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31/07/2017

Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano expande atuação

AFN e IFF/Fiocruz


Saúde e solidariedade são os palavras-chave que movem a maior e mais complexa rede de cooperação internacional político-estratégica para a redução da mortalidade infantil. Fundamentado no simples gesto da doação de leite materno, o banco de leite humano (BLH), sediado no atual Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), foi criado em 1985 por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz. Nos últimos 22 anos, o trabalho de pesquisa e desenvolvimento tecnológico realizado no IFF fez com que a unidade se tornasse um centro de referência nacional, possibilitando que o projeto se expandisse para todos os estados. Resultado de uma ação integrada entre a Fiocruz e o Ministério da Saúde, hoje a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-Br) é composta por 221 BLHs e 188 postos de coletas no país. Mas a iniciativa não para aí: a experiência brasileira também se tornou um modelo de referência mundial, servindo como base para a criação de um Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humano (IberBLH).

Em 2016, foram 183 mil litros de leite pasteurizado de qualidade certificada, envolvendo a participação de quase 170 mil mulheres (foto: Peter Ilicciev)

 

“O banco de leite humano surgiu como uma estratégia de qualificação da assistência neonatal em termos de segurança alimentar e nutricional, com foco em ações que ajudam a reduzir a morbimortalidade infantil em instituições hospitalares. O trabalho é voltado para um seguimento muito específico: crianças que demandam cuidados especiais em unidades de terapia semiintensiva e intensiva, ou seja, bebês que nasceram prematuros, com baixo peso, crianças que pelas mais variadas razões precisam de uma atenção especializada”, esclareceu o coordenador da rBLHBr e da IberBLH, João Aprígio. “Além disso, a iniciativa também inclui uma forte política de apoio à amamentação: toda e qualquer mulher que tenha problemas ou dificuldades para amamentar pode procurar apoio nos bancos de leite humano”.

Em 2016, a rBLH-Br beneficiou cerca de 166 mil recém-nascidos internados em unidades de tratamento intensivo e semi-intensivo do país. Foram 183 mil litros de leite pasteurizado de qualidade certificada, envolvendo a participação de quase 172 mil mulheres que, de forma altruísta e voluntária, doaram leite para os BLH no Brasil. Todo o leite coletado passa por etapas de análise imunológicas e microbiológicas. Contudo, o trabalho nos bancos de leite humano não se restringe a pesquisa básica, mas une esforços no que se trata da aplicação clínica ou da vida cotidiana dos pacientes. 

“No IFF, logo percebemos que não adiantava focar só na questão do leite, era preciso uma intervenção mais direta, observando o aleitamento em um contexto mais ampliado de saúde pública: a saúde da criança começa com a saúde da mulher”, explicou Aprígio. “Passamos, assim, a colocar como condição obrigatória para o funcionamento das unidades a atenção à mãe. É sempre preciso criar uma estrutura de amparo: quando a criança for para casa, ela precisará mamar no peito e, se é criado um suporte para a mãe antes mesmo disso, na maior parte dos casos, isso se torna possível”.

O modelo brasileiro

Na Fiocruz, desde o início, o trabalho de pesquisa no banco de leite humano foi pautado no investimento em tecnologia moderada e de baixo custo, mas sensíveis o suficiente para assegurar um padrão de qualidade reconhecido internacionalmente. “Em um movimento quase natural começamos a juntar pesquisa acadêmica e serviço e o IFF se tornou um espaço de desenvolvimento de soluções voltadas para o melhor auxílio ao campo da atenção neonatal no Sistema Único de Saúde”, comentou Aprígio. “O exemplo mais emblemático que temos de uma dessas soluções tecnológicas de baixo custo são os frascos para o condicionamento de leite. Em 1985, os fracos utilizados eram feitos de silicone por dentro e tinham que ser importados, o que gerava um custo muito alto. Quando começamos a procurar alternativas para esse uso, descobrimos que frascos recicláveis de maionese ou café solúvel não apresentavam diferenças significativas em termos imunológicos ou microbiológicos. Isso possibilitou uma redução de custos de cerca de 85%”.

“Foi por ser considerada estratégica e ter recebido investimentos que a rBLH-Br pôde se desenvolver ao ponto de ser considerada um paradigma internacional”, observa Aprígio (foto: Vinicius Marinho, Icict/Fiocruz)

 

Aprígio esclarece que, no que se trata de melhorias relativas ao controle de qualidade na coleta, no processamento e na distribuição do leite humano, o investimento tem sido grande. Nos congressos realizados pela rBLHBr, são inúmeros os trabalhos voltados para suprir necessidades encontradas no Sistema Único de Saúde (SUS), também ligadas à proteção, promoção e apoio ao aleitamento. “Com o tempo, em cada localidade que conta com um banco de leite humano, aprendemos a lidar com as particularidades e com as políticas regionais, adaptando o modelo dentro de um plano nacional de qualidade. Agora, nossa maior preocupação na consolidação da rede tem relação com a qualidade da assistência prestada e com a certificação dos bancos”, afirma o coordenador.

Para ele, todo esse crescimento nacional só se tornou possível devido ao apoio do Ministério da Saúde, que adotou a amamentação como estratégia de segurança alimentar e investiu em pesquisa e desenvolvimento tecnológico na área. “Foi por ser considerada estratégica e ter recebido investimentos que a rBLH-Br pôde se desenvolver ao ponto de ser considerada um paradigma internacional”, observa Aprígio. 

Na Fiocruz

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