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22/04/2015

Diretora de instituto dos EUA discute parcerias com o Brasil

Danielle Monteiro


A Fiocruz recebeu, em 17/4, a visita da diretora do Departamento das Américas do Escritório de Assuntos Globais do Departamento de Serviços Humanos e de Saúde dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês), Cristina Rabadán-Diehl. Responsável por coordenar as políticas governamentais americanas relativas às atividades internacionais do HHS na região das Américas, Cristina tem ajudado a desenvolver parcerias multidisciplinares em nível global, contribuindo para a formação de equipes de pesquisa e para a criação de pontes entre os campos de pesquisa básica, translacional e clínica.

Cristina Rabadán-Diehl reuniu-se com Paulo Buss, diretor do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cris/Fiocruz)

 

Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, Cristina falou sobre as possibilidades de parceria entre a Fiocruz e o instituto americano e como elas poderiam ajudar a solucionar os principais problemas da área de saúde dos Estados Unidos.

AFN: O que a senhora espera dessa visita à Fundação?

Cristina Rabadán-Diehl: Meu trabalho enquanto diretora do Escritório das Américas do Departamento de Saúde dos Estados Unidos é coordenar todas as atividades que são realizadas no campo da saúde por parte do departamento nessa região. Ouvi falar muito da Fiocruz por suas alianças com  o NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos) e historicamente por sua contribuição à ciência de modo geral, especialmente na área de enfermidades infecciosas. Nesta oportunidade de vir aqui para conhecer nossos diferentes parceiros e atores importantes, a visita à Fiocruz é algo que tinha que ocorrer. Para mim, é um grande privilégio estar aqui e poder conhecer figuras tão importantes e entender o que está sendo feito na instituição em nível operacional. A primeira coisa que temos que levar em conta é que tanto a Fiocruz quanto o HHS são organizações vinculadas ao Ministério da Saúde. Isso faz com que, enquanto organizações, ela possam formar uma aliança equiparável. Isso mostra que temos muitos pontos, objetivos e desafios em comum além de diferenças com as quais todos podemos aprender.

Quais são as possibilidades de parceria que poderiam ser estabelecidas entre a Fiocruz e o HHS?

Cristina: As parcerias poderiam ser firmadas nos campos de biotecnologia e de sistemas de saúde, como as questões relativas a iniquidades em saúde e acesso aos sistemas de saúde. E, certamente, dentro do tema de enfermidades infecciosas, no qual a Fiocruz se mostra líder. Mas, de nossa parte, outra área seria a de doenças não transmissíveis, que é um problema que não afeta somente a área da saúde e cuja solução é multisetorial. Por exemplo, a obesidade no Brasil aumentou muito nos últimos dez anos e o mesmo ocorreu nos EUA. Nos Estados Unidos, esse problema tem afetado todos os setores, mas principalmente as populações mais vulneráveis. A epidemiologia demonstra que no Brasil esse problema é similar. Aprender uns com os outros, através de estudos sobre como devemos responder a perguntas, e encontrar evidências para embasar as políticas de saúde é muito importante. E esse vínculo que a Fiocruz tem com o Ministério da Saúde e o fato de que institutos como o CDC e NIH são agências governamentais que fazem parte de nosso Ministério oferece uma oportunidade muito grande de formarmos parcerias nessas diversas temáticas.

Os Estados Unidos têm uma política de estabelecer cooperações bilaterais. A Fiocruz tem como uma de suas orientações o estabelecimento de cooperações multilaterais. O que a senhora pensa sobre essas cooperações que envolvem mais de dois países?

Cristina: Toda cooperação deve ser baseada em necessidades e na oportunidade de que haja mais de dois atores envolvidos nessa parceria. Para isso, além do desejo de trabalhar juntos, é preciso identificar quais são realmente as áreas que poderiam ser beneficiadas de uma cooperação trilateral ou multilateral. O HHS, ao longo do século XX, avançou muito em termos de conhecimento. E agora, no século XXI, está tentando levar este conhecimento adquirido mais adiante para zonas de implantação. Implantações em termos de populações, sistemas de saúde e de enfermidades. Vale lembrar que atualmente vivenciamos os problemas das comorbidades (associação de pelo menos duas patologias em um mesmo paciente). O desafio está em dois níveis: um é identificar quais são as áreas que podem ser beneficiadas com essas interações trilaterais e levar essas necessidades a autoridades para que se elaborem políticas de saúde que as apoiem. Se os cientistas trabalharem juntos para encontrar essas evidências e demonstrarem que é necessário que as soluções venham através de acordos tripartites, haverá uma abertura de diálogo para que isso seja concretizado nas agendas políticas.

Quais são os principais problemas de saúde da área de saúde nos EUA?

Cristina: Convivemos atualmente com as doenças infecciosas e enfermidades materno-infantis. Talvez, neste momento, as doenças que mais se configuram desafios para a saúde são as associadas com o envelhecimento, como doenças crônicas, entre elas as cardiovasculares, doenças pulmonares, câncer, diabetes, assim como as neurológicas, como Parkinson, Alzheimer, além da obesidade como fator de risco. Já no campo sistêmico, o desafio é criar uma integração entre os sistemas de saúde que possa ajudar o indivíduo em todas essas comorbidades existentes. Por exemplo, um idoso que sofre de Parkinson pode ter problemas de hipertensão, obesidade e problemas ósseos. Atualmente muitas dessas condições são tratadas por especialistas. Porém, o manejo do paciente no dia-a-dia se faz por parte na atenção primária. Sendo assim, integrar a atenção dada ao paciente é um desafio. Outro desafio é ampliar a cobertura em saúde. Temos a iniciativa do presidente Obama que tem ajudado muito na ampliação do acesso à saúde à parte da população que não tinha acesso a um sistema sanitário. No entanto, ainda temos que avançar muito, pois um dos grandes problemas que enfrentamos no momento são as iniquidades em saúde dentro de certas populações. Precisamos levar um sistema de saúde integrado a populações rurais e economicamente afetadas.

E como as cooperações com o Brasil podem ajudar a solucionar esses problemas?

Cristina: Com o Brasil especificamente temos muitas oportunidades. Gostaríamos de entender um pouco sobre o SUS e conhecer os mecanismos que estão sendo usados para a integração do sistema de saúde brasileiro para atacar essas doenças crônicas. Gostaríamos também de conhecer como se lida com o tema de acesso à saúde a populações vulneráveis em um país que, assim como os EUA, é grande e tem uma ampla diversidade populacional. Isso é um desafio para os dois países: saber como implantar por completo uma política de saúde a nível global e também levá-la a um nível regional e local, trabalhando com os Estados e municípios, em países que têm realidades tão diversas dentro de seus territórios. E ter a oportunidade de trocar essas experiências seria enriquecedor para ambos os países. 

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