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13/05/2016

Dados do Ministério mostram evolução do chikungunya no Brasil

Regina Castro (Coordenadoria Comunicação Social da Fiocruz)


Dados do Ministério da Saúde (MS) correspondentes ao período de 3 de janeiro a 4 de abril mostram evolução no comportamento da chikungunya no Brasil, com significativo aumento do número casos e de óbitos nos municípios afetados. Até abril de 2016, foram notificados 39.017, sendo 6.159 confirmados. O número contrasta com o somatório de casos registrados em 2015, que chegou a 13.236.

Em comparação com 2015, quando ocorreram seis casos de óbito, até abril de 2016 já se computa um aumento de duas vezes do número óbitos: 12 casos foram confirmados laboratorialmente, sendo que 9 deles ocorreram no Recife. Também houve uma sensível mudança na mediana de idade dos óbitos. Em 2015, a faixa etária com mais óbitos estava na casa dos setenta anos (mediana: 75), sendo que até abril de 2016 a mediana está em 62 anos.

A análise da taxa de incidência de casos prováveis (número de casos/100 mil habitantes) mostra que a Região Nordeste foi a mais atingida, apresentando um percentual de 56 casos/100 mil habitantes. Os estados de Sergipe e Bahia, seguidos por Pernambuco e Rio Grande do Norte, apresentaram as maiores taxas.

Pode-se observar ainda um grande aumento no número de municípios que passaram a apresentar chikungunya. Se em 2015 eram 696 municípios, até abril de 2016 a doença já foi vista em 1.126 municípios.

Segundo o infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha, coordenador da Fiocruz Mato Grosso do Sul, o aumento do número de casos de chikungunya no Brasil pode ser explicado pelo mesmo raciocínio da explosão dos casos de zika. “Por um lado, temos uma população majoritariamente virgem em termos imunológicos em relação ao vírus chikungunya. E pelo outro, temos índices elevados de infestação do mosquito transmissor do vírus, o nosso conhecido Aedes aegypti”, afirmou. 

O cenário que aponta para o aumento do número de casos de chikungunya, alertou o infectologista, está em franca progressão. A tendência, informou ele, é que os casos novos de chikungunya apresentem o mesmo comportamento sazonal das epidemia de dengue, com elevação nos períodos mais quentes e mais chuvosos do ano, fato que varia entre as várias regiões do Brasil. No entanto, ao contrário do que é visto na dengue, em relação a chikungunya, observa-se que, mesmo passado o período epidêmico, os doentes continuam procurando as unidades de saúde.

A chikungunya é uma doença que pode evoluir de forma crônica em um elevado percentual de doentes, nos quais os sintomas duram em média seis meses, o que sobrecarrega muito as redes pública e privada de saúde. O tratamento pode variar desde analgésicos usados de forma rotineira, como Paracetamol e Dipirona, passando por anti-inflamatórios e corticoides, até medicamentos de uso mais restrito, tais como Hidroxicloquina e Metotrexato, estes últimos mais comumente utilizados para doenças reumatológicas.

Histórico

Em 2014, no Brasil, entre os meses de julho e agosto, foram confirmados 37 casos de chikungunya importados, de pacientes originários, principalmente, do Haiti e da República Dominicana. Em setembro, foram confirmados dois casos autóctones no município do Oiapoque (AP). Ambos os casos foram de residentes no município, sendo filha e pai, com início dos sintomas em 26 e 27 de agosto, respectivamente. Nesse ano, a cidade de Feira de Santana (BA) enfrentou uma grande epidemia com forte impacto socioeconômico para a rede pública de atendimento bem como para a qualidade de vida das pessoas acometidas.

O nome chikungunya significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanzânia. Refere-se à aparência curvada dos pacientes que foram atendidos na primeira epidemia documentada, na Tanzânia, localizada no leste da África, entre 1952 e 1953. O vírus circula em alguns países da África e da Ásia.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 2004 o vírus já foi identificado em 19 países. Naquele ano, um surto na costa do Quênia propagou o vírus para Comores, Ilhas Reunião e outras ilhas do Oceano Índico, chegando, em 2006, a Índia, Sri Lanka, Ilhas Maldivas, Cingapura, Malásia e Indonésia. Nesse período, foram registrados aproximadamente 1,9 milhão de casos – a maioria na Índia. Em 2007, o vírus foi identificado na Itália. Em 2010, há relato de casos na Índia, Indonésia, Mianmar, Tailândia, Ilhas Maldivas, Ilhas Reunião e Taiwan – todos com transmissão sustentada. França e Estados Unidos também registraram casos em 2010, mas sem transmissão autóctone (quando a pessoa se infecta no local onde vive). Recentemente o vírus foi identificado nas Américas.

No final de 2013, foi registrada transmissão autóctone em vários países do Caribe (Anguila, Aruba, Dominica, Guadalupe, Guiana Francesa, Ilhas Virgens Britânicas, Martinica, República Dominicana, São Bartolomeu, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia e São Martinho) e em março de 2014, na República Dominicana. Toda a população do continente é considerada como vulnerável, por dois motivos: como nunca circulou antes em nossa região, ninguém tem imunidade ao vírus e ambos os mosquitos capazes de transmitir a doença estão presentes em praticamente todas as áreas das Américas.

A doença

Os principais sintomas da doença são febre acima de 39 graus, de início repentino, e dores intensas nas articulações de pés e mãos – dedos, tornozelos e pulsos, altamente incapacitante. Pode ocorrer, também, dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. Cerca de 30% dos casos não chegam a desenvolver sintomas.

Como agravante, essas manifestações podem perdurar por longo período, já tendo sido observadas até dois anos após a doença. O tratamento para o controle da dor não tem boa resposta e isso compromete em muito a qualidade de vida da pessoa acometida.

O vírus é transmitido pela picada da fêmea de mosquitos infectados. São eles o Aedes aegypti, de presença essencialmente urbana, em áreas tropicais e, no Brasil, associado à transmissão da dengue e zika; e o Aedes albopictus, presente majoritariamente em áreas rurais, também existente no Brasil e que pode ser encontrado em áreas urbanas e peri-urbanas em menor densidade. O mosquito adquire o vírus CHIKV ao picar uma pessoa infectada, durante o período de viremia. Quem apresentar a infecção fica imune o resto da vida.

O vírus só pode ser detectado em exames de laboratório. São três os tipos de testes capazes de detectar o chikungunya: sorologia, PCR em tempo real (RT?PCR) e isolamento viral. Todas essas técnicas já são utilizadas no Brasil para o diagnóstico de outras doenças e estão disponíveis nos laboratórios de referência da rede pública.

Na Fiocruz

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