Início do conteúdo

25/10/2024

Geneticista destaca resultados promissores em pesquisas da Fiocruz sobre nanismo

Everton Lima (IFF/Fiocruz) e Rayssa Quites (IFF/Fiocruz)


O Dia Nacional de Combate ao Preconceito contra as Pessoas com Nanismo, lembrado nesta sexta-feira (25/10), visa conscientizar a sociedade para relações mais equânimes, oportunidades de trabalho com dignidade e construção de políticas públicas que assegurem a acessibilidade e a autonomia das pessoas que vivem esta realidade. De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, estima-se que, a cada 10 mil brasileiros, 3,2 tenham nanismo.

O nanismo é um transtorno que se caracteriza pela deficiência no crescimento, resultando em uma pessoa com baixa estatura, se comparada com a média da população de mesma idade e sexo. Manifesta-se, principalmente, a partir dos 2 anos, impedindo o crescimento e o desenvolvimento durante a infância e a adolescência. Na entrevista a seguir, o geneticista e coordenador do Centro de Genética Médica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Juan Llerena, aborda o tema e comenta as mais recentes pesquisas.

Em que pesquisas o IFF/Fiocruz trabalha no momento em relação ao tema? Há parcerias com outras instituições?

Juan Llerena: Temos grandes projetos clínicos sendo realizados no IFF/Fiocruz com nanismo. Há a coorte das osteocondrodisplasias, incluindo as doenças relacionadas ao gene FGFR3; as associadas ao gene RMRP (síndrome cartilagem-cabelo); e outras displasias esqueléticas diagnosticadas no Instituto, criando uma coorte de casos novos, em parceria com o Hospital Universitário Pedro Ernesto, a Faculdade de Medicina de Petrópolis e o Hospital Prof. Dr. Juan P. Garrahan, de Buenos Aires. Há também um estudo voltado para osteogênese imperfeita, em parceria com o Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione, no qual o IFF/Fiocruz é um dos centros de referência para osteogênese imperfeita, dedicados a acompanhar e medicar as crianças que enfrentam fraturas patológicas em sua história natural.

Que resultados já podem ser compartilhados?

Juan Llerena: Com relação à osteogênese imperfeita, houve uma inovação tecnológica de transição do protocolo terapêutico para uma medicação antirreabsortiva óssea de terceira geração (ácido zoledrônico). Até o momento, cerca de 70 pacientes iniciaram a transição para o protocolo hospital-dia, reduzindo o tempo de internação para menos de três horas, incluindo 30 minutos de infusão. O protocolo anterior exigia internação das crianças por três dias para aplicação do medicamento fracionado (pamidronato dissódico). O ganho de qualidade de vida aos pacientes e seus familiares foi enorme. Porém, o mais importante foram os resultados relacionados à melhora da densitometria óssea, redução das fraturas, e redução da dor com eventos adversos à nova medicação, considerados leves.

Com relação aos projetos voltados à osteocondrodisplasia, saliento a coorte de pacientes com acondroplasia medicados com uma nova medicação, considerada de precisão, liberando a placa de crescimento da ossificação endocondral, anteriormente inibida pela mutação genética no gene FGFR3. No total, há cerca de 32 pacientes medicados. O princípio ativo da medicação (um natriurético recombinante tipo B) aumenta a velocidade anual de crescimento dos ossos longos. A resposta dos primeiros seis meses mostra um ganho no Z-score da estatura de mais de 01-02 desvios padrões comparados à população de acondroplásicos não-medicados.

O cenário é bastante otimista com relação ao crescimento. Dito isto, o monitoramento a longo prazo da coorte em diferentes faixas etárias produzirá um acervo de informações analisando os efeitos nas mais frequentes complicações descritas: estenose do forame magno; cifose; desproporcionalidade dos segmentos corpóreos; apneia do sono; dor; e qualidade de vida, avaliando acessibilidade, funcionalidade e mobilidade.

Como é realizado o diagnóstico do nanismo e em que momento costuma ser identificado?

Juan Llerena: O diagnóstico de uma displasia esquelética, nome técnico do nanismo, geralmente é suspeitado na ultrassonografia pré-natal a partir das 20 semanas de gravidez. O diagnóstico de certeza poderá ser feito ao nascimento pelo exame do bebê e o estudo radiológico.

Quais são as causas genéticas mais comuns dessa condição?

Juan Llerena: Em ordem de frequência temos acondroplasia, doenças relacionadas ao gene COL2A1 (colagenopatias), osteogênese imperfeita e doenças metafisárias (compromete a metáfise do osso). Hoje, pelo sequenciamento completo do DNA, os genes relacionados ao nanismo são cada vez mais identificados.

Quais as principais diferenças entre os tipos de nanismo?

Juan Llerena: As diferenças podem ser vistas no segmento do osso comprometido: se acarreta uma desproporção dos segmentos corpóreos; se compromete a coluna; se há genes diferentes relacionados; e se o nanismo é letal ou não - cerca de 30% dos nanismos suspeitados pela ultrassonografia gestacional pode ser letal, isto é, não sobrevive, como o nanismo tanatofórico.

O tratamento de reposição do hormônio do crescimento (GH) é indicado para todos os casos de nanismo?

Juan Llerena: O hormônio de crescimento não está indicado para todos os tipos de displasia esquelética. A indicação formal para tratamento com o hormônio de crescimento é a deficiência na produção do hormônio GH. No nanismo, tenta-se estimular o crescimento com GH, mas as respostas são variáveis e muitas vezes não são satisfatórias.

Quais os principais desafios que as pessoas com nanismo enfrentam, tanto do ponto de vista médico quanto social?

Juan Llerena: Do ponto de vista médico, depende do tipo de nanismo. Cada nanismo tem uma história natural da doença, além da baixa estatura. Podem ter problemas gastrointestinais (doença de Hirschsprung); problemas visuais (alta miopia); compressão do canal medular da coluna (acondroplasia); deformidades graves; fraturas patológicas; entre uma série de outras complicações.

Do ponto de vista social, a acessibilidade e mobilidade são os maiores problemas. A sociedade não está preparada para pessoas com muito baixa estatura. Coisas do cotidiano como, subir degraus de ônibus, acessar um caixa eletrônico, falta de banheiros adaptados e de rampas para as formas que precisam de cadeira de rodas, entre outras situações de desajustes da arquitetura.

Voltar ao topo Voltar