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16/04/2020

Inquérito avalia percepção popular de informações sobre Covid-19

CEE/Fiocruz


Usuários de mídias sociais têm elevado conhecimento sobre a Covid-19, e a difusão massiva de informação por esses canais e por autoridades sanitárias supera a propagação de fake news e a narrativa de negação do risco da pandemia no país. Por outro lado, temem não conseguir atendimento, seja na rede pública, seja na rede privada, caso fiquem doentes. Esses são alguns dos resultados do inquérito realizado pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE/Fiocruz), que buscou identificar a percepção da população atuante nas mídias sociais sobre as medidas de enfrentamento à pandemia da Covid-19 no país.

Intitulado As Medidas de Enfrentamento à Pandemia da Covid-19 no Brasil na Percepção da População Atuante nas Mídias Sociais, o inquérito foi realizado por meio de questionário online, apropriado a dispositivos móveis, compartilhado nas redes sociais, no dia 7 de abril de 2020, obtendo como retorno de 147.447 respondentes. “As pessoas se organizam em redes de afinidade, nas quais compartilham interesses e opiniões com outras, mesmo não sendo necessariamente conhecidas. Dessa forma, formadores dessas redes acabam por ser também formadores de opinião”, explicam os autores Nilson do Rosário Costa, Alessandro Jatobá e Hugo Bellas, da Fiocruz, e Paulo Victor Rodrigues de Carvalho, da UFRJ. “As redes sociais tornam-se fonte dados de baixo custo e rápido retorno, na medida em que reúnem diferentes indivíduos e suas conexões em um espaço em que estes se expressam de maneira livre e autônoma”, observam, ainda.  

Participaram respondentes de todos os níveis de escolaridade, prevalecendo os de nível superior (82%). Na medida em que a distribuição se inicia a partir das redes sociais de respondentes localizados no Rio de Janeiro, a participação concentrou-se majoritariamente nesta região (36%). Houve, de qualquer forma, alta frequência de respondentes em todos os estados da federação, o que permite, segundo os autores, a extrapolação dos aspectos analisados para as demais regiões. 

O questionário aplicado reuniu dois grupos de perguntas: um destinado a caracterizar o perfil do participante e outro contendo assertivas a respeito de ações de combate à pandemia da Covid-19, com duas opções de resposta – concordo e discordo. 

Principais resultados

Afirmações polêmicas e fake news 

Com relação a afirmações polêmicas e fake news relativas ao isolamento social, 99% das respostas assinalaram discordância da afirmativa de que o “novo coronavírus causa doença nos ricos, não atingindo a população pobre”; 94% discordaram da frase “não tenho medo de pegar a doença, é só uma gripe”; e 94% discordaram da afirmativa “não sei como me prevenir contra a pandemia da Covid-19”. 

Os resultados apontam que a maioria dos respondentes tem clareza de que a doença pode atingir a população de forma indiscriminada, não preservando qualquer segmento da população. Da mesma forma, nove em cada dez respondentes têm noção da gravidade da doença, não a interpretando como apenas uma gripe comum, e têm as informações necessárias para adotar as medidas para à prevenção da doença. 

Diretrizes de isolamento social

A aderência às diretrizes do isolamento social e às informações científicas e oficiais mostrou-se também elevada: 92% discordam da ideia de volta às atividades, aceitando como normais às mortes causadas pela pandemia; 88% discordam da opção de desobediência ao social, mesmo que amigos e familiares aceitem e aprovem; 92% indicam só confiar na opinião dos profissionais e das autoridades de saúde sobre a epidemia da Covid-19.

Mais de nove em cada dez respondentes mostram não aceitar o retorno às atividades normais e saber que a consequência pode ser a morte de pessoas idosas. Nove em cada dez apontaram completa confiança nas informações de fontes profissionais e autoridades da área de saúde, indicando que a influência das fake news e do negacionismo sobre a classe média brasileira ainda é residual quando o tema é a pandemia. Como analisam os autores, a alta rejeição a informações negacionistas observada enfraquece a tese de que a mídia social é espaço unidirecional de disseminação de mentiras e ruídos pela incapacidade dos atores tradicionais (Estado, especialistas e mídia tradicional) de controlar o fluxo das informações para leigos. 

Seguridade, emprego e renda

Do ponto de vista da seguridade social, os resultados mostram situação de insegurança social surpreendente, destacam os autores, expressando o impacto causado pela crise no mercado de trabalho, pela baixa cobertura do sistema de proteção social e pela fragmentação do sistema de saúde que caracterizam o cenário atual do país. Nesse sentido, consideram compreensível que um quarto dos respondentes informe ter medo de perder o emprego na situação de isolamento social e 28% assinalem que e precisarão de ajuda dos programas de renda básica governamentais neste momento.

A expectativa dos respondentes em relação às medidas de transferência de renda mostrou-se o dobro entre os que informam condição de desemprego (40% do total), contra 20% que informaram ter vínculo empregatício no momento do estudo. 

Chama atenção também que, embora 76% dos respondentes tenham informado possuir plano de saúde, somente 27% acreditam que conseguirão atendimento de forma fácil, caso venham a apresentar os sintomas da Covid-19. Já entre os respondentes dependentes do SUS que informam expectativa de difícil acesso a assistência médica a proporção é de oito em cada dez informantes. 

A condição de insegurança em relação ao acesso à assistência médico-hospitalar mostrou-se muito alta, tanto na população que depende do Sistema Único de Saúde quanto na população com planos privados de assistência à saúde. Essa percepção de insegurança indica que o acesso ao atendimento médico-hospitalar e o impacto da pandemia associados são os pontos mais críticos da condução do isolamento social no país. 

Mais informações:
Comunicação Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz
21 99952-3513 (Eliane Bardanachvili)
21 97280-1979 (Andréa Vilhena)

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