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29/12/2016

Seminário sobre intoxicação em crianças prioriza prevenção

Graça Portela (Icict/Fiocruz)


Realizado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), em 12/12, o seminário “Prevenção de intoxicações em foco: panorama das intoxicações infantis e ações educativas” reuniu especialistas para falarem sobre os casos de intoxicações em crianças e como trabalhar a prevenção, evitando que acidentes e até óbitos ocorram nesta faixa etária.

O vice-diretor de Comunicação e Informação do Icict/Fiocruz, Rodrigo Murtinho, abriu o seminário destacando a importância do tema debatido e o trabalho desenvolvido pelo Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas). A seguir, ele passou a palavra para Guilherme Franco Neto, assessor em ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção à Saúde (VPAAPS/Fiocruz), que falou sobre o projeto Suporte à implementação da Portaria GM nº 1.678/15, que institui os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) e tem como sua primeira meta “estruturar e desenvolver metodologia e tecnologia de produção, sistematização e disseminação de informação tendo o Sinitox como observatório de agravos toxicológicos”.

O assessor da VPAAPS também afirmou que o projeto da Fiocruz é resultado do que foi definido “no Congresso Interno da Fundação, em 2014, que classificou o Sinitox como uma das 17 prioridades do eixo de saúde, ambiente e sustentabilidade”. Com financiamento do Ministério da Saúde, a vigência do projeto é de 60 meses e seu principal objetivo é dar visibilidade a todas ações de toxicologia desenvolvidas na Fundação.

Embalagens perigosas

Com a mediação da pesquisadora Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, o seminário teve como primeira participação a de Ana Claudia Lopes de Moraes, do Centro de Controle de Intoxicações (CCIn) de Niterói falou sobre Intoxicações em Crianças: um Panorama do Cenário Atual. Em sua apresentação, Ana afirmou que “as intoxicações exógenas ocupam lugar de destaque nos atendimentos de urgência e emergência pediátrica” e que a maioria dos casos de intoxicação são de “caráter não intencional”, tendo como pano de fundo condições ambientas facilitadoras e a falta de medidas preventivas.

Ana Claudia enfatizou a questão das embalagens que podem ser verdadeiras armadilhas para crianças e pais. Ela citou exemplos simples, como a aparência quase similar entre o chumbinho (agrotóxico para eliminar ratos) e o granulado de chocolate, ou entre determinado tipo de chiclete em formato de pastilha e um inseticida conhecido, ou ainda a similaridade entre as embalagens de água, removedor e querosene, todos que confundem não são adultos, mas principalmente crianças.

A pesquisadora do CCIn trouxe também números que comprovam o risco de intoxicação por crianças. Segundo ela, durante 2015, o Centro onde trabalha teve 1.075 casos de notificação de intoxicação, desses 640 foram de crianças até 14 anos, sendo que de 1 a 4 anos representou 43,6% do total. Outro dado interessante trazido por Lopes de Moraes foi que 93,27% das ocorrências de intoxicação em crianças aconteceram na área urbana e 89,05% por via oral, o que só reforma os cuidados que os pais devem ter em casa com embalagens de todos os produtos, de remédios a produtos do limpeza e higiene, alvos fáceis de curiosidade infantil.

Escorpiões x crianças

A segunda palestra foi Acidentes com escorpiões em crianças e medidas de prevenção,  realizada pelo biólogo Cláudio Maurício de Souza, ex-diretor científico do Instituto Vital Brazil, que lembrou que “segundo dados do Sinitox, os animais peçonhentos representam o segundo maior caso de incidência no Brasil em relação à intoxicação humana, sendo que os acidentes com escorpiões aqueles que mais colaboram para esta posição”. Em 2015, o número de óbitos por picadas de escorpião, nas áreas rurais e urbanas, superou o de mortes por picadas de serpente.

