Início do conteúdo

10/09/2013

Doenças Negligenciadas

Dengue: informação e ações efetivas ajudam a combater à doença

Renata Moehlecke


Nos últimos anos, a dengue continua sendo um problema alarmante no Brasil: dados do Ministério da Saúde apontam que, somente em janeiro e fevereiro de 2013, mais de 200 mil casos da doença foram registrados no país, um aumento de 190% em relação ao mesmo período no ano anterior. O número de casos graves, em comparação com o mesmo período, reduziu em 44% e o número de óbitos em 20%, mas muito trabalho ainda é necessário para que a doença deixe de ser tão negligenciada. Diversos órgãos de saúde no Brasil buscam formas mais eficazes de combater a ocorrência da enfermidade. O trabalho efetuado na Fiocruz tem se destacado, não só no âmbito da busca de meios mais eficazes para a prevenção, quanto no estudo epidemiológico e clínico da doença.       

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) apresenta um histórico amplo de ações no combate à dengue, que vão desde o isolamento dos vírus DENV-1 (1986), DEN-2 (1990), DENV-3 (2001) e DENV-4 (2011) ao estudo do inseto vetor da doença, o Aedes Aegypti. Em 2013, dois projetos que auxiliam a conscientização da população sobre a dengue e o combate a doença foram lançados. O primeiro se soma ao documentário premiado e ao vídeo O mundo macro e micro do mosquito Aedes aegypti - para combatê-lo é preciso conhecê-lo (assista aqui): trata-se das vídeo-aulas 'Aedes aegypti' – Introdução aos aspectos científicos do vetor. Pensado para ajudar a população a conhecer um pouco mais sobre o mosquito, a doença e seus impactos, o projeto apresenta, de forma simples e objetiva, informações capazes de contribuir também na rotina de diversos públicos, como professores, estudantes e profissionais de comunicação, tornando-os verdadeiros multiplicadores de conhecimento e colaborando para a prevenção da doença. O projeto aborda assuntos variados, incluindo orientações sobre combate aos focos do mosquito, diferenças entre A. aegypti e pernilongo doméstico, informações sobre o vírus, a história do mosquito e como ele se espalhou pelo mundo, além de dados sobre o comportamento do mosquito, conhecido por sua característica oportunista. As vídeoaulas são disponibilizadas em dez módulos temáticos, que podem ser assistidos separadamente ou em versão integral. Na mesma linha informativa, a unidade possui ainda um hotsite chamada Dengue: vírus e vetor, que reúne informações, imagens e outros vídeos sobre o tema.

Ainda em 2013, o outro projeto lançado pelo IOC foi o Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, uma iniciativa científica pioneira em andamento em cinco países. A nova estratégia de pesquisa para o controle da doença utiliza a bactéria Wolbachia para bloquear a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes aegypti, de forma natural e autossustentável. Atualmente, equipes de Entomologia de Campo e de Engajamento Comunitário atuam em quatro localidades nas cidades do Rio de Janeiro e em Niterói. Os bairros de Vila Valqueire, Urca, Tubiacanga e Jurujuba participam de estudos para a realização de futuros testes de campo, com a soltura de mosquitos com Wolbachia.

A Fiocruz Pernambuco também apresenta linhas de pesquisas referentes ao Aedes aegypti. No final de 2012, um sistema de monitoramento e controle populacional do vetor do vírus da dengue em Fernando de Noronha. Aproximadamente 100 armadilhas (ovitrampas) para captura de ovos do mosquito foram instaladas na localidade, permi­tindo saber os locais de maior população do mosquito, os pe­ríodos do ano de maior infestação pelo vetor e as áreas de maior risco de transmissão da dengue, entre outras informa­ções. A localização de cada uma delas é registrada com um aparelho de GPS.  A unidade regional da Fundação também possui estudos sobre a ação do vírus no organismo humano. Recentemente, a Fiocruz Pernambuco iniciou uma pesquisa exploratória que tem como objetivos saber qual a incidência da dengue nos menores de um ano. As metas são investigar qual o anticorpo (proteína que atua na defesa do organismo) materno é transferido ao bebê com mais frequências (se é o do DENV-1, DENV-2 ou DENV-3), como é a dinâmica dessas proteínas nos bebês, qual a frequência de mães com esses anticorpos e até quantos meses de vida eles permanecem no organismo da criança. A unidade também desenvolve trabalhos referentes a estudos epidemiológicos e possíveis vacinas para a doença.

 

Desafios no desenvolvimento de uma vacina

Em parceria com a GlaxoSmithKline (GSK), o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) tem realizado estudos para desenvolver uma vacina que proteja contra os quatro sorotipos da doença. No momento, a pesquisa sobre o possível imunizante está em fase pré-clínica, sendo o produto testado em camundongos. A previsão é que o teste em humanos comece em 2014.

