimento tecnológico de vacinas para dengue, febre amarela e malária. Segundo o acordo, os resultados obtidos terão patente compartilhada entre Fiocruz e GSK. Na primeira etapa, o foco será voltado para o desenvolvimento de um imunizante para a dengue. A ideia é somar a iniciativa aos estudos que já são conduzidos na Fundação na busca de uma vacina para dengue por meio de outras abordagens tecnológicas. As duas instituições definiram que será investigada uma vacina  inativada para dengue, o que foi decidido tendo como base o sucesso da vacina inativada  contra encefalite japonesa desenvolvida pela GSK. A plataforma tecnológica da vacina contra dengue, que utilizará para produção de antígenos virais a tecnologia de cultura de células em alta densidade, será formulada com um potente adjuvante e poderá ser aplicada para desenvolvimento de outras vacinas virais inativadas, como a vacina contra a febre amarela e poliomielite.


Colaboração em outras áreas


A pesquisadora Tania Araújo-Jorge, diretora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), fez seus estudos de pós-doutorado na Bélgica. Ela lidera duas pesquisas do IOC em parceria com as instituições belgas. A primeira, com a Universidade Católica de Louvain, estuda o papel da alfa 2 macroglobulina na resposta do organismo às doenças infecciosas. Com a Universidade Livre de Bruxelas, desenvolve um projeto para estudar a importância nutricional e o papel imunológico do selênio. A instituição belga participa de um estudo no Brasil, coordenado por Tania, que visa desenvolver uma nova droga para tratar a doença de Chagas.


A Universidade Livre de Bruxelas desenvolve, ainda, outra linha de pesquisa em parceria com o IOC, coordenada pelo pesquisador Marcelo Alves Pinto. O estudo busca conhecer melhor o metabolismo do T. cruzi e desenvolver novas opções de fármacos para combater a doença. O Instituto está ainda em fase de implementação de outra parceria, com a Universidade de Gent. Focada na colaboração em biologia molecular, a colaboração visará desenvolver novas tecnologias para vacinas recombinantes contra doenças negligenciadas, como leishmaniose e a doença de Chagas.


A parceria com a Bélgica ainda abrange outros setores. De forma pioneira no Brasil, um novo teste diagnóstico para fibrose cística, doença genética que compromete principalmente o trato digestivo e o aparelho respiratório, vem sendo implantado no Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Trata-se da medida da diferença de potencial nasal (DPN), exame incluído nos critérios diagnósticos para a fibrose cística da Cystic Fibrosis Foundation (CFF), assim como o teste do suor, o teste do pezinho ampliado e a análise genética. O exame de DPN representa mais uma opção que possibilita o diagnóstico precoce da doença. A parceria com a Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, começou em 2004. E em dezembro do ano passado foi iniciado um processo para formalização de convênio entre a Fiocruz e a Universidade de Louvain como um todo, não apenas na área dedicada à pneumologia, e que incluirá intercâmbio de estudantes, técnicas, experiências e outros.


O grupo do IFF pretende criar um banco de dados com valores positivos e negativos, de forma a traçar o perfil da população em relação à doença. Isso será feito com os resultados do exame de DPN realizados em três grupos compostos por pacientes com fibrose cística diagnosticada, pais de portadores da doença e pessoas saudáveis. O IFF é considerado o principal centro de referência para fibrose cística no Rio de Janeiro.


Outra iniciativa que reúne a Fundação e uma instituição belga é a mantida pelo Grupo de Nutrição da Fiocruz Brasília, que desde 1990 tem uma parceria com o Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia, para o desenvolvimento de recursos humanos em planejamento participativo em alimentação e nutrição. Depois de formar duas turmas de gestores em alimentação e nutrição no país – um curso encomendado pelo Ministério da Saúde –, será montado, com esta metodologia, um curso para 1 mil profissionais de saúde das três esferas de governo, por meio da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).


A Fiocruz mantém outra parceria com o Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia. Com a colaboração da entidade belga, a Fiocruz Minas busca desenvolver novas estratégias para o diagnóstico da leishmaniose.


Histórico de parcerias


Nos anos 80, Biomanguinhos incorporou a tecnologia de produção da vacina de vírus vivos atenuados oral trivalente contra a poliomielite, por força de um acordo de cooperação tecnológica com o Japão. No entanto, com a disponibilidade internacional de concentrado viral, de alta qualidade e baixo preço, decidiu-se que o concentrado viral seria adquirido da GSK e em Biomanguinhos seria realizado o processamento final da vacina, com etapas de formulação, envasamento, controle de qualidade e rotulagem, e empacotamento. A atividade foi fundamental para o desenvolvimento de uma nova formulação da vacina de poliomielite, que foi decisiva para eliminação dessa virose no país – e marca o início da parceria da Fiocruz com a Bélgica.


