20/10/2022
Agência Fiocruz de Notícias (AFN)
Estudo realizado por pesquisadores da Fiocruz e da Universidade Estácio aponta excesso de 19% nos óbitos em 2020, primeiro ano da pandemia e Covid-19 no país. O grupo de doenças infecciosas e parasitárias foi o que mais se destacou entre as causas definidas. A análise teve como objetivo estimar o excesso de mortalidade no Brasil e estados nesse período, assumindo que foi diferente para cada grupo de causas de morte.
A pesquisa mostra ainda, por outro lado, que há grupos que apresentaram número de óbitos abaixo do esperado. Caso das doenças do aparelho respiratório (10% abaixo do esperado) e causas externas (4% abaixo do esperado). Isso possivelmente ocorreu devido à melhora do rastreamento clínico e ao distanciamento físico no início da pandemia, respectivamente.
Além da análise global para o país, a pesquisa identificou grande heterogeneidade entre as unidades da federação. Os estados com maiores razão de mortalidade padronizada (SMR) estão concentrados na região norte. Já os que possuem menores SMR estão concentrados nas regiões sul e sudeste. Verificaram-se maior excesso de mortalidade em Roraima e menor no Rio Grande do Sul.
O excesso de óbito para esse período no Brasil foi de, aproximadamente, 190 mil e incluiu mortes associadas direta (devido à doença) ou indiretamente (devido ao impacto da pandemia nos sistemas de saúde e na sociedade) à Covid-19. O impacto total da pandemia foi, dessa forma, possivelmente maior do que o indicado pelas mortes relatadas apenas devido ao vírus Sars-CoV-2.
“Algumas causas de morte têm relação com a desassistência provocada pela reorganização da rede assistencial, outras com a mudança nos padrões de interação social na população. Esse diagnóstico é importante porque indica a necessidade de os sistemas locais de saúde serem mais resilientes, para que possam sustentar serviços essenciais de saúde durante crises, incluindo sistemas de informação de saúde mais consistentes”, destacou o pesquisador da Fiocruz Raphael Guimarães.
O estudo destaca ainda um grande excesso de mortalidade por causas mal definidas. "Isso tem relação direta com a dificuldade na oportunidade de preenchimento das declarações de óbito e é possível que boa parte destas tenha relação direta com a Covid-19", pontuou o autor principal do artigo.
Metodologia
O número de óbitos esperado foi estimado considerando análise de tendência linear com o número de mortes entre os anos de 2015 e 2019. "Para cada grupo de causas e cada unidade da federação, calculamos as razões de mortalidade padronizadas, assim como os intervalos com 95% de confiança para cada SMR", explicou o cientista.
A pesquisa calculou a taxa de mortalidade para os seguintes grupos de causa de morte: doenças infecciosas e parasitárias, neoplasias, causas endócrinas, transtornos mentais, doenças cardiovasculares, doenças do aparelho respiratório, doenças do trato geniturinário, mortes na gravidez, parto e puerpério, causas externas e causas mal definidas, além da mortalidade geral. Os dados foram coletados em maio de 2022, ou seja, já na versão final dos microdados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) disponibilizados após correção realizada pelo Ministério da Saúde.