Início do conteúdo

09/02/2009

Coleções científicas com peças reunidas desde 1903 estarão disponíveis em março

Renata Fontoura


Um acervo de valor inestimável para a saúde pública brasileira está sendo recuperado e levado a público por meio de um museu virtual. Desde órgãos humanos de importantes casos médicos, coletados pelo próprio Oswaldo Cruz e por grandes nomes da ciência nacional, até a maior coleção de febre amarela do mundo estarão disponíveis na versão online do Museu de Patologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz. São três coleções científicas que abrigam peças anatômicas reunidas desde 1903 e mais de 500 mil amostras de fígado coletadas durante campanhas para controle da febre amarela no país. O lançamento está previsto para março de 2009.

 

 Oswaldo Cruz em ação em seu laboratório na Fiocruz: peças do Museu incluem órgãos humanos coletados pelo próprio sanitarista (Arquivo COC/Fiocruz)
Oswaldo Cruz em ação em seu laboratório na Fiocruz: peças do Museu incluem órgãos humanos coletados pelo próprio sanitarista (Arquivo COC/Fiocruz)

Há aproximadamente dois anos o acervo do museu passa por um processo de restauração. As peças anatômicas das coleções da Seção de Anatomia Patológica já foram recuperadas por meio da limpeza dos vidros e da troca do fixador utilizado para conservação das peças. Neste momento, o trabalho está concentrado na recuperação das lâminas com corte histológico da Coleção de Febre Amarela, já com 10% das amostras de fígado restauradas. “Cada coleção tem uma especificidade, mas todas têm aspectos importantes da memória do que foi realizado pela Patologia do Instituto durante estes anos”, avalia o pesquisador Marcelo Pelajo, chefe do Laboratório de Patologia do IOC. “Além de recuperar a memória, o trabalho traz de volta este material para que possa ser estudado com as tecnologias de que dispomos hoje”, ressalta.

Integrante da equipe que atua na restauração, o auxiliar de necrópsia Nelson Araújo Silva, de 65 anos, se emociona ao falar das peças. “Entrei na Patologia do IOC em 1968 e conheço todo este material. Estou muito orgulhoso de estar trabalhando neste projeto, de ter iniciado esta recuperação”, afirma. Já aposentado, com mais de cinco décadas de vida dedicadas à Fiocruz, o técnico José Carvalho Filho, de 72 anos, se juntou à equipe há quatro meses. “Sou um apaixonado pelo IOC e rever este material é uma sensação muito boa”, comemora. Em média, cerca de 2.5 mil lâminas estão sendo restauradas por semana e 68 mil já foram digitalizadas.

O técnico em processamento de dados Newton Marinho da Costa Júnior, de 28 anos, representa a geração mais nova envolvida no projeto. “Meu campo de ação sempre foi matemática, tecnologia, informação. Trabalhando com Nelson e com José, estou ampliando meu conhecimento. Além das teorias laboratoriais, estou aprendendo muito com a vivência deles”, dispara.

Para a pesquisadora Barbara Dias, do Laboratório de Patologia, umas das responsáveis pelo projeto, o IOC está cumprindo seu papel em manter o patrimônio cultural da ciência. “A restauração das Coleções ressalta o perfil empreendedor de Oswaldo Cruz. Ele acreditava que, para fazer pesquisa séria no país, seria necessário ter o próprio acervo biológico interno. Não adianta querer estudar febre amarela no Brasil, como ele fez, trazendo peças de outros lugares do mundo”, exemplifica.

Cada peça anatômica do acervo da Coleção da Seção de Anatomia Patológica corresponde a um caso estudado para investigação de mortes em decorrência de doenças como Chagas e malária. A documentação é preservada pela Casa de Oswaldo Cruz. “Durante a ditadura militar, no episódio conhecido como Massacre de Manguinhos, em 1970, parte da documentação das coleções que compõem o Museu foi destruída, assim como grande parte das peças históricas. Muitas das peças que compõem hoje o acervo se salvaram porque foram escondidas pelos pesquisadores em outras partes do campus ou até em suas residências”, conta Barbara. Uma versão online do Museu Virtual da Patologia está disponível para testes aqui.

Coleção da Seção de Anatomia Patológica

Composto atualmente por mais de 850 peças anatômicas, o acervo da Seção de Anatomia Patológica foi iniciado por Oswaldo Cruz em 1903 e é resultado do trabalho de grandes nomes da ciência nacional desenvolvido até a década de 1970.  Embora tenham ocorrido perdas de material principalmente durante os anos de 60 e 70, as peças anatômicas remanescentes constituem o próprio documento histórico do trabalho de famosos patologistas da Escola de Manguinhos.

Coleção de Febre Amarela

Composta por 498 mil casos - amostras de fígado coletadas por viscerotomia - o acervo foi gerado pelo Laboratório de Histopatologia implantado em 1931, quando o contrato entre o governo Brasileiro e a Fundação Rockfeller foi renovado, e os norte-americanos, por meio do Serviço Cooperativo da Febre Amarela, assumiram a responsabilidade pela campanha anti-amarílica em quase todo o país. O acervo foi transferido para o IOC em 1949 e uma vasta documentação escrita, impressa e iconográfica, preservada pelo Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, acompanha o material. Protocolos de pesquisas, registros de casos da doença, fichas com laudos da histopatologia, além de fotos de indivíduos ou locais de coleta, fazem parte da documentação.

Coleção do Departamento de Patologia do IOC

Reunido a partir de 1984, o acervo remete às atividades do Departamento de Patologia do IOC e é composto por material biológico e documental humano e de animais de experimentação. A coleção guarda a história de pesquisas científicas que vêm resultando em contribuições importantes para o entendimento da fisiologia humana e de algumas doenças, como a esquistossomose e a angiostrongilíase.

Publicado em 9/2/2009.

Voltar ao topo Voltar