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29/05/2023

Fiocruz realiza primeiro estudo de coorte de nascimentos indígenas no Brasil

Tatiane Vargas (Informe Ensp)


Publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas, artigo aborda a construção de padrões de domicílio, água e saneamento, além da posição socioeconômica da população Guarani. Trata-se da primeira investigação em coorte de nascimentos indígenas realizada no Brasil. Coordenado pelo pesquisador do Departamento de Endemias da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) Andrey Moreira Cardoso, o estudo foi desenvolvido em parceria com outros pesquisadores da Fiocruz e de outras instituições nacionais e internacionais. Os resultados do artigo apontam que mais de 60% das crianças observadas estão nos padrões socioeconômicos abaixo da linha de pobreza.

Resultados apontam que mais de 60% das crianças observadas estão nos padrões socioeconômicos abaixo da linha de pobreza (foto: Andrey Moreira Cardoso, Ensp/Fiocruz)

 

Segundo Andrey, apesar da importância dos determinantes sociais da saúde, estudos a respeito dos efeitos das condições socioeconômicas, sanitárias e habitacionais sobre a saúde infantil indígena são escassos em todo o mundo. "Por isso, o objetivo desse estudo foi identificar padrões de habitação, água e saneamento, além da posição socioeconômica, a partir da linha de base da primeira coorte de nascimentos indígenas no Brasil – a Coorte de Nascimentos Guarani. Os dados foram coletados por meio da implantação de um sistema de vigilância local em 63 aldeias da etnia, em cinco estados do Sul e Sudeste do Brasil, entre os anos de 2014 e 2017", explicou o pesquisador.

Os estudos de coorte partem do pressuposto que uma população será acompanhada ao longo de determinado tempo para analisar a incidência de agravos e doenças a fim de buscar uma possível associação causal entre diferentes condições de exposição de risco à saúde e os desfechos de interesse na população estudada.

O estudo transversal na linha de base da coorte de nascimentos de indígenas Guarani usou métodos estatísticos multivariados para reduzir um grande número de variáveis socioeconômicas habituais em estudos epidemiológicos, bem como identificar padrões distintos de acesso a políticas públicas de habitação e saneamento e posição socioeconômica, tendo em vista explorar a associação entre esses padrões e desfechos de saúde.

Resultados

Os resultados do estudo identificaram: três padrões para habitação e para água e saneamento; quatro padrões para posição socioeconômica, resultando em 36 combinações de padrões. “Mais de 62% das crianças investigadas situavam-se nos padrões socioeconômicos abaixo da linha de pobreza. Foram encontradas associações estatisticamente significativas entre domicílios precários e extrema pobreza e hospitalização no primeiro ano de vida”, alertou Cardoso.

Em sua fala, o pesquisador enfatizou que o estudo detectou a distribuição heterogênea das crianças nas 36 combinações de padrões identificados. “Esses achados destacam que, caso as dimensões de habitação, água e saneamento e posição socioeconômica se confirmem como determinantes independentes dos desfechos de saúde em crianças Guarani - conforme observado na questão da hospitalização -, elas devem ser consideradas separadamente em modelos múltiplos, buscando melhorar a estimativa de seus efeitos independentes sobre a saúde infantil. Além disso, o método empregado nesse estudo poderia orientar a investigação a respeito desses determinantes em estudos em outras populações indígenas”, analisou Andrey.

Artigo está disponível em acesso aberto

O artigo How, what, and why: housing, water & sanitation and wealth patterns in a cross-sectional study of the Guarani Birth Cohort, the first Indigenous birth cohort in Brazil, publicado no volume 21, de maio de 2023 da The Lancet Regional Health – Americas, está disponível em acesso aberto e traz um debate sobre as limitações dos indicadores socioeconômicos tradicionalmente utilizados para captar a diversidade socioeconômica em comunidades indígenas e rurais. O estudo é de autoria da pós-doutoranda da Ensp/Fiocruz, Aline Diniz Rodrigues Caldas – supervisionada por Andrey Moreira Cardoso no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública - com participação de pesquisadores do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc); da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); e da London School of Hygiene and Tropical Medicine.

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