16/05/2018
Há quatro anos, a pesquisa Nascer no Brasil lançou os primeiros resultados, com o panorama do parto e nascimento no país, caracterizado por excessivas intervenções. Debates aconteceram na comunidade acadêmica, no ambiente profissional e na sociedade em geral, gerando iniciativas. É o que aborda o volume 34 número 5 da revista Cadernos de Saúde Pública, que tem editorial assinado pela coordenadora da pesquisa, Maria do Carmo Leal, da Escola Nacional de Saúde Pùblica (Ensp/Fiocruz). No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), foi lançado o programa Rede Cegonha. Outro destaque é o Programa de Formação em Vigilância do Óbito Materno, Infantil e Fetal para Atuação dos Comitês de Mortalidade na modalidade de ensino à distância (EAD).
Um avanço expressivo também foi o estudo Nascer nas Prisões. Duas medidas jurídicas tomadas posteriormente aos resultados vieram a beneficiar esse grupo social: a proibição do uso de algemas durante o parto (Lei no 13.434/2017) e a prisão domiciliar para presas não condenadas, gestantes ou com filhos até 12 anos ou com deficiência (Supremo Tribunal Federal – Habeas Corpus Coletivo de fevereiro de 2018). Em 2017, o Ministério da Saúde lançou um projeto de aprimoramento e inovação no cuidado e ensino em obstetrícia e neonatologia, denominado Apice-On, objetivando melhorar a formação clínica e a gestão do cuidado na especialidade.
Para Maria do Carmo, os dados dessas pesquisas demonstram os benefícios de investimentos em ciência e tecnologia para análise e monitoramento de políticas públicas, sendo essencial que os avanços em curso possam continuar e se expandir com o propósito de que a atenção ao parto e nascimento seja constantemente aprimorada.
Entretanto, considera a pesquisadora da Ensp/Ficruz, que, para a consolidação de todos os passos dados até aqui, é indispensável aumentar o financiamento público no setor saúde, a defesa intransigente dos direitos sociais e de cidadania, a valorização das mulheres, e sobretudo, a redução da pobreza e das iniquidades sociais em saúde. Por último, ela acredita ser de suma importância a redução da mortalidade materna, um dos principais tópicos dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, sendo que para atingí-lo, é imprescindível que profissionais de saúde, gestores e a sociedade unam esforços a fim de intensificar as mudanças destinadas a elevar a qualidade da atenção obstétrica, em particular durante o período pré-natal e no parto. Assim, os resultados dos estudos mencionados reforçam que sejam adotadas medidas voltadas para a redução de desfechos adversos para mães e bebês, afirma Maria do Carmo.
Essa edição da Cadernos de Saúde Pública publicou também diversos artigos sobre atenção pré-natal, obesidade em idosos, cuidados das usuárias de cocaína e crack, acidentes de trabalho, mortalidade por diabetes e gravidez com zika. No artigo Fatores associados ao abandono e ao óbito de casos de tuberculose drogarresistente (TBDR) atendidos em um centro de referência no Rio de Janeiro, Brasil, os pesquisadores da Ensp/Fiocruz Paulo Victor de Sousa Viana, Paulo Redner e Jesus Pais Ramos alertam que a tuberculose drogarresistente (TBDR) representa hoje uma grave ameaça aos avanços no controle da tuberculose (TB) no Brasil e no mundo. No estudo deles, investigam-se fatores associados ao abandono e ao óbito de casos em tratamento para TBDR, em um centro de referência terciária do Município do Rio de Janeiro, Brasil. Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva, a partir dos casos notificados no Sistema de Informação de Tratamentos Especiais de Tuberculose (SITETB), no período de 1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2013.
Um total de 257 pacientes foi notificado no SITETB e iniciou o tratamento para TBDR. Desse total, 139 (54,1%) tiveram sucesso terapêutico como desfecho, 54 (21%) abandonaram o tratamento e 21 (8,2%) evoluíram para óbito. Após análise de regressão logística multinomial múltipla, a faixa etária acima de cinquenta anos foi observada como único fator de proteção ao abandono, ao passo que ter menos de oito anos de escolaridade e reingresso após abandono foram considerados como fatores de risco. Reingresso após abandono, recidiva e falência indicaram fatores de risco. Os dados da pesquisa reforçam a concepção de que o abandono do tratamento de tuberculose resistente é um sério problema de saúde pública, sendo necessário um adequado acompanhamento no tratamento de pacientes com esse histórico e com baixa escolaridade. Além disso, uma rede de apoio social ao paciente é imprescindível para que desfechos desfavoráveis sejam evitados, salientam os autores.
Acesse aqui todos os artigos publicados na revista Cadernos de Saúde Pública (vol. 34 n. 5), de maio de 2018.