Agência Fiocruz de Notícias

No dia 18 de outubro, a Fiocruz Mata Atlântica recebeu parte da programação da Semana da Alimentação Carioca (SAC), evento anual realizado pelo Conselho de Segurança Alimentar do Município do Rio de Janeiro (Consea-Rio) em referência ao Dia Mundial da Alimentação (16/10). Dentro da abordagem temática definida para este ano – Agricultura Familiar e o Programa de Alimentação Escolar – a atividade proposta para acontecer no Campus Fiocruz Mata Atlântica contemplou a participação feminina na agroecologia, com a Roda de Mulheres da Rede Carioca de Agricultura Urbana.

Por lei, 30% da alimentação escolar deve ser comprada da agricultura familiar. É justamente esta agricultura apontada como eixo essencial da segurança alimentar, pois trata da produção de alimentos. “Consideramos essencial falar de agricultura familiar na alimentação escolar nesta SAC, porque o programa de alimentação é consolidado no dia a dia da cidade, nas escolas públicas municipais. O Consea tem debatido há muitos anos, insistindo para que a prefeitura compre da agricultura familiar, pois além de uma alimentação saudável nas escolas para as nossas crianças, queremos aproveitar isto como um instrumento de fortalecimento da nossa agricultura, da agricultura local”, pontua Juliana Medrado Tângari, presidente do Consea-Rio.

É neste propósito de oportunizar maior autonomia dos produtores que o Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica (PDCFMA) realiza, desde 2012, o projeto de Agricultura Urbana Agroecológica na Colônia Juliano Moreira. Com o uso de tecnologias sociais, seis quintais produtivos participam da proposta de soberania e segurança alimentar e nutricional como caminho para a promoção da saúde.

Todos os quintais são comandados por mulheres, produtoras agroecológicas. Dois já são certificados pelo Sistema Participativo de Garantia da Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de janeiro (SPG- Abio), um reconhecimento que assegura coletivamente a qualidade da produção e processamento de produtos oriundos da agricultura ecológica (produção orgânica, sem agrotóxicos e adubos químicos solúveis, entre outras práticas de uso consciente do solo).

Por conta da atuação da Fiocruz nesta tônica, a Fundação é Conselheira do Consea-Rio e por meio do PDCFMA coordena uma câmara temática que trata de questões de estratégias de desenvolvimento. “Para nós, acolher este evento aqui no Campus tem a ver com o desenvolvimento saudável e sustentável dos territórios, e com a Agenda 2030. Pensar a agricultura urbana e a soberania alimentar, nos alimentos sem veneno e, portanto, sem agrotóxico, é pensar a promoção da saúde dentro deste contexto”, afirma Robson Patrocínio, coordenador do projeto no PDCFMA.

Juliana Tângari destaca a importância da Fundação no Consea. “A Fiocruz Mata Atlântica tem um projeto emblemático de agricultura urbana. Essa metodologia que a Fiocruz vem desenvolvendo dialoga centralmente com as questões do Consea, pois não tem como falar de agricultura urbana do Rio de Janeiro, sem falar da Rede Carioca de Agricultura Urbana e do projeto dos quintais produtivos juntos, conversando", explica. "É preciso aproveitar esta metodologia, é preciso entender que os quintais produtivos são importantes para a cidade; por que que eles são importante eixo de segurança alimentar para os cidadãos cariocas; por que que a gente precisa de um governo que fomente, que de alguma forma garanta que essa seja uma experiência rica e amplamente divulgada e com larga escala na cidade”.

Mulheres agricultoras

Integrante da Roda de Mulheres da Rede Carioca de Agricultura Urbana, moradora de um território de uma ocupação urbana, Bosque dos Caboclos, em Campo Grande, Saney Souza conta que a agenda feminista na SAC realizada no Campus Fiocruz Mata Atlântica foi proposta pela Roda de Mulheres. A atividade tornou-se uma oportunidade de encontro das produtoras agrícolas da zona Oeste e zona Norte do Rio de Janeiro que debateram a elaboração de um diagnóstico socioeconômico sobre as mulheres que produzem agroecologia na zona Oeste da cidade.

“Somos a maioria como agricultoras da cidade. Dentro da zona oeste o protagonismo da agroecologia é feito pelas mãos das mulheres, então nada mais justo e significativo do que fazer uma atividade em que elas estivesse presentes. Elas estão nas feiras, estão nas roças, nos quintais. Então a gente propôs uma atividade que desse visibilidade a estas histórias, a estas trajetórias. Com o diagnóstico queremos revelar qual é o impacto do sistema capitalista e racista que a gente vive na cidade do Rio de Janeiro. A luta é essa, dar visibilidade. Sem feminismo não há agroecologia. Porque a agroecologia, o movimento de agricultura em si, sempre foi muito masculino: o agricultor, o feirante. E a gente está mostrando o outro lado, que tem mulher nesta história, resistindo, lutando e plantando e sobrevivendo nesta cidade do Rio de Janeiro”, diz Saney.

O documento está sendo construído a partir dos eixos Saúde e Segurança Alimentar e Nutricional; Trabalho; Violências; e Economia e Mercados com a metodologia de entrevista estruturada. Participaram do encontro realizado na Fiocruz Mata Atlântica coletivos de mulheres produtoras, agricultores, membros do Consea-Rio e as organizações que compõem a Rede Carioca de Agricultura Urbana. A Semana de Alimentação Carioca aconteceu entre os dias 16 e 20 de outubro de 2017. Promovido pelo Consea-Rio, o evento visa consolidar a relação com a sociedade civil organizada ampliando os debates e compartilhando as demandas acerca da temática de segurança alimentar e nutricional no município do Rio de Janeiro.