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24/06/2020

Covid-19: seminário debate importância da Atenção Primária

Informe Ensp


A importância da Atenção Primária à Saúde (APS) no combate à Covid-19 foi pauta de seminário online realizado em 17 de junho pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção à Saúde (VPAAPS/Fiocruz), a Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic/Fiocruz) e a Gerência Regional de Brasília. Na ocasião foi apresentada, por gestores e pesquisadores da Fundação, a experiência da Fundação e os desafios para o fortalecimento do SUS frente à pandemia. Ao abrir o evento, a coordenadora da Área de Atenção à Saúde da VPAAPS, Patricia Canto, destacou que a pandemia de Covid-19 gerou uma sobrecarga no sistema de saúde de todos os países, desde o primeiro registro reportado à OMS em 31 de dezembro de 2019. “Hoje já são quase 8 milhões de casos em todo o mundo, com mais de 434 mil mortes. A doença se espalhou rapidamente para as periferias dos centros urbanos e, da mesma forma, avançou para o interior do país, em cidades com menor disponibilidade de leitos de alta complexidade", lembrou. Ela reforçou que a vigilância e o monitoramento epidemiológicos são extremamente necessários para a redução da morbimortalidade pela doença. “A pandemia atingiu um país desigual. O SUS é a maior fortaleza das ações de saúde pública e sempre enfrentou dificuldades ao longo das três décadas de sua existência, em especial por conta do subfinanciamento, com impactos importantes na Atenção Primária”, disse.

O vice-presidente da VPAAPS, Marco Menezes, destacou que a pandemia instaurou a maior crise sanitária e humanitária do século, a qual, segundo ele, é de longo prazo. Para ele, a pandemia tem revelado a fortaleza do SUS, mas também mostrado o grande vazio que ficou com a falta de investimento no sistema público de saúde. Menezes apresentou algumas ações da Fiocruz para o fortalecimento da APS frente à pandemia. Entre elas, as contribuições da Fundação para a realização da Primeira Conferência Nacional de Saúde e criação do Painel CoVida, plataforma que permite a visualização de dados atuais, a evolução dos casos, óbitos, concentração da doença e previsão da situação nos próximos dias em todos os estados do Brasil. Ele também reforçou que a instituição tem atuado fortemente na questão do racismo, inserindo o tema na pauta de debates internos e se colocando contra qualquer tipo de discriminação. "O lema da Fiocruz na Agenda 2030 da ONU - Ninguém deixado pra trás - está colocado para nós como um grande desafio na tentativa de salvar vidas”, afirmou.

A presidente da Fiocruz, Nísia Lima, reforçou que o seminário é fruto de um acúmulo de trabalho no campo da Atenção Primária à Saúde, articulando as linhas do cuidado, da Atenção à Saúde, da educação e da formação de profissionais para o SUS. “Temos nossa instituição unida em torno dessa agenda a partir de importantes linhas de pesquisa e de trabalho nos campos do cuidado e de formação. O seminário reúne a histórica experiência da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocuz) em trabalhos de importância sobre o tema, a experiência da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio na formação de profissionais de saúde e a interface de tudo isso com o tema da Vigilância e o IdeiaSUS”, enfatizou.

Em seguida, a pesquisadora do programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Ensp, Ligia Giovanella, falou sobre os desafios da APS antes da pandemia e no enfrentamento à Covid-19. Ela atentou que o combate à doença depende do fortalecimento do SUS em todos os seus componentes: a Vigilância em Saúde, o cuidado em todos os níveis, a Promoção, a Prevenção, a Pesquisa e a Formação. “Precisamos de mais SUS e mais Estado para ter mais saúde”, defendeu. Ligia também lembrou que as experiências internacionais têm mostrado que medidas de isolamento social, associadas à testagem adequada, identificação de casos e busca de contatos e proteção adequada dos profissionais de saúde, têm conseguido reduzir o contágio e reduzir mortes. Nesse contexto, segundo ela, a Atenção Primária à Saúde é fundamental, pois são os profissionais de saúde dessa área que fazem a Vigilância em Saúde, ou seja, a identificação e a busca por pessoas que tiveram contato com alguém infectado. “O modelo de APS brasileiro tem comprovado os impactos positivos na saúde da população, desempenhando papel decisivo no controle da epidemia e na continuidade do cuidado, devendo e podendo atuar na abordagem comunitária necessária no enfrentamento de qualquer epidemia”, disse.

A professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Mariana Nogueira, destacou a importância da APS na Vigilância Sanitária Ativa e Comunitária em Saúde, na educação em saúde e prevenção de doenças. “A importância da Atenção Primária em Saúde se dá no suporte aos grupos mais vulneráveis não somente para o acompanhamento das pessoas com doenças crônicas, mas também em relação às pessoas que estão em vulnerabilidade, seja social ou econômica ou em situação de violência familiar”, afirmou. Segundo ela, para analisar os desafios da APS, é necessário o pensamento de que a mesma se faz enraizada nos territórios. “Apresentar os desafios da APS na perspectiva ampliada da determinação social do processo saúde-doença implica em não limitar essa análise somente aos aspectos relacionados aos desafios para o processo de trabalho, mas também incluir algumas contradições e dificuldades que constituem a APS e que são determinações do mundo do trabalho, como, por exemplo, o desfinanciamento das políticas sociais”, afirmou.