O biólogo chamou a atenção para o perigo no uso de remédios para matar animais peçonhentos, não só pelo risco de intoxicação, mas também porque muitos desses medicamentos, principalmente os não registrados na Agência Nacional de Vigilância Santária (Anvisa), podem tornar os animais resistentes e ampliar o seu poder de letalidade. Cláudio Maurício de Souza defendeu a necessidade de ações educativas, visando prevenir acidentes com estes animais, em especial em crianças até 10 anos, principais vítimas dos escorpiões. Ele também chamou a atenção para um problema grave que está ocorrendo no Estado do Rio de Janeiro, que é a redução do número de polos de atendimento, que caiu de 61 em 2009 para 24 em 2016. Para Souza, isto poderá causar impactos negativos na prevenção ao escorpião.

Crianças e prevenção

A representante do Museu da Vida, Bianca Reis, falou sobre o trabalho desenvolvido pelo Museu junto às crianças que visitam o espaço, com a apresentação O que será que precisamos saber para falar de ciências com crianças pequenas?. Ela afirmou que “qualquer tema da Ciência pode ser mostrado para criança, obviamente, com explicações que levem em consideração a sua faixa etária, utilizando abordagens diferentes”.  Segundo Reis, o diálogo com os pequenos pode ser mais próximo quando se utiliza jogos, cartilhas, contação de histórias, e ressaltou que “a criança aprende com outra criança, daí a necessidade de deixar eles explorarem o tema.”

Bianca Reis destacou que é fundamental para quem quer trabalhar com criança e ciência, conhecer aspectos sobre o desenvolvimento infantil, o que ajudará a “potencializar a concepção e o desenvolvimento tanto de exposições como de atividades educativas em museus de Ciências”.

Jogos em saúde

Para finalizar, Marcelo de Vasconcellos e Flávia Carvalho, do Polo de Jogos e Saúde, do Multimeios/Icict, apresentaram o jogo Quem Deixou Isso Aqui?! - estratégia de jogos digitais na prevenção de intoxicações. Eles fizeram um breve histórico dos jogos na área de saúde e apresentaram o jogo virtual, no qual o objetivo é evitar que uma menina, Aninha, se intoxique com os inúmeros perigos que há em casa.  Os pesquisadores falaram também da colaboração realizada entre o Polo e o Sinitox, com o desenvolvimento de jogos e quizzes informativos (Qual planta tóxica é você? e Que animal peçonhento é você?).

Quem deixou isso aqui? teve seu teste definitivo durante a Semana de Ciência e Tecnologia 2016, também realizada na Fiocruz. Durante o evento, estudantes jogaram, se divertiram e aprenderam sobre a prevenção de intoxicação. Muitos deles lembraram de casos de intoxicação que sofreram ou que vizinhos, amigos ou parentes da mesma faixa etária que eles ou até menos, passaram. Segundo Vasconcellos, “a ideia do jogo é alertar sobre os perigos que rondam uma casa”. O jogo foi elogiado por todos os presentes, que falaram de sua importância para ajudar na prevenção não só contra animais peçonhentos, mas a outros perigos que podem ferir ou matar as crianças. “É preciso trabalhar a criança, quem cuida dela, a escola para a prevenção, além de orientar os pais para acessarem esse jogo”, defendeu Ana Claudia de Moraes. Já Claudio de Souza lembrou que “as crianças não têm medo de nada e sua relação com os animais é natural. Assim, fica difícil controlar, inclusive, as brincadeiras com escorpiões”, alertou o biólogo. Ele defendeu a necessidade de jogos virtuais para a prevenção: “é uma ferramenta digital importante para informar, prevenir e trabalhar a prevenção junto a crianças, adolescentes e jovens”, afirmou. Flávia Carvalho reiterou que o jogo é apenas “um detalhe de comunicação”: “pensamos que podemos articular com outras redes, outras mídias para ajudar na prevenção à intoxicação”. Vasconcellos completou que o jogo virtual Quem deixou isso aqui? estará brevemente disponível também em celulares; em tablet, ele já é uma realidade para Google Play e Apple.

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