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29/06/2017

Fiocruz debate depressão na prevenção do suicídio

Antonio Fuchs e Juana Portugal (INI/Fiocruz)


Suicídio está frequentemente relacionado com a depressão, mas não decorre exclusivamente dessa doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Para falar sobre esses dois temas, o Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) promoveu, no dia 22 de junho, a palestra Proposta de abordagem da depressão e risco de suicídio, com o pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Carlos Estellita-Lins. Em sua exposição, o especialista destacou a importância da análise dos dados sobre suicídios como uma ferramenta para se repensar as ações de assistência atualmente praticadas no serviço de saúde. A atividade foi coordenada por Patrícia Helena Castro, responsável pela coordenação do curso de aperfeiçoamento técnico em Farmácia Hospitalar para profissionais de nível médio do INI/Fiocruz.

“Temos que valorizar os pedidos de socorro e ser sensíveis a eles, o que exige treinamento das equipes profissionais em lidar com situações específicas. O suicídio é a prova e a contraprova de uma situação pertinente, que não dá avisos, que não é uma doença, uma entidade clínica ou uma síndrome, mas sim um desfecho descrito epidemiologicamente de uma situação de crise grave”, afirmou Estellita-Lins. Durante sua fala o pesquisador apresentou dados de uma pesquisa do professor Neury Botega, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostrando que aproximadamente a cada 100 mil habitantes, 17 tem ideação ou pensamento de cometer suicídio, cinco deles chegam a elaborar um plano, três tentam o suicídio em si e um chega a ser atendido em pronto socorro, podendo ou não ter um desfecho fatal.

A prevenção do suicídio demanda um tratamento precoce e eficaz, com formação adequada, qualificando melhor as emergências psiquiátricas que estão em funcionamento para ter uma melhor atenção dos profissionais de saúde, principalmente na atenção básica/primária. "Não é possível tratar a depressão perdendo a dimensão do luto. As políticas para violência também devem estar incorporadas nesse processo de prevenção. A comunidade é uma peça chave nessa questão", afirmou o pesquisador. O suicídio não é uma preocupação das equipes de saúde e muitos deles poderiam ser evitados se os profissionais estivessem atentos aos sintomas. Na atualidade o modelo adotado para o tratamento desse problema é a depressão, mas isso não significa que o suicídio só venha a ocorrer por conta dela. “Junto com a depressão há a impulsividade, as situações de personalidade, a violência e quando você vai somando todos esses aspectos, multiplica-se a chance de se ter esse trágico desfecho”, explicou.

Estellita-Lins ressaltou ainda que é fundamental o papel de todos os envolvidos em um ambiente hospitalar no caso de crise de suicídio. “Essa é uma emergência médica praticamente impossível de se atuar sozinho dentro do hospital. Todos os atores devem estar envolvidos no tratamento, desde a família até os profissionais de saúde e da assistência social. A Psiquiatria e a Psicologia podem até agir sozinhas no sentido de aplicar uma prescrição ou de fazer uma psicoterapia, mas nada disso ocorre aleatoriamente. É necessária uma boa capacitação dos profissionais do hospital para agirem de forma adequada em casos de suicídio”, ponderou.

Sobre o número de casos no Brasil, o especialista informou que analisando os dados o Ministério da Saúde no período 1980 - 2012 podemos constatar um aumento. Segundo Estellita-Lins, isso não significa necessariamente que ocorreram mais mortes, mas que a qualidade dos dados e das notificações nos serviços de saúde melhoraram, fazendo com que o país tivesse uma real dimensão do problema. Considerando um período mais recente (2000 - 2012), houve um crescimento de 33,3% no número de suicídios no Brasil levando em conta as faixas etárias analisadas (10-14 anos, 15-19, 20-29, 30-59, +60 anos). “A depressão (espectro depressivo), o álcool e as drogas (abuso e dependência), os transtornos de personalidade, a impulsividade e o abuso e violência sexual são fatores fortemente associados ao suicídio”, destacou o pesquisador.

“A tentativa de suicídio é um sinal de alarme e se trata de uma crise envolvendo um impasse ou desespero na pessoa. Ele revela a pressão de fatores psicossociais completos naqueles que vivem sob tensão ou estresse e que expressam, de modo agudo, o seu padecimento. O principal objetivo da intervenção durante uma crise suicida consiste em proteger o paciente de si próprio e assegurar sua sobrevivência”, informou. “Ninguém pode evitar o suicídio. Ninguém tem esse poder. Temos sim o dever de ajudar o paciente”, afirmou Estellita-Lins e, para que esse apoio ocorra, citou alguns instrumentos fundamentais para colaborar nesse processo, como o Inventário de Depressão de Beck (BDI), a Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo (EPDS) e a Reasons for Living (RFL). Segundo o pesquisador, esses são três ‘manuais’ que auxiliam os profissionais no processo de tratamento dos pacientes.

Por fim, o pesquisador apresentou os cuidados que os familiares e educadores devem ter na busca por auxiliar uma crise de suicídio. Segundo Estellita-Lins, todos devem participar dos acordos e pactos pela vida feitos pelo paciente, compreender melhor os riscos e a gravidade do problema, sempre apoiando as medidas estabelecidas pelos profissionais de saúde, lidar com possíveis emoções negativas e ataques ao tratamento adotado, buscarem sempre novos conhecimentos sobre depressão e suicídio e, principalmente, conhecer os limites dos envolvidos.

Ouça a íntegra da palestra de Carlos Estellita-Lins clicando aqui.

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