04/07/2013
O que é a doença?
A pneumonia é uma doença inflamatória aguda causada por micro-organismos (vírus, bactérias ou fungos) ou pela inalação de produtos tóxicos que comprometem os espaços aéreos dos pulmões. Quando a contaminação ocorre fora do ambiente hospitalar, ela é chamada “pneumonia comunitária”. Quando a pneumonia acomete pessoas hospitalizadas ou que estiveram hospitalizadas por dois ou mais dias nos três meses precedentes, ela é chamada “pneumonia hospitalar”, que costuma ser mais grave, já que o agente etiológico provavelmente é resistente aos antibióticos usuais. A gravidade da pneumonia depende, principalmente, da patogenicidade do agente causador e das condições clínicas do doente. Dois exemplos da doença que costumam ser graves são: a pneumonia por aspiração e a pneumonia química. A primeira é comum em pacientes com nível de consciência reduzido, o que compromete o reflexo da tosse ou a capacidade de engolir a própria saliva, o que acarreta na aspiração de secreções da cavidade oral, expondo os pulmões a uma quantidade de micro-organismos maior que a habitual, o que pode levar ao desenvolvimento da doença. Também é comum em pessoas em coma ou pré-coma alcoólico. A pneumonia química é decorrente da inalação de fumaça em altas temperaturas, o que geralmente ocorre durante incêndios. Os gases tóxicos e outras partículas na fumaça aspirada agem diretamente sobre as células que constituem o revestimento pulmonar, ocasionando um processo inflamatório. Saiba mais sobre a pneumonia química.
Agentes causadores
Os principais agentes causadores da enfermidade são as bactérias Streptococcus pneumoniae (também conhecida como pneumococo), Mycoplasma pneumoniae e Haemophilus influenzae. A doença também pode ser desencadeada por alguns tipos de fungos e de protozoários. A pneumonia pode ser adquirida pelo ar, saliva, secreções, transfusão de sangue ou mudanças bruscas de temperatura, que comprometem o funcionamento dos cílios responsáveis pela filtragem do ar aspirado, o que acarreta em uma maior exposição aos micro-organismos causadores.
Sintomas / Tratamento / Diagnóstico
Os sintomas mais comuns são tosse com secreções (pode haver sangue misturado), febre alta (que pode chegar a 40°C), calafrios e falta de ar ou dor torácica durante a respiração. O diagnóstico é feito basicamente a partir do histórico do paciente, de exames clínicos e de raios-x do tórax. Outros exames complementares podem ser necessários para identificar o agente causador da doença. O tratamento depende do micro-organismo causador da enfermidade. Quando não é tratada, a pneumonia pode evoluir para um quadro mais grave, podendo levar a morte do paciente. Nos casos de pneumonias causadas por bactérias, os antibióticos são os medicamentos mais indicados. A penicilina já foi a droga mais difundida no tratamento das chamadas pneumonias comunitárias, mas a resistência das bactérias ao medicamento tem demandado a adição de novos antibióticos para complementar as terapias já utilizadas. Atualmente, para o combate no tratamento dessas pneumonias, que comprometem pessoas previamente saudáveis, recomenda-se o uso de macrolídeos (amoxacilina, azitromicina ou claritromicina). A resistência dos pneumococos a antimicrobianos é um grave e crescente problema em todo o mundo por comprometer a eficácia terapêutica, o que aumenta a importância da prevenção da doença via vacinação.
