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17/12/2019

Fiocruz inaugura exposição de vestígios arqueológicos

COC/Fiocruz


A Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) inaugurou, nesta segunda-feira (16/12), a exposição dos vestígios arqueológicos da chaminé do Complexo de Incineração de Lixo em Manguinhos. O evento ocorreu no Centro de Documentação e História da Ciência (CDHS), no campus da Fiocruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro, localizado na mesma área onde os vestígios do século 19 foram encontrados. Além das fundações da chaminé, o público poderá conferir mais de 30 peças selecionadas, testemunhas das sucessivas ocupações do sítio.

Partes de artefatos encontrados no sítio arqueológico (foto: Jeferson Mendonça, COC/Fiocruz)

 

“O complexo de fornos de incineração de lixo em Manguinhos foi a primeira construção brasileira desse tipo e estava voltada para solucionar o grave problema do lixo urbano do fim do século 19”, explica a arquiteta Inês El-Jaick Andrade, da COC/Fiocruz, responsável pela pesquisa histórica do complexo de incineração e uma das coordenadoras da exposição.

Durante escavações arqueológicas realizadas para a construção do CDHS, entre 2013 e 2017, diversos artefatos foram encontrados, incluindo fragmentos de vasilhas em vidro, garrafas, pratos, ossos e vidraria de laboratório. Esse material está sob a guarda do Laboratório de Antropologia Biológica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e uma parte foi cedida para a exposição. Também integram a exposição objetos que estão sob a guarda da Reserva Técnica do Museu da Vida e ilustram o rico patrimônio institucional de vidraria laboratorial, tais como seringas de injeção em vidro, frasco de medicação de ampola de injeção e pipetas usadas em laboratório para sucção de materiais líquidos.

A análise do material cerâmico (louças), zooarqueológico e vítreo encontrado permite compreender os hábitos alimentares e a sazonalidade comportamental da época, levantando questões sobre práticas cotidianas e padrões de consumo, afirma a consultora de arqueologia da exposição, segundo a consultora de arqueologia Jackeline Macedo. “O estudo da cultura material permite conhecer aspectos cotidianos de nossos antepassados, tensões sociais, de resistência, de desigualdade e uma variedade de situações sociais vividas”, acrescenta a arqueóloga.

Além das peças, que datam do período entre o fim do século 19 e o início do século 20, a exposição inclui imagens que retratam as escavações no sítio arqueológico de Manguinhos, realizadas em 2013 por ocasião da construção do edifício do CDHS.

Sítio arqueológico de Manguinhos

São dos arqueólogos do Museu Nacional os primeiros estudos que identificaram, ainda na década de 1960, o alto potencial arqueológico do sítio arqueológico de Manguinhos. Pesquisas mais recentes se concentraram no sítio da chaminé do complexo de incineração, incluindo a pesquisa conduzida pela arqueóloga Guadalupe Campos em 2013, que explorou os vestígios, bem como o monitoramento coordenado pelo arqueólogo Giovani Scaramella em 2015, que identificou grupo de artefatos deformados por queima em alta temperatura.

Entre as curiosidades resultantes das escavações de 2015, há fragmentos de faiança fina – um tipo de cerâmica branca – da fábrica Société Céramique, fundada em 1851 como Maastricht Wijck, na Holanda. Também foram encontrados fragmentos de cerâmicas, em especial fundos de xícaras da marca inglesa Clementson Bros, fundada em 1865, que se dedicou a produzir utensílios domésticos até 1919.

Produção de conhecimento e divulgação científica

As atividades relacionadas à produção de conhecimento e à divulgação científica no campo arqueológico são importantes para a tomada de consciência por parte da população sobre o real valor da arqueologia, isto é, auxiliar na reflexão sobre o presente, avalia a arquiteta Inês El-Jaick Andrade.

“A musealização dos vestígios da chaminé justifica-se por sua relação com o território, com a história da saúde e das ciências, além de explorar os aspectos relacionados com a responsabilidade social do descarte e destinação do lixo urbano”, afirma. “O patrimônio já não pode ser apenas apresentado, mas precisa ser reconhecido. Esperamos que a exposição contribua para refletirmos juntos sobre o nosso presente.”

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