O primeiro acordo de transferência de tecnologia formal entre Biomanguinhos e a GSK ocorreu em 1999 e permitiu que o Instituto iniciasse a produção da vacina conjugada contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib). A tecnologia, na época da negociação, era considerada de ponta e apenas dois laboratórios no mundo a produziam.  Atualmente, a Hib é produzida combinada com a vacina DTP (difteria, tétano e coqueluche) – fornecida pelo Instituto Butantan. Em 2005, completou-se a transferência de tecnologia, com a produção nacional de todo o ciclo, quando foram produzidos três lotes de consistência do produto, utilizados para os estudos clínicos de não inferioridade - demonstrando que a vacina produzida localmente era similar a da GSK.


Depois de longa negociação, em outubro de 2003, Biomanguinhos e a GSK assinaram um acordo de transferência de tecnologia da vacina combinada de rubéola, sarampo e caxumba (chamada tríplice viral), até então o único imunobiológico presente no calendário básico de vacinação ainda importado pelo Ministério da Saúde (MS). A partir de 2004, iniciou-se a assimilação da tecnologia e a produção da vacina. A cepa de caxumba utilizada na vacina é a mais aperfeiçoada do mundo. É indicada pelo MS para utilização no Programa Nacional de Imunização (PNI) porque apresenta menor reatogenicidade (tem menos eventos adversos), imunogenicidade e segurança significativamente superiores. O processo de nacionalização de todas as etapas de produção está em andamento, com a realização dos estudos clínicos de não inferioridade previstos para o primeiro semestre de 2010.


Outro momento da parceria com os belgas se deu em 2008, quando o Instituto e a GSK assinaram um contrato de transferência de tecnologia para produção da vacina de rotavírus. A previsão é de que cerca de 50 milhões de doses da vacina sejam produzidas nos próximos cinco anos. Atualmente, Biomanguinhos está modernizando e preparando as instalações para assumir as etapas finais do processo de produção da vacina. A nacionalização completa das etapas de produção está prevista para 2013. Estima-se uma economia de, pelo menos, US$ 100 milhões em um prazo de cinco anos com a incorporação definitiva da tecnologia.


O príncipe Philippe


Também conhecido como duque de Brabante (Philippe Léopold Louis Marie, em francês; e Filips Leopold Lodewijk Maria, em holandês) o príncipe Philippe nasceu em 15 de abril de 1960 e é o filho mais velho e o herdeiro do rei Alberto 2º da Bélgica e da rainha Paola. Foi educado em francês e em holandês na Real Escola Militar da Bélgica, entre 1978 e 1981, continuando seus estudos em Trinity College, na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Frequentou a Universidade de Stanford, na Califórnia, onde se graduou com um mestrado em ciências políticas em 1985. Depois que foi nomeado segundo-tenente em 1980, o príncipe obteve a insígnia de piloto de combate e seu certificado como paraquedista. Em 1989, Filipe frequentou uma série de sessões especiais no Real Instituto Superior de Defesa e foi promovido a coronel. Em 25 de março de 2001, o duque de Brabante foi nomeado major-general e contra-almirante.


Em 1999, o príncipe Philippe casou-se com Mathilde d'Udekem d'Acoz, filha do conde Patrik d'Udekem d'Acoz e da condessa Anna Maria Komorowska. O casal tem quatro filhos: a princesa Isabel, nascida em 2001, o príncipe Gabriel, de 2003, o príncipe Emanuel, de 2005, e a princesa Leonor, de 2008. Ao contrário de seu pai, conhecido como o rei dos belgas, Philippe é príncipe da Bélgica, e não príncipe dos belgas, um título que não existe. Ele é também o duque de Brabante, título tradicionalmente dado ao herdeiro aparente do trono belga.


A visita do rei Albert


O rei Albert e a rainha Elizabeth da Bélgica estiveram na Fiocruz em 27 de setembro de 1920, acompanhados do presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, e de uma delegação que incluía membros da Casa Real da Bélgica. O Careta, revista semanal de humor, registrou a recepção ao nobre belga veiculando uma foto de Alberto e sua delegação na biblioteca do Castelo de Manguinhos, junto de Carlos Chagas e do presidente Epitácio Pessoa. Da passagem do rei Albert pelo Brasil, que durou mais de dois meses, sabe-se ainda que Adolpho Lutz integrou a comitiva que recepcionou o soberano no Brasil, acompanhando-o em visitas ao Instituto Butantan e em algumas excursões da rainha Elizabeth e do príncipe Leopoldo da Bélgica ao interior de São Paulo.


Publicado em 19/5/2010.

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