Prevenção
As principais formas de prevenção da doença são recomendações simples, como lavar as mãos, não fumar e evitar aglomerações. Atualmente, existem vacinas disponíveis para a pneumonia pneumocócica, que, mesmo não sendo capazes de prevenir todos os casos de pneumonia, podem evitar as formas mais graves. Segundo o Ministério da Saúde (MS), vacinação contra a gripe (vírus influenza A ou H1N1) pode reduzir entre 32% a 45% o número de hospitalizações por pneumonias e de 39% a 75% a mortalidade global pela doença. Com base em estudos epidemiológicos e na observação do comportamento das infecções respiratórias que têm como principal agente o vírus da gripe, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que alguns grupos mais suscetíveis ao agravamento de doenças respiratórias sejam vacinados, como as gestantes, mulheres com até 45 dias após o parto, crianças de seis meses a um ano, profissionais da saúde, doentes crônicos, pessoas privadas de liberdade e com 60 anos ou mais. No que se trata dos idosos, a vacinação contra a gripe pode reduzir o risco de pneumonia em aproximadamente 60%, e o risco global de hospitalização e morte em cerca de 50% a 68%, respectivamente. Em 2013, na 15° Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe, foram vacinados mais de 5,5 milhões de pessoas nesses grupos prioritários.
Panorama geral da doença no Brasil
Em 2012, no Dia Mundial contra a Pneumonia (12/11), a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou que a doença é a que mais mata crianças menores de cinco anos, sendo a estimativa de 1,2 milhão em todo o mundo, mais do que os óbitos provocados pela Aids, malária e tuberculose reunidas. Desses óbitos por pneumonia, mais de 99% seriam registrados em países em desenvolvimento como o Brasil, o que faz com que a OMS tenha reforçado o pedido a esses governos de dar prioridade à prevenção e ao combate e à doença. De acordo com a organização, a pneumonia é um dos problemas com maior possibilidade de solução no cenário da saúde global.
Além disso, dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (MS) apontam que, apenas em 2010, ocorreram mais de 208 mil internações no Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência da pneumonia e aproximadamente 43 mil idosos morreram devido à enfermidade. Devido aos números alarmantes, o reforço na vacinação da terceira idade tem sido uma meta prioritária do MS. Em 2013, na 15° Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe, foram vacinadas mais de 5,5 milhões de pessoas.
O papel da Fiocruz
O estudo Saúde Brasil 2010, realizado pelo Ministério da Saúde, indicou que as vacinas contra o vírus influenza A (H1N1), causador da gripe, e a anti-pneumocócica reduzem significativamente as internações devido à pneumonia. No mesmo ano, a vacina pneumocócica conjugada foi introduzida no Calendário Básico de Imunização Infantil (voltado para menores de dois anos). A vacina pneumocócica era produzida pelo laboratório GlaxoSmithKline (GSK), mas desde 2010, o governo federal assinou um acordo de transferência de tecnologia com a multinacional, que permite ao Brasil produzir o imunizante em questão. O Instituto de Tecnológico em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) da Fiocruz ficou, então, responsável pela produção da vacina pediátrica para a bactéria pneumococo, imunizante que protege contra a pneumonia bacterêmica, a meningite bacteriana e a otite média aguda. A Fiocruz produz uma média de 13 milhões de doses/ano da vacina, que inclui os sorotipos de pneumococo 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F, 23F, contemplando os mais prevalentes no país, o que a torna plenamente adequada à realidade epidemiológica brasileira. A cobertura para dez sorotipos é uma importante vantagem da vacina em relação a outros imunizantes para pneumococo atualmente disponíveis no mercado. Licenciada em diversos países, a vacina foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Comissão Europeia de Medicamentos e apresenta compatibilidade na aplicação simultânea com outras vacinas – ou seja, poderá ser aplicada concomitantemente a outros imunizantes previstos no calendário de imunizações do MS.
No que se refere ao diagnóstico da enfermidade, o Instituto Oswaldo Cruz realiza exames laboratoriais a partir de solicitações diretas de órgãos de saúde, servindo como centro de referência para o diagnóstico durante situações especiais, como ocorreu em 2003, quando houve uma preocupação do Ministério da Saúde de que os casos de pneumonia referentes a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), com diversos casos registrados na Ásia e na Europa, viessem a acontecer no Brasil. Com relação ao atendimento clínico, a partir do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) e do Instituto Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (IFF), a Fiocruz está também preparada para a atenção clínica necessária aos pacientes com a enfermidade encaminhados pelas secretarias municipais ou estaduais de saúde e por postos de saúde.
Texto revisado pela pesquisadora:
Hisbello da Silva Campos, pneumologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz)
Fontes: