18/06/2015
“Não vai demorar que passemos adiante uma grande e bela ciência, que faz arte em defesa da vida." Em 1928, o então pesquisador Carlos Chagas expressou o que viria a ser um compromisso da Fiocruz com a sociedade ao longo de toda a história da instituição. Depois de 87 anos, veio o reconhecimento: a Fundação acaba de ser anunciada a vencedora do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, na categoria "Instituição ou Veículo de Comunicação".
O Prêmio anual, concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) desde 1978, é destinado a iniciativas que contribuam significativamente para tornar a Ciência, a Tecnologia e a Inovação conhecidas do grande público.
Segundo o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, receber o Prêmio José Reis “representa a consagração e o reconhecimento de uma das questões das mais caras desde e constituição da Fiocruz”. “É importante que a ciência contribua para a cidadania e a qualidade de vida. E o trabalho desenvolvido na área de divulgação pela Fundação busca justamente que o cidadão possa se apropriar e ser partícipe na produção do conhecimento científico”, acrescenta o presidente.
Desde o início, a divulgação científica, enquanto compromisso com a saúde e a cidadania, tem sido uma constante na história da Fundação. A instituição, que em 25 de maio completou 115 anos, foi criada em 1900, pelo governo do então presidente da República Campos Salles, com o nome de Instituto Soroterápico Federal, embrião do que veio a ser a atual Fiocruz. Já em 1907, em Berlim, e em 1911, em Dresden, o sanitarista Oswaldo Cruz apresentava uma exposição com os avanços científicos na área da saúde realizados pelo Instituto na época, além de um filme, produzido especialmente para a ocasião. As imagens, um pioneiro trabalho de divulgação científica, mostravam a campanha contra a febre amarela empreendida no Rio de Janeiro pelo sanitarista (com cenas sobre as ações preventivas adotadas). Esse trabalho foi recuperado e chegou ao grande público com o lançamento, em 2011, do documentário Cinematógrafo brasileiro em Dresden, produzido pela Fiocruz e que foi o primeiro colocado na categoria Melhor Filme de Curta Metragem de acordo com o Júri Popular, no Festival Internacional de Cinema de Arquivo (RECine), em novembro daquele ano, no Rio de Janeiro.
Quase um século e numerosas iniciativas depois da exposição em Dresden, a Fiocruz inaugurou, em 1999, o Museu da Vida (MV), um espaço de integração entre ciência, cultura e sociedade, que tem por objetivo informar e educar em ciência, saúde e tecnologia de forma lúdica e criativa, por meio de exposições, atividades interativas, multimídias, teatro, vídeo e laboratórios. Cumprindo plenamente a sua função de divulgação científica – e considerado hoje a “porta de entrada” da Fundação – o MV é visitado a cada ano por cerca de 60 mil pessoas, grande parte delas alunos de escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro e até de estados vizinhos. Estas iniciativas vão muito além dos limites do campus da Fiocruz: estima-se que 3,2 milhões de pessoas já tenham visto as exposições que o Museu da Vida tem montado em outros estados.
“O reconhecimento pelo Prêmio José Reis das ações de divulgação e popularização da ciência na Fiocruz é uma conquista inédita, que vem coroar um processo de consolidação institucional dessas ações. A grande força da candidatura da Fiocruz para o prêmio vinha da tradição no campo, que nos leva ao Oswaldo Cruz, da pluralidade de ações e do reconhecimento institucional de sua centralidade no processo científico. O momento não poderia ser mais apropriado, já que estamos justamente fazendo um mapeamento de todas essas ações com vistas à consolidação de uma política para área”, comenta Diego Bevilaqua, coordenador do Museu da Vida, que, ainda em 1997, foi agraciado com a Menção Honrosa do Prêmio José Reis.
Seguindo este caminho, em 2014 a Fundação estabeleceu a sua Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, na qual reafirma o compromisso com a democratização do conhecimento e do acesso à informação científica. Esta Política visa garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fundação.
Mais recentemente, em 2015 a Fiocruz lançou outro espaço para a divulgação da ciência, o Portal de Periódicos. No mesmo ambiente virtual, o público tem acesso aberto e gratuito aos artigos de todas as publicações científicas editadas na Fiocruz. Com a busca integrada em sete revistas, os leitores têm uma visão ampliada do conhecimento em saúde, a partir de diferentes abordagens. Blogs, vídeos e matérias especiais compõe ainda o Portal com o objetivo de torná-lo mais acessível a um público além do especializado. Novas iniciativas, como a produção de e-books, se colocam no horizonte para ampliar o acesso ao conhecimento científico.
De acordo com os princípios e teses centrais da instituição “a popularização da ciência, sobretudo pela combinação de ações de comunicação, educação, divulgação científica e promoção da saúde, entendida como parte integrante do fazer científico, coloca-se como área estratégica e das atividades de ciência e tecnologia com a sociedade”. Segundo a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Lima, essa diretriz se desdobra de diferentes maneiras entre as unidades que compõe a Fiocruz e com abrangência em quase todo o território nacional. “Entendemos que a diversidade de ações de divulgação científica atualmente realizadas tem um eixo unificador: divulgar conhecimentos e práticas científicas tendo como fundamento o compromisso com a sociedade. Das ações museológicas, ao incentivo à vocação de jovens; de projetos itinerantes ao uso das mais diversas mídias, a Fiocruz reúne hoje uma rica e diversificada experiência orientada pela perspectiva da ciência como bem público”, explica a vice-presidente.
Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias por ocasião do Prêmio, Nísia Lima e o presidente, Paulo Gadelha, dedicaram este momento de comemoração à ex-pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, Virgínia Schall, falecida este ano e ganhadora do Prêmio José Reis de Divulgação Científica, na modalidade “Divulgação Científica”, em 1990. Além de sua atuação como cientista, Virgínia Schall escreveu seis livros de literatura infantil que tratam de questões de saúde que afetam as crianças brasileiras, e foi autora de um jogo (Zig-Zaids), que esclarece dúvidas de pré-adolescentes sobre aids.
A entrega do Prêmio acontecerá no dia 12 de julho, durante a abertura da 67ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).