Projetos estratégicos da Fiocruz no âmbito da Atenção Primária

Moderado pelo diretor da Ensp, Hermano Castro, o painel Projetos Estratégicos da Fiocruz no campo da Atenção Primária à Saúde compilou alguns dos principais programas liderados pela instituição para o fortalecimento da APS. Castro abriu o painel afirmando que o seminário é uma construção de todos e lembrou que a Fiocruz sempre se pautou no debate para o reforço da APS, sendo essa uma das marcas centrais da Ensp. “A Atenção Primária à Saúde é uma política capaz de avançar na redução das iniquidades do sistema e das desigualdades sociais. Se, nesse momento de pandemia, ela tivesse o reforço necessário e os milhões investidos em compras de respiradores, se tivesse, ao menos, a metade desses recursos investidos na APS, poderíamos ter economizado e preservado vidas nos territórios, muitas vezes sem atendimento e diagnóstico", destacou. Ele atentou que a Covid-19 é uma doença desigual, pois a classe média teve acesso ao atendimento e a UTIs no setor privado de saúde, mas a desigualdade avançou nos territórios vulnerabilizados, como foi o caso de algumas regiões do Rio de Janeiro, onde há maior número de óbitos e menor número de casos diagnosticados, em comparação com bairros de classe média. Ele ainda chamou a atenção para as diversas dificuldades encontradas ao se fazer a Vigilância Ativa nos territórios vulneráveis, pois, neles, há maior necessidade de polos de atendimento, pequenos gripários, testagem e monitoramento.

A coordenadora do projeto Teias-Escola Manguinhos, Gisele O´Dwyer, discorreu sobre as ações do projeto no enfrentamento à Covid-19. Parceria da Ensp com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, o Teias-Escola Manguinhos é responsável pela gestão da Atenção Primária à Saúde no território de Manguinhos, adotando o modelo da Estratégia de Saúde da Família como ordenador do sistema de saúde local. O atendimento se dá por duas Unidades Básicas de Saúde: o Centro de Saúde e a Clínica de Saúde da Família Victor Valla. Com a instauração do programa, a cobertura da saúde da família foi ampliada para 100% da população residente no território. A iniciativa conta com um Painel da Situação de Manguinhos, em funcionamento desde o dia 20 de abril, que ajuda no acompanhamento de casos na região, sendo compartilhado com municípios. Ela disse que houve uma pequena redução no número de atendimentos nas últimas duas semanas nas duas Unidades de Saúde, com retorno de um aumento nessa última semana. “Quando nossos pacientes chegam, ficam em fluxos separados. Precisamos montar tendas fora da clínica. Os pacientes vão para uma avaliação médica de uma equipe de resposta rápida e, depois dessas respostas, se voltarem para casa, nós mantemos o monitoramento telefônico, feito por 16 dias contados após o início dos sintomas”, explicou.

Pesquisador da Ensp, André Pèrissé falou sobre a Vigilância Ativa no enfrentamento à Covid-19, a qual, segundo ele, é uma atividade ainda pouco desenvolvida no campo da Atenção Primária em Saúde. “Em um período de pandemia, a Vigilância Epidemiológica é uma iniciativa fundamental na busca de casos”, destacou. Segundo ele, no caso da Covid-19, a investigação de casos é ainda mais difícil, pois faltam testes que confirmem o diagnóstico da doença. Além da escassez de testagem, outro desafio da Vigilância Epidemiológica frente à pandemia de Covid-19, segundo o pesquisador, é a subnotificação de casos, pois, como a doença frequentemente se manifesta sem ou com poucos sintomas, nem sempre as pessoas infectadas buscam atendimento. “A Vigilância Ativa permite uma variação mais precisa da situação, sendo importante nessa orientação mais efetiva para a intervenção oportuna e o controle da transmissão”, enfatizou.

O pesquisador do Ideia SUS, Emanuel Junior, apresentou o Banco de Práticas e Soluções em Saúde e Ambiente, plataforma colaborativa criada pela Fiocruz para compartilhar tecnologias e conhecimento voltados para o fortalecimento e consolidação do SUS. A plataforma também conta com um repositório para compartilhar informações e práticas para o enfrentamento do novo coronavírus. “Teremos um grande desafio agora, a partir da Chamada Pública da Fiocruz para o financiamento de ações emergenciais voltadas a populações vulneráveis. A iniciativa selecionou 145 projetos. Faremos de tudo para que todos eles estejam contemplados em nossa plataforma do IdeiaSUS”, garantiu.

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