Início do conteúdo

14/05/2014

Estudo investiga associação entre capacidade funcional e uso de serviços de saúde por idosos

Renata Moehlecke


No Brasil, vários estudiosos têm se dedicado a investigar fatores associados à incapacidade funcional entre idosos, mas ainda são raros os estudos que tentam identificar o impacto dessa incapacidade no uso de serviços de saúde. Cientes desta lacuna, pesquisadores do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas) e da Universidade Federal de Minas Gerais efetuaram um inquérito domiciliar com 1.624 idosos de mais de 60 anos de 20 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, com o objetivo de dimensionar a associação entre a capacidade funcional e utilização de serviços de saúde na terceira idade. Os resultados apontaram que a dimensão funcional não tem sido balizadora da atuação dos serviços, ainda condicionada à presença de doenças.

Os dados também indicaram que pouco mais de um terço dos idosos consultados apresentou algum tipo de incapacidade funcional, sendo a forma leve (relacionada a atividades instrumentais da vida diária) mais frequente do que a grave (ligada às atividades básicas de vida diária)

 

“Os achados deste trabalho mostram o maior uso de serviços de saúde por idosos com incapacidade funcional, sendo mais forte a associação entre a incapacidade grave e consultas domiciliares. Porém, tal serviço se mostrou inacessível a mais de 80% dos idosos com incapacidade grave”, destacam os pesquisadores em artigo publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “Por outro lado, a ausência de associação entre incapacidade e consultas médicas, verificada simultaneamente à presença de associação entre elas e doenças crônicas, pode ser um indício de que a atuação dos serviços de saúde ainda permanece primordialmente pautada pelo diagnóstico e tratamento de doenças crônicas, e não pela manutenção e recuperação da capacidade funcional do idoso”.

Os dados também indicaram que pouco mais de um terço dos idosos consultados apresentou algum tipo de incapacidade funcional, sendo a forma leve (relacionada a atividades instrumentais da vida diária) mais frequente do que a grave (ligada às atividades básicas de vida diária). O grau mais avançado de limitação (referente às atividades básicas) não se mostrou associado à consulta médica, sendo mais fortemente associado à consulta domiciliar do que à hospitalização.

De acordo com os pesquisadores, os domínios da incapacidade funcional mais investigados foram as atividades básicas de vida diária (ABVD), relacionadas ao autocuidado e à sobrevivência (como tomar banho e alimentar-se), e as atividades instrumentais da vida diária (AIVD), de maior complexidade e relacionadas à vida independente em comunidade (como fazer compras e utilizar o transporte). Entre as ABVD, a dificuldade para levantar-se da cama foi a mais frequente (13,5%), seguida de vestir-se (10,9%) e mover-se entre cômodos da casa (10,3%); entre as atividades instrumentais, as limitações para realização de tarefas domésticas (27,9%) e para fazer compras (22,1%) foram as mais relatadas.

“Faz-se necessário efetivar a implementação de políticas pró-envelhecimento ativo para toda a população, idosa e não idosa, como forma de prevenir a incapacidade funcional. Além disso, é preciso ampliar o acesso aos serviços de saúde para o segmento populacional idoso, com a inclusão de ações de reabilitação de complexidade variável, de modo a reduzir a incapacidade e a consequente necessidade (atual e futura) de utilização de serviços de saúde, especialmente os mais complexos e onerosos, como a hospitalização e as consultas domiciliares”, concluem os pesquisadores no artigo. 

Voltar ao topo Voltar