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27/06/2013

Coletânea propõe diálogo multidisciplinar sobre políticas públicas

Fernanda Marques


Muitas são as disciplinas acadêmicas que têm se dedicado ao estudo das ações e dos desafios do Estado, sobretudo a partir dos anos 1980, no contexto da redemocratização do país. Foi quando começaram a ganhar fôlego as pesquisas sobre as políticas públicas. Não só diferentes disciplinas se voltaram para esse campo, como os estudos passaram a focar uma grande variedade de temas. Se, por um lado, a pluralidade de olhares contribui para o avanço das pesquisas, por outro, a dispersão disciplinar e temática indica um risco de fragmentação do campo. A necessidade de sistematizar os estudos na área, mas sem abrir mão de um panorama abrangente, motivou o lançamento da coletânea A política pública como campo multidisciplinar, organizada pelos professores Eduardo Marques, da Universidade de São Paulo (USP), e Carlos Aurélio Pimenta de Faria, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). O livro acaba de ser publicado pelas editoras Unesp e Fiocruz, com o apoio do Centro de Estudos da Metrópole (CEM).

 

A coletânea propõe um diálogo entre ciência política, sociologia, administração pública, antropologia, direito, psicologia, demografia, história e relações internacionais. Os capítulos apresentam as teorias e os enquadramentos conceituais que têm sido produzidos e utilizados por cada disciplina para o estudo das ações do Estado. O objetivo é que esse quadro favoreça uma interpretação colaborativa, construída sobre bases teóricas compartilhadas. A expectativa, portanto, é ir além da multidisciplinaridade, tornando as fronteiras disciplinares menos rígidas, por meio de abordagens inter ou mesmo transdisciplinares.

“No país, a área tem ainda um longo caminho a percorrer no sentido da desejada superação da multidisciplinaridade, se não para a constituição do campo como transdisciplinar, pelo menos para a rotinização da interdisciplinaridade na pesquisa e no ensino sobre as políticas públicas”, afirmam os organizadores. E o desafio é ainda mais premente – e também estimulante – porque o campo das políticas públicas está em crescimento. “Só temos razões para imaginar a continuidade dessa expansão, seja pela multiplicação de cursos de graduação e pós-graduação em políticas públicas, seja pela criação de carreiras de gestor de políticas em vários governos subnacionais, seguindo o governo federal”, argumentam.

Eles lembram também que, além das universidades e das diferentes esferas do governo, outros atores sociais também têm contribuído para o avanço desse campo. “No plano da sociedade, a instrumentalização do conhecimento científico tem sido uma constante por parte de ONGs e grupos de interesse, que não raro se tornam também produtores de conhecimento acerca das políticas públicas e dos problemas societários”, destacam.

Embora o livro não trate especificamente dos setores aos quais as políticas públicas se destinam, como saúde, educação e planejamento urbano, tais áreas estão contempladas pelo diálogo mais amplo proposto ao longo dos capítulos. A coletânea teve origem nos debates travados durante o fórum A Multidisciplinaridade na Análise de Políticas Públicas, no 7º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política, no Recife, em 2010. Àqueles debates se somaram outras reflexões e contribuições inéditas, tornando esta publicação uma leitura fundamental para quem se interessa pelos desafios do Estado neste início de século e pelas distintas formas de compreensão das políticas públicas.

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