Início do conteúdo

03/08/2016

Documentário apresenta epidemia de esporotricose no Rio

Antonio Fuchs (INI/Fiocruz)


Uma epidemia silenciosa vem acometendo o Rio de Janeiro: a esporotricose. Conhecida popularmente de “doença dos gatos”, a esporotricose é uma zoonose, uma enfermidade que pode acometer humanos e animais, especialmente felinos. Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, encontrado no solo, em vegetais ou madeiras, a infecção acontece através do contato com materiais contaminados, como farpas ou espinhos, ou mordidas e arranhões de animais infectados. Com o objetivo de disseminar mais informações sobre a doença, a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz produziu o documentário Esporotricose com a participação e consultoria de pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). A apresentação do vídeo, coordenada pelo pesquisador Dayvison Freitas, foi aberta ao público e lotou o auditório do Instituto na última terça-feira (2/8).

Após a exibição do documentário, a plateia teve a oportunidade de esclarecer dúvidas e apresentar questões aos pesquisadores que participaram do vídeo. A mesa contou com a participação do diretor do INI/Fiocruz, Alejandro Hasslocher; o Vice-diretor de Serviços Clínicos, José Cerbino Neto; o chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa, Antonio Francesconi do Valle; o Diretor do documentário, Eduardo Thielen; a representante da Secretaria de Estado de Saúde (SES/RJ), Paula Almeida; a representante da Secretaria Municipal de Saúde (SMS/RJ), Mariana França, e a médica veterinária, Isabella Dib. Participaram também da sessão, a vice-diretora de Qualidade e Informação do INI/Fiocruz, Marília Santini e o vice-diretor de Pesquisa Clínica da unidade, André Curi.

O documentário traz, em seus 24 minutos de duração, um balanço da epidemia que atinge o município do Rio de Janeiro, considerada já a maior da história desde que a doença foi descrita, por Benjamin Schenck, nos Estados Unidos, em 1898. Conforme relato do Diretor do vídeo, Eduardo Thielen, o maior registro prévio em número de casos aconteceu entre os anos de 1941/42, em um grupo de quase três mil mineradores na África do Sul. No Rio de Janeiro, entre 1998 e 2012, foram efetuados mais de 4.300 diagnósticos. Além de depoimentos de pacientes com a doença e dos tutores de animais contaminados, o vídeo traz as falas de pesquisadores e médicos das mais diferentes áreas de atuação.

O vice-diretor de Serviços Clínicos do INI, José Cerbino Neto, ressaltou que a maior procura por acolhimento ambulatorial no Instituto ocorre por conta da esporotricose, mesmo no atual quadro emergencial provocado pelas epidemias de dengue, zika e chikungunya. “Esta é uma epidemia silenciosa. Temos que informar as pessoas da importância da notificação e do tratamento da doença, que é muito simples, assim como disseminar, cada vez mais, as informações sobre as formas de contaminação e prevenção”, enfatizou.

Paula Almeida, da SES/RJ, destacou que o estado trabalhou intensamente, entre 2010 e 2013, para tornar a esporotricose uma doença de notificação compulsória. Com esta finalidade foram elaboradas uma nota técnica e uma ficha de notificação que podem ser preenchidas e entregues nos serviços de saúde. O procedimento é uma forma de dimensionar a epidemia e tomar medidas sanitárias mais eficientes.

Por conta do crescimento da epidemia, o município do Rio de Janeiro passou a capacitar médicos, enfermeiros e profissionais da Estratégia de Saúde da Família para promover o diagnóstico e o tratamento da doença e determinou, junto com a Secretaria Estadual de Saúde, a inclusão da esporotricose na lista das doenças de notificação compulsória. “No caso do município, todo o tratamento e a medicação, tanto para humanos quanto para animais, são gratuitos, sendo custeados pela secretaria de saúde”, informou Mariana França, da SMS/RJ.

O Chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa do INI, Antonio Francesconi, relembrou que, desde 1998, o gato vem entrando na cadeia epidemiológica da doença, com quase cinco mil notificações desde então, somente no Hospital Evandro Chagas. “Os números de notificações de novos casos vêm se mantendo ao longo dos anos em nossa unidade e isso é alarmante”, afirmou. Tal informação é corroborada pela pesquisadora e engenheira sanitária da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Rosely Magalhães, em seu depoimento no vídeo, quando explica que uma das descobertas feitas graças aos  serviços de vigilância do Rio de Janeiro, é que “uma parte mais humilde da população, que mora em regiões com pouco ou nenhum saneamento básico, cria gatos para controlar a proliferação de ratos, gerando assim um ambiente propício para o alastramento da esporotricose, tanto em animais, quanto nos moradores dessas localidades”.

Encerrando a sessão, o pesquisador Dayvison Freitas destacou a importância da parceria do INI/Fiocruz com a SMS/RJ e a SES/RJ como elos primordiais para o controle da doença. “Precisamos torna-la cada vez mais visível para a população através de um discurso único para minimizar novos casos”, concluiu.

O documentário Esporotricose estará disponível em breve, para acesso público, no canal do YouTube da VídeoSaúde e no site do INI/Fiocruz.

Voltar ao topo Voltar