18/05/2017
Antonio Fuchs e Juana Portugal (INI/Fiocruz)
Presentes na natureza há mais de 400 milhões de anos, os escorpiões são os animais peçonhentos responsáveis pelo maior número de casos de intoxicação humana no Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox/Fiocruz). Para compreender melhor os riscos que esses artrópodes trazem para a saúde humana e a endemia que vem ocorrendo no Rio de Janeiro, o Laboratório de Pesquisa em Epidemiologia e Determinação Social da Saúde do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), chefiado por Claudia Teresa Vieira de Souza, promoveu, nos dias 9 e 11 de maio, a oficina Prevenção de acidentes com escorpiões, dentro do Projeto Plataforma dos Saberes.
“O escorpião é uma praga urbana, é um fato, e em 2015, o número de óbitos por picadas de escorpião, nas áreas rurais e urbanas no país, superou o de mortes por picadas de serpente”, destacou o ex-diretor científico do Instituto Vital Brazil e aluno de doutorado do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Claudio Maurício Vieira de Souza, palestrante do encontro. Orientando da coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, o biólogo destacou que o Tityus serrulatus, conhecido como escorpião-amarelo, é típico das regiões Sudeste e Centro-oeste do Brasil, e é responsável por provocar acidentes graves, sobretudo, em crianças e idosos. “Essa é uma das espécies mais venenosas que existem e vem se espalhando em áreas urbanas porque, entre outras coisas, prolifera facilmente e estaria ocupando o lugar de escorpiões menos nocivos”, disse, informando que diversos escorpiões dessa espécie já foram capturados em vários bairros do município do Rio de Janeiro.
Segundo Claudio, o escorpião não costuma atacar sua presa e usam o veneno, basicamente, como instrumento de defesa. O artrópode é atraído por locais habitados por baratas, que são uma fonte de alimento e costumam aparecer com mais frequência durante o verão. Os escorpiões se adaptam muito bem à vida no subterrâneo das cidades e quando buscam um abrigo provisório, acabam subindo pelas tubulações, ocasiões em que podem terminar escondendo-se dentro de residências.
Entenda mais sobre os riscos causados pelos escorpiões na entrevista com Claudio Souza.
Por que as cidades estão sendo invadidas por escorpiões?
Claudio Souza: Na verdade, as cidades não estão sendo invadidas por escorpiões. O que ocorre é que os modelos de alterações ambientais e de ocupação do espaço pelo homem promovem a criação de condições que favorecem várias espécies de animais que passam a viver em uma situação chamada de sinantropia (animais colonizam habitações humanas e seus arredores retirando vantagens em matéria de abrigo, acesso a alimentos e água). Entre essas espécies estão algumas de escorpiões perigosos, que como vivem junto com o homem, causam os acidentes e são dispersadas pelas nossas atividades, aumentando o problema ou introduzindo-o em novas áreas. Não há uma “migração” espontânea de escorpiões para as cidades.
Vivemos uma epidemia de escorpiões no Rio de Janeiro? Quais as regiões mais afetadas?
Claudio Souza: No Estado do Rio de Janeiro, há regiões onde os escorpiões perigosos são endêmicos, ou seja, fazem parte da fauna natural do lugar e devido às condições explicadas anteriormente, aumentam suas populações e, consequentemente, o número de acidentes. As regiões mais atingidas pelo escorpionismo são Sul Fluminense, Médio Paraíba, Norte e Noroeste do Estado, mas há cidades na região serrana e em áreas da região metropolitana, onde o problema também é importante.
Quais os tipos mais comuns de escorpiões que encontramos em nossa cidade?
Claudio Souza: Para o estado do Rio de Janeiro são conhecidas nove espécies de escorpiões, mas sabemos que três aparecem com mais frequência próximas ao homem: Thestylus aurantiurus, Tityus costatus (consideradas causadoras de acidentes que não agravam) e Tityus serrulatus. A última é considerada extremamente perigosa devido a sua alta capacidade de proliferar em áreas urbanas e ao seu veneno, muito potente para o corpo humano.
Em quais ambientes os escorpiões podem ser encontrados?
Claudio Souza: Os escorpiões perigosos podem ser encontrados em qualquer ambiente úmido, escuro e com insetos.
Umidade e calor são atrativos para os escorpiões?
Claudio Souza: Há uma correlação positiva entre a ocorrência de acidentes e os meses mais quentes e úmidos do ano.
Como podemos proteger nossa residência do escorpião? Inseticidas são uma solução?
Claudio Souza: Para prevenção de acidentes com escorpiões são necessárias medidas que eliminem os abrigos úmidos onde vivem (entulhos, frestas, materiais de condução, forros, panos deixados no chão, encanamentos, entre outros); cuidados com as aberturas por onde possam ter acesso às casas (ralos, frestas de portas, janelas, vasos de plantas, materiais em geral que entram na residência) e; eliminação dos insetos domésticos (limpeza frequente, cuidados com o lixo, etc.). Existem inseticidas que são registrados nos órgãos competentes para controle de escorpiões, mas, embora testados em laboratório, ainda não foram avaliados com métodos científicos de campo no Brasil. Há também empresas de controle de pragas registradas que oferecem esse serviço com garantia.
Como proceder em caso de picada de escorpião?
Claudio Souza: No caso de picada de escorpião a pessoa deve lavar o local com água e sabão e procurar socorro médico imediatamente.
No Rio de Janeiro todos os postos de saúde estão preparados para receber uma pessoa picada por escorpião?
Claudio Souza: A pessoa picada pode procurar o primeiro atendimento em qualquer serviço de saúde, mas o tratamento específico, para aqueles acidentes classificados como moderados e graves, deve ser feito em centros de referência onde há soro específico para o tratamento. No Rio de Janeiro os Hospitais da Posse (Nova Iguaçu) e Lourenço Jorge (Barra da Tijuca) são indicados para atender vítimas de acidentes com escorpiões.
O número de acidentes causados por escorpiões é alto no país?
Claudio Souza: Os acidentes com escorpiões correspondem a aproximadamente 60% dos acidentes com animais peçonhentos registrados no Brasil. Desse total, 97% dos acidentes com escorpiões são classificados como leves, porque os animais não inoculam veneno ou, quando o fazem, apenas uma fração do veneno é injetada, causando apenas dor. Mas entre os acidentes graves envolvendo crianças e idosos a letalidade é considerada alta devido à toxicidade desse veneno.
O que fazer caso uma pessoa encontre um escorpião dentro de casa? Tentar matá-lo?
Claudio Souza: Mesmo perigosos, os escorpiões são protegidos pela Lei de Fauna Silvestre e somente podem ser controlados por órgãos públicos ou entes privados quando em sinantropia e oferecendo risco à saúde humana. A população deve, sem se expor a risco de acidente, tentar aprisionar o animal e informar ao órgão público municipal de saúde a presença do animal. No município do Rio de Janeiro, ligar para o telefone 1746 da Prefeitura e informar sobre o fato. Colabore também enviando informações sobre a ocorrência desses animais em sua região para o Instituto Vital Brazil. Ligue para 0800-0221036 ou mande e-mail para sac@vitalbrazil.rj.gov.br.