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10/09/2013

Doenças Negligenciadas

Malária: Fiocruz se destaca na produção de antimaláricos e em estudos sobre a doença

Pamela Lang


A malária é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitida por vetores, ou seja, pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles. Caso não seja tratada de forma adequada e rápida, a malária humana pode se tornar grave e acarretar em morte.

Ainda não há vacina eficaz contra a doença. Estima-se que, em 2010, tenham sido notificados mais de 219 milhões de casos. A malária ainda é considerada endêmica em 104 países. A África é o continente mais afetado, concentrando 90% das mortes. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde (MS), em 2011, 99,7% dos casos de transmissão da doença se concentraram na Região Amazônica, considerada uma área endêmica no país, estando a maior parte dos casos notificados nos estados do Pará, Amazonas, Rondônia, Acre, Amapá e Roraima.

Dentre as ações de prevenção recomendadas pelo Ministério da Saúde estão a drenagem de áreas alagadas; pequenas obras de saneamento para eliminação de criadouros do vetor (causador da transmissão); obras de aterro; limpeza das margens dos criadouros; modificação do fluxo da água; controle da vegetação aquática; melhoramento da moradia e das condições de trabalho da população e, ainda, o uso racional da terra. O MS também indica a adoção de medidas de proteção individual contra picadas de insetos, principalmente nas áreas de risco. São elas: o uso de mosquiteiro impregnado com inseticida; o uso de telas nas portas e janelas; o uso de repelente e evitar locais de banho em horários de maior atividade do mosquito - manhã e final da tarde.
 

Tratamento

Ao longo dos anos, a Fiocruz tem obtido grande destaque no desenvolvimento de medicamentos para o combate à doença. Em 2012, o antimalárico desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmaguinhos/Fiocruz), em parceria com a organização de pesquisa e desenvolvimento sem fins lucrativos DNDi (Drugs for NeglectedDiseasesInitiative - Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, em português), foi pré-qualificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), indicando que o medicamento está de acordo com o alto padrão de qualidade exigido pela OMS. A obtenção dessa certificação permitiu que o antimalárico pudesse ser ofertado por organizações que recebem financiamento de organismos internacionais, como Unicef e The Global FundtoFight Aids, TuberculosisandMalaria (Fundo Global de luta contra a Aids, Tuberculose e Malária, em português), e, com isso, mais facilmente adquirido no Sudeste Asiático.

Em abril deste ano, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) também concedeu à Farmanguinhos o direito de fornecer o antimalárico Artesunato+Mefloquina (ASMQ) aos estados-membros do Fundo Estratégico da instituição. De acordo com o parecer, atualmente só existe uma fonte de ASMQ pré-qualificado pela OMS: o fabricado pela indústria indiana Cipla, que recebeu a tecnologia de Farmanguinhos mediante acordo assinado entre os dois laboratórios em 2008, e com participação da Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês). 
 

Desafios na pesquisa

Diversas unidades da Fiocruz também têm desenvolvido estudos sobre a doença. Em 2012, um estudo pioneiro realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) analisou aspectos da imunidade entre o mosquito transmissor da malária e o parasito. No mesmo ano, o IOC foi parceiro na organização do 18ª edição do Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, que reuniu mais de dois mil pesquisadores de 59 países para debater os avanços e desafios no combate às doenças negligenciadas. Dentre os destaques do evento, que é realizado desde 1913, estava a participação de Stanley Plotkin, que desenvolveu a vacina contra a rubéola de uso padrão mundial, e ScherifZaki, chefe do Departamento de Patologia de Doenças Infecciosas do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que atuou diretamente no controle dos surtos de Ebola, na África, entre 1995 e 2002.

A tese Identificação de potenciais determinantes imunológicos de gravidade da malária humana, de autoria de um pesquisador da Fiocruz Bahia, venceu o Prêmio Capes de 2011. Segundo o pesquisador, o grande problema nos casos é o do diagnóstico da malária assintomática, que segundo estudos realizados podem transformar seus portadores em potenciais transmissores do parasita para vetores não infectados. "Raros são os estudos no Brasil que avaliam a influência de co-infecções na apresentação clínica da malária. Nós decidimos avaliar o impacto da hepatite viral B na malária porque as áreas de distribuição destas doenças no mundo são coincidentes. Isto é importante para orientar políticas de controle de doenças simultâneas", avalia.

Outra unidade regional que se destaca nos estudos sobre a malária é a Fiocruz Amazonas. Um estudo da médica infectologista e doutora em medicina tropical Flor Martines-Espinosa, pesquisadora do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT), avaliou que há 6.546 registros de casos em gestantes, em 2010, sendo 364 em Manaus.

A história da doença

A malária também ganha espaço no campo da história das ciências. Um artigo, escrito por pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e publicado em 2011, na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, relata como a malária prejudicou as atividades da Comissão Rondon. Com a missão de estender os fios telegráficos até o extremo noroeste do Brasil e incorporar a área ao restante do país, a Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas (CLTEMTA), também conhecida como Comissão Rondon, reuniu de três a seis centenas de homens, dentre eles militares, telegrafistas, civis e grupos de indígenas. O artigo aborda a história de como a malária, doença endêmica nas regiões percorridas, forçou a comissão a abrir mão de alguns objetivos, retardou a realização de outros e assombrou a mente de seus participantes.

Campanhas

Em 2013, a Fiocruz apoiou e chamou atenção para a campanha realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a luta contra a doença. Com o slogan Invista no futuro: combata à malária, a OMS destacou este ano dados preocupantes sobre a enfermidade: apesar do número de mortes ter diminuído significativamente desde 2000, em todo o mundo, uma criança morre pela doença a cada minuto. A campanha da OMS também atentou para o fato de que é necessário um esforço maior nos próximos três anos para que sejam atingidos os Objetivos do Milênio no que se trata de eliminar a malária no futuro.

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