A Fiocruz Pernambuco também possui, atualmente, pesquisas voltadas para o desenvolvimento e avaliação de uma vacina contra o vírus da dengue a base de DNA. Outra pesquisa avalia os peptídeos presentes no vírus DENV-3, que pode auxiliar tanto a produção de uma vacina quanto o diagnóstico desse sorotipo específico.

 

Epidemiologia e pesquisas clínicas

Onde há mais insetos vetores da dengue, maior a probabilidade de uma epidemia da doença. Por isso, o controle dos mosquitos transmissores é uma das medidas mais fortes de prevenção da enfermidade. Em março de 2013, um estudo feito por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco em parceria com o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) criou um Sistema de Monitoramento e Controle Populacional do Vetor da Dengue (SMCP-Aedes) que será adotado como modelo pela primeira vez no exterior. Estudiosos do Instituto Suíço de Saúde Pública e Tropical e do Instituto Cantonal de Microbiologia estiveram na sede da Fiocruz em recife participando de reuniões que tiveram como tema principal a aplicação do sistema de monitoramento na Suíça. No último dia foi realizada uma oficina sobre como desenhar os mapas para o controle do mosquito Aedes albopictus no cantão suíço.

Esse ano, outro estudo relacionado ao monitoramento e controle epidemiológico realizado na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) apresentou dados que auxiliam a reflexão sobre a temática. Uma dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-graduação em Epidemiologia em Saúde Pública avaliou a relação entre o risco da dengue e as variáveis climáticas (temperatura e precipitação) na cidade do Rio de Janeiro durante nove anos (de 2001 a 2009). O trabalho, publicado na forma de artigo na revista Cadernos de Saúde Pública, apontou que a elevação de 1°C na temperatura mínima em um mês ocasionou o aumento de 45% nos casos de dengue no mês seguinte; enquanto a elevação em 10 milímetros na precipitação levou ao aumento de 6% no número de casos de dengue no mês seguinte. Confira mais informações aqui.

No que se refere a testes clínicos para melhoria do tratamento em pacientes com a doença, a Fiocruz tem efetuado diferentes estudos que envolvem grupos etários em condições maiores de risco. Muito já se sabe sobre a dengue em adulto, mas entre os bebês poucos são os dados sobre ocorrência, distribuição, propagação e controle conhecidos no Brasil. A maioria dos estudos com esse enfoque é realizada em países do sudeste asiático, região com altos níveis de incidência (número de casos novos) da doença. Com a proposta de preencher parte dessa lacuna no Brasil, a Fiocruz Pernambuco iniciou uma pesquisa exploratória que tem como objetivos saber qual a incidência da dengue nos menores de um ano; qual o anticorpo (proteína que atua na defesa do organismo) materno é transferido ao bebê com mais frequências, se o DENV-1, o DENV-2 ou DENV-3; como é a dinâmica dessas proteínas nos bebês, qual a frequência de mães com esses anticorpos e até quantos meses de vida eles permanecem no organismo da criança. A unidade regional também tem realizado pesquisas ainda preliminares sobre o desenvolvimento de biomarcadores para direcionamento do tratamento de indivíduos com dengue. Os dados podem vir a facilitar o apontamento de melhores linhas de tratamento de acordo com o sorotipo contraído e o estágio da doença.

É válido ressaltar ainda que a Fiocruz é referência no atendimento clínico da doença, sobretudo em casos mais graves, a partir do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) e do Instituto Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (IFF). Essas unidades da Fundação estão preparadas para a atenção clínica necessária aos pacientes com a enfermidade encaminhados pelas secretarias municipais ou estaduais de saúde e por postos de saúde.

 

Rede Dengue

Promovida pela Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, a Rede de Ações Integradas de Atenção à Saúde no Controle da Dengue (Rede Dengue) surgiu, em 2003, com objetivo de gerar a integração de competências e ações para produzir soluções aplicáveis ao controle da dengue. Dentre as principais estratégias estão a educação para a prevenção, o mapeamento da vulnerabilidade territorial, e a avaliação e o monitoramento das ações de combate à doença. A Rede Dengue colabora com o Programa Nacional de Combate a Dengue, bem como os estados e municípios no controle da doença, e reforça o papel da Fundação como estrutura integrante do SUS no desenvolvimento de tecnologias assistenciais. Conheça os projetos e atividades.

O site da Rede Dengue funciona como uma fonte de informações qualificadas para o combate a doença. Em junho de 2013, o espaço divulgou que, para melhorar a assistência às gestantes com suspeita de dengue, a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a Fiocruz produziram o folder Dengue na Gravidez 2013. O material é a terceira edição de um protocolo de atendimento e manejo clínico das gestantes com dengue voltado para profissionais de saúde. Saiba mais sobre o folder aqui.

Voltar ao topo Voltar