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15/05/2020

Artigo aborda relevância de pesquisas participativas para Covid-19

Informe Ensp


“O valor ético de tratar o outro como igual se traduz durante uma pandemia, por exemplo, em relações transparentes entre pesquisadores e comunidades que participarão de estudos clínicos (ou outros), assim como entre instituições de pesquisa”: é o que afirma o artigo Boas práticas de envolvimento da comunidade na preparação e condução de pesquisa, escrito no âmbito do Grupo de Trabalho sobre Bioética do Observatório Covid-19 - Informação para ação da Fiocruz, liderado pelo pesquisador Sergio Rego, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). No texto, a autora principal, Beatriz Thomé, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sugere algumas boas práticas de pesquisa. Confira. 

Beatriz fala sobre as perspectivas biomédicas e participativas das pesquisas e aponta possíveis mudanças. Segundo a autora no artigo, “a pesquisa na área da Saúde, em particular os estudos que envolvem seres humanos, tem foco biomédico, compreendendo os eventos relacionados à saúde humana como exclusivamente biológicos, sem necessariamente levar em conta o entorno social, econômico e cultural”. No entanto, as premissas da pesquisa participativa – surgidas na década de 1960 – podem servir de referencial para o envolvimento mais significativo da comunidade a participar de esforços de pesquisa no atual cenário”. 

A pesquisadora ressalta que, em particular, durante uma pandemia de proporções mundiais, como a que estamos vivenciando, seria fácil justificar uma abordagem biomédica e menos participativa “Em primeiro lugar, há pressa em obter resultados em relação a novas opções terapêuticas ou profiláticas contra a Covid-19. Adicionalmente, durante uma pandemia, os interesses públicos nacional e internacional podem se suplantar aos de uma comunidade específica. Por fim, as comunidades podem se deparar com protocolos de pesquisa de estudos multicêntricos que utilizam protocolos harmonizados de pesquisa, com metodologia e desfechos pré-determinados”. Porém, apesar das barreiras, ela acredita que “comunidades deveriam ser envolvidas no processo de pesquisa ao redor da Covid-19 da forma mais abrangente possível, uma vez que as repercussões sociais, políticas, econômicas, sanitárias, psicológicas, entre outras, assumem dimensões inéditas no contexto da pandemia”, defende. 

Para tanto, o artigo traz um série de sugestões de boas práticas de envolvimento da comunidade na preparação e condução de pesquisa, como harmonização dos protocolos de pesquisa com interesses locais; tomada de decisões inclusivas ao redor da pesquisa; construção dialogada de orientações e recomendações relacionadas ao tema da pesquisa adaptadas e acessíveis ao contexto social, econômico, cultural e sanitário dos grupos e indivíduos; envolvimento de comunidades não geográficas, tais como grupos de pacientes, pessoas mais vulneráveis para infecção ou pior prognóstico, ou pessoas afetadas por determinada doença na tomada de decisões; bem como o estabelecimento de estratégias de avaliação e discussão entre os envolvidos sobre o processo, resultados e consequências da pesquisa no contexto pós-epidemia para identificar problemas, lacunas de conhecimento, comunicação e informação; entre outros. 

Além de Beatriz – que escreveu a primeira versão do texto e a apresentou para ser debatida com os demais autores até chegarem conjuntamente à versão final -, o artigo é assinado por Luna Borges (UnB), Marisa Palácios (UFRJ), Pablo Dias Fortes (Ensp/Fiocruz), Luciana Brito (Unesco), Sergio Rego (Ensp/Fiocruz), Fermin Roland Schramm (Ensp/Fiocruz) e Gustavo Matta (Ensp/Fiocruz). 

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