18/12/2018
O Instituto Nacional de Saúde da Mulher da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) recebeu, em novembro, a visita de um grupo de 13 parteiras estrangeiras com o objetivo de conhecer de perto o trabalho das áreas de referência na instituição, como o Banco de Leite Humano (BLH-IFF) e a de Atenção à Gestante. Esta foi a primeira viagem organizada para parteiras estrangeiras ao Brasil, respondendo à demanda de enfermeiras obstétricas do Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia interessadas em oportunidades de aprender sobre sua a prática da sua profissão em diferentes contextos. Além do IFF/Fiocruz, o grupo visitou outros hospitais e casas de parto no Rio de Janeiro e em capitais como São Paulo, Manaus e Salvador.
Fiocruz recebeu visita de um grupo de 13 parteiras estrangeiras com o objetivo de conhecer de perto o trabalho das áreas de referência na instituição (foto: IFF/Fiocruz)
A visita foi programada com mais de um ano de antecedência por uma empresa de turismo profissional e educativo londrina. Segundo a sócia da empresa brasileira que possibilitou o intercâmbio com as instituições estrangeiras, Gina Carmo, as ‘midwives’ (parteiras) tinham interesse em entender as causas do alto número de cesarianas no Brasil e leram muito sobre esse tema antes da viagem. “Nós já conhecíamos o trabalho do IFF/Fiocruz e fizemos uma visita em setembro do ano passado para conhecermos pessoalmente. Ficamos tão impressionados que resolvemos adicioná-lo ao itinerário de visitas do grupo e a ideia de incluí-lo foi bem recebida pelas áreas envolvidas do Instituto”, explicou ela.
O diretor do IFF/Fiocruz, Fábio Russomano, foi encarregado de recebê-las com uma apresentação institucional geral sobre a natureza e missão do Instituto. No decorrer da visita, gestores do Banco de Leite Humano e da Atenção à Gestante fizeram um passeio pelas instalações desses locais com o intuito de conversar sobre os serviços oferecidos pelas áreas visitadas.
A gerente do BLH-IFF, Danielle Aparecida Silva, e a responsável pela assistência do setor, Maíra Domingues, acompanharam as parteiras e explicaram o fluxo de trabalho, o alcance internacional da Rede Global de Bancos de Leite Humanos (rBLH) e sua a importância na proteção e promoção do aleitamento materno para a diminuição da mortalidade infantil.
Um dos aspectos que as parteiras comentaram mais as impressionou foi que, por meio de desenvolvimento tecnológico de baixo custo, o BLH pode coletar e distribuir leite humano de qualidade certificada conforme as necessidades específicas de cada bebê. “O trabalho no banco de leite é muito impressionante. Este foi um conceito novo para elas, que, sinceramente, ficaram muito felizes em aprender sobre isso”, comentou Gina Carmo sobre a experiência das parteiras no BLH do IFF/Fiocruz.
“Volto muito impressionada com todo o trabalho no Banco de Leite Humano. O suporte que vocês dão para as mamães para que seus bebês usem apenas o leite mesmo é brilhante. O leite humano é feito para os bebês, tem tudo o que eles precisam”, acrescentou Mary Norton, enfermeira obstétrica do Reino Unido.
Na área de Atenção à Gestante do IFF/Fiocruz, os gestores responsáveis, Luciana Filies e José Paulo Pereira, e a enfermeira obstétrica Adriana Peixoto foram os encarregados de mostrar o trabalho de todas as unidades desse setor: Enfermaria de Gestante, Admissão, Alojamento Conjunto, Centro Cirúrgico Obstétrico e Medicina Fetal.
Aproveitando sua fluidez na língua inglesa, Adriana Peixoto liderou a apresentação durante o passeio por essa área, explicando a natureza do Instituto como hospital de referência para gestações de alto risco fetal e para casos de alto risco materno, como gestantes com zika, HIV ou com outros diagnósticos de especial atenção.
“Elas ficaram um pouco surpresas com nossos índices de bebês malformados, mas expliquei que nós somos referência para malformações congênitas, bem como para problemas de correção cirúrgica. Aqui, investimos nesses bebês, por isso somos diferentes da realidade de seus países de origem. Lá não costumam investir no alto risco, eles interrompem a gestação.
Aqui só se interrompe uma gestação quando existe uma autorização judicial”, disse Adriana. Ela também justificou às parteiras a taxa elevada de cesáreas no IFF/Fiocruz, em torno a 50%, devido ao fato de que muitos hospitais que têm atendimento pré-natal encaminham gestantes de risco para o Instituto quando os bebês não têm condições de nascer por parto vaginal.
Dos métodos de trabalho da área de Atenção à Gestante que interessou muito às enfermeiras estrangeiras foi o uso de tecnologias não farmacológicas em atendimentos de partos vaginais, pois tanto no Reino Unido como na Austrália também trabalham com elas. São tecnologias não invasivas utilizadas para alívio da dor e relaxamento: massagens na região onde as gestantes referem mais aflição, aromaterapia - uso de essências em alguns momentos da fase expulsiva do trabalho de parto -, auriculoterapia e oferecimento de posições que facilitam um melhor parto às pacientes, entre outras, explicadas pela enfermeira especialista nesses métodos Viviane Mendes Araújo.
Para Cathy Warwick, líder do grupo de visitantes e coordenadora-executiva do Royal College of Midwives, do Reino Unido, “o mais surpreendente foi o apoio dado às mães para que tenham um parto normal humanizado. Foi muito interessante, fiquei impressionada com o interesse do Instituto em acrescentar essas práticas. É muito enriquecedor, com certeza vou voltar para meu país e falar sobre o jeito que, no Brasil, cuidam o parto cesariano e o parto normal”, ressaltou. Na opinião de Gina Carmo, a partir do sucesso dessa visita, no futuro, mais profissionais estrangeiros de diferentes setores da saúde vão se interessar em aprofundar seus conhecimentos sobre o trabalho de outras áreas da atenção desenvolvidas no IFF/Fiocruz.