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06/08/2006

História, ciências, saúde: Manguinhos Volume 9

por Sarita Coelho


















É cada vez maior o número de profissionais interessados em estudar a história da saúde e da medicina – que aborda a origem e evolução dos problemas de saúde, as mudanças nos processos sanitários e sua interação com os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos. Um exemplo disso é a rede História da Saúde Pública na América Latina e Caribe (Hispalc), que há cinco anos se comunica virtualmente e participa de congressos.


O grupo reuniu os melhores trabalhos apresentados no XXI Congresso Internacional de História da Ciência, realizado na Cidade do México, em 2001, para criar o suplemento Ciência, saúde e poder na América latina e no Caribe, nono volume da série História, ciências, saúde: Manguinhos, publicada pela Casa de Oswaldo Cruz (COC). Os artigos, apresentados em suas línguas originais, compõem um panorama sobre os múltiplos aspectos da saúde na região.


Maria Cristina da Costa Marques nos brinda com a análise das respostas políticas à Aids no Brasil. Segundo ela, a evolução das políticas de saúde em relação ao HIV caracterizou-se por cinco fases diferentes. O período entre meados da década 1970 e 1982 é quando a doença chega ao país; de 1983 a 1986, há um aumento do número de casos e a primeira resposta oficial à Aids por parte do governo de São Paulo. Apesar de reconhecer a doença como um problema de saúde pública, o governo federal não consegue articular uma resposta.


A primeira intervenção do governo ocorre entre 1987 e 1989, quando se criou o Programa Nacional de DST/Aids, ainda sem muita articulação entre os estados. Entre 1990 e 1992, houve um retrocesso na implantação de diretrizes. Arbitrariamente, foi nessa época que a distribuição gratuita da medicação necessária ao portador de HIV e pacientes de Aids foi autorizada pelo governo federal. De 1993 até o momento, os acordos internacionais, principalmente com o Banco Mundial, passaram a ser os grandes mantenedores das ações referentes ao confronto com o HIV/Aids.


O artigo de Sandra Caponi compara o modo como os pesquisadores argentinos a brasileiros construíram seus programas de estudo sobre as doenças tropicais. Segundo ela, a higiene brasileira e argentina eram herdeiras diretas dos programas e princípios pasteurianos. No entanto, os problemas sanitários que não encontravam respostas nessa agenda, foram respondidos com um novo programa de investigação, que integrava a bacteriologia, a parasitologia e a preocupação com os vetores.


A Argentina, por sua vez, preferiu desconsiderar os problemas sanitários típicos de regiões tropicais, que ocorriam nas províncias de Salta, Formosa e Jujuy, e reduziu todos os seus problemas sanitários àqueles que podiam ser pensados no marco da microbiologia, como fazia a Europa.


A relação existente entre a tuberculose e a sociedade de Buenos Aires no início do século 20 é tema analisado por Diego Armus. Segundo o autor, vários artistas, entre poetas, dramaturgos, compositores de tango e escritores, relacionam a enfermidade ao universo feminino. São numerosos os exemplos de obras feitas por homens que contam a história de garotas simples, que vão para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida, passam a trabalhar em cabarés, conhecem todo tipo de homem e acabam tuberculosas e sozinhas.


Ao contrário do que os artistas escreviam, era alta incidência de tuberculose entre os homens. Mesmo assim, o "mito da doença feminina" foi usado até pela imprensa para "manter a mulher no mundo doméstico". Armus argumenta que naquela época havia muitas mulheres trabalhando em fábricas, oficinas e consultórios médicos. Os homens, incomodados com esse progresso, tentam fazer com que parem de deixar suas casas, espalhando o medo em relação à tuberculose.


A obra ainda traz artigos sobre o aparecimento da Aids no Peru, as doenças relacionadas à prostituição na Colômbia e a modernização da medicina em Caracas, entre outros. A seção de imagens mostra um conjunto inédito de fotografias sobre ações e campanhas contra malária no início do século 20 no Brasil.


História, ciências, saúde: Manguinhos é uma publicação quadrimestral. A assinatura anual da revista pode ser adquirida por R$ 40 (valor individual) ou R$ 60 (valor institucional). Para quem está no exterior, os preços são US$ 40 (individual) e US$ 65 (institucional). Há ainda uma versão online da publicação


 



Guardas jogam inseticida em casa no Nordeste



Início de construção sanitária

na década de 40 para

controle da